O presidente estadunidense vai na contramão da globalização e amplia as políticas de defesa do mercado interno

Medidas de Donald Trump provocaram guerra tarifária entre EUA e China
Por João Christensen
As novas tarifas impostas pelo governo dos Estados Unidos desde o início de abril marcam o retorno de uma agenda protecionista na maior economia do mundo. As medidas, que afetam principalmente produtos chineses, europeus e latino-americanos, acendem um alerta sobre os rumos da globalização e reacendem a tensão entre EUA e China.
Em entrevista ao Jornal Contexto, a economista e professora da Unifesp Claudia Tessari argumenta que a política tarifária americana, apesar de atingir o mundo todo, afeta principalmente os próprios EUA.
“O que se observa no curto prazo é uma incerteza muito grande na economia, a desvalorização do dólar, a queda no PIB estadunidense, e uma incerteza também nos países que exportam para eles. Mas o país agora, no curtíssimo prazo, que está sendo mais afetado são os próprios Estados Unidos”, explica.
Apesar dos efeitos negativos no curto prazo, uma parcela minoritária dos economistas acredita que a medida pode beneficiar a economia norte-americana. Uma das análises divulgadas pela Casa Branca ressalta que as taxas podem ser utilizadas para incentivar a indústria nacional por meio do aumento de produção e dos consumos locais – embora a maioria dos especialistas enxerguem o contrário.
Sobre a relação entre China e EUA, Tessari comenta que “os Estados Unidos representam aproximadamente 15% das exportações chinesas. Não é pouco, é bastante. A economia chinesa é muito exportadora. Então, 15% de um grande volume de exportação é bastante, o que acaba gerando um grande impacto. Mas o que ela vai fazer é tentar conseguir outros mercados, outros parceiros comerciais”.
A economista alega também que essa tensão entre as duas potências pode ser benéfica para o Brasil, tendo alguns setores e empresas favorecidas. A Embraer, por exemplo, vê na Ásia e especialmente na China, segundo maior mercado de aviação atrás apenas dos Estados Unidos, um mercado com grande potencial a ser explorado. A fabricante brasileira terminou o primeiro trimestre de 2025 com uma receita de R$ 6,4 bilhões, a melhor desde 2016, segundo dados divulgados pela companhia.
O pacote tarifário anunciado por Trump é visto como parte de uma estratégia para reposicionar os EUA como potência auto suficiente, mas especialistas alertam que as consequências podem ser recessivas, com impactos no crescimento global, no comércio multilateral e na confiança entre os países.
Claudia Tessari avalia que “os Estados Unidos não são mais capazes de produzir competitivamente, a não ser alguns produtos, mas automóveis, bens de consumo em geral, bens de consumo não duráveis, calçados, roupas, tudo que a gente consome, eles não têm competitividade, porque a mão de obra não é barata e eles não possuem fornecedores de insumos e matérias primas, que estão todos em outros países”.
Ela explica ainda que “as tarifas não irão causar uma reversão no sentido de transformar a economia norte-americana industrializada novamente. Então, se ele acha que vai retomar o papel econômico que os Estados Unidos já teve no cenário global com essas medidas, não vai”.
