Mais da metade do país é de não-leitores. Para estimular o hábito, a Semana Senac de Leitura traz oficinas, feira de livros e Itamar Vieira Junior, autor de Torto Arado

Por Gustavo Vieira

10ª edição da Semana Senac de Leitura – Foto: Gustavo Vieira

O Brasil não lê. É o que mostra o censo realizado pelo Instituto Pró-Livro (IPL), na pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, divulgada em novembro de 2024. Entre abril e junho do ano passado, o Instituto ouviu 5.504 pessoas em 208 municípios. 53% dos entrevistados não leram ao menos uma parte de uma obra nos três meses anteriores à pesquisa.

Em meio à falta de leitores, o Senac realizou, entre os dias 22 e 26 de abril, a 10ª edição da Semana Senac de Leitura, evento gratuito que traz atrações artísticas, oficinas e feira de troca de livros à comunidade. Em Bauru, o Senac trouxe o escritor Itamar Vieira Junior, autor de Torto Arado, para um bate-papo sobre o tema da edição deste ano: “Cultura e Convivência: biblioteca além dos livros”. 

Erick Cabreira, bibliotecário do Senac Bauru, explica que a Semana Senac de Leitura teve início em 2004 e surgiu como uma feira de troca de livros. Com a evolução do projeto, foram incrementadas atividades culturais para chamar a atenção do público à literatura. Segundo Erick, “o evento é um incentivo à leitura, que no Brasil, é defasada. Temos poucos leitores. Tentamos mudar minimamente esse cenário”. 

O bibliotecário expõe que há carência de espaços de leitura no país. Ao ver esta dificuldade, o Senac busca promover uma biblioteca aberta, viva, que conecte as pessoas através dos livros, conta. “Acreditamos no poder da educação. Buscamos nos aproximar do público através de interação cultural, de convivência, como um espaço de troca”, afirma Erick.

O Brasil perdeu quase 7 milhões de leitores em comparação com o último censo realizado pelo IPL, em 2019. 53% dos entrevistados não leram ao menos uma parte de uma obra. 73% não leram um livro inteiro. “É um dado assustador”, diz Gabrieli Damada, professora e doutora em Linguística e Língua Portuguesa pela Unesp (Universidade Estadual Paulista). “O Brasil está na contramão dos avanços em relação a países mais desenvolvidos”, aponta.

Ainda segundo o levantamento do IPL, entre os leitores de 11 a 13 anos, não houve queda no percentual de leitura. Em contrapartida, entre as faixas etárias de 14 a 17 e 18 a 24 anos, percebe-se quedas consideráveis. Para Gabrieli Damada, é preocupante a condição de acesso aos livros nas escolas, uma vez que essa dificuldade pode desestimular potenciais leitores.


Apenas 31% das escolas públicas brasileiras possuem uma biblioteca integrada à sua estrutura, o que torna o acesso a livros dentro das instituições de ensino um obstáculo, diz a professora. A pesquisa do IPL também aponta que apenas 19% da população vê a escola como ambiente de leitura.

“Faltam políticas públicas que incentivem o contato com o livro. A desigualdade social no Brasil é muito grande, pessoas em vulnerabilidade social muitas vezes só têm acesso à livros na instituição escolar, que muitas vezes não é contemplada com uma biblioteca”, afirma Gabrieli.

A Semana Senac de Leitura é uma das iniciativas que busca atender à importância da leitura como prática essencial à sociedade. Como enfatiza a professora Damada, “quando a gente não lê, a gente não pensa, não reflete. A pessoa que não lê, é manipulável, é controlada, e perde a liberdade, que é nosso direito básico; A liberdade de ser, de pensar, de ser ouvido”, conclui. 

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