Popularização das plataformas e fácil acesso impulsionam crescimento da dependência entre jovens


Por Ana Julia de Souza

Desde 2018, as apostas esportivas online têm ganhado destaque no Brasil. A lei 13.756/18, mais conhecida como Lei das Apostas, foi sancionada com o objetivo de regular o mercado e dar liberdade para os jogos, tornando-os mais acessíveis à prática. Entre os jovens, que são os mais atraídos e vulneráveis, somam 55% em relação às diversas plataformas disponíveis e suas respectivas formas de divulgação e atração.

Ao abrir um site, assistir um jogo de futebol, comprar uma camiseta do seu time, ver um vídeo no YouTube ou abrir as redes sociais de influenciadores, lá estão as BETS (apostas esportivas online), atraindo diversas pessoas com promessas, letras e cores chamativas. Uma pesquisa realizada pelo Datafolha aponta que 15% dos brasileiros já tentaram a sorte nos sites de apostas, e ainda 30% sendo jovens de 16 a 24 anos.

Por trás desses dados, há uma profunda psicologia que explica os fatores que levam esses jovens a apostarem, e em alguns casos desenvolverem a dependência. A psicóloga Joseane Sousa Nascimento dos Santos explica que as apostas começam de forma gradual, como uma brincadeira entre amigos “do tipo meu time vai ganhar do seu”.

Porém, por ainda serem jovens, seu córtex pré-frontal, que controla principalmente os impulsos e as tomada de decisões, ainda não está formado, amadurecendo por volta dos 25 anos. Assim, os jogos online estimulam o cérebro ainda em formação, com cores fortes, vibrantes e sons viciantes, contando também com mensagens em letras grandes e garrafadas para estimular o jogador a continuar a aposta.

“O momento em que as apostas se tornam um risco à saúde mental vai depender de cada um, ou seja depende da pessoa. Quando passa de uma diversão entre amigos e vira um hábito diário para aliviar estresse, ansiedade ou depressão, trazendo prejuízo financeiro, afeta relacionamentos quando a pessoa se isola para jogar e não cumpre suas responsabilidades começa a faltar no serviço, pega dinheiro emprestado e a falta de higiene pessoal”, declara Joseane.

As plataformas de apostas esportivas têm presença constante no cenário do futebol brasileiro. Sejam como patrocinadores nas camisetas, nas áreas de publicidade ao redor dos campos ou nos anúncios nos intervalos das transmissões, eles estão por toda parte. Durante os intervalos dos jogos, é comum que essas plataformas exibam QR codes na tela, facilitando o acesso direto dos apostadores aos sites de apostas com apenas um clique. A psicóloga destaca que “hoje qualquer pessoa tem um cassino em suas mãos. Somos atacados a todo momento com spams mostrando ganhos fáceis e “pouco investimento””.

Nos sete primeiros meses de 2024, 25 milhões de pessoas passaram a fazer apostas, uma média de 3,5 milhões por mês. 45% dos jogadores admitem que as apostas esportivas já causaram prejuízos financeiros, 37% usaram dinheiro destinado a outras necessidades importantes e 30% tiveram prejuízos nas relações pessoais, de acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto Locomotiva em agosto de 2024.

Além dos prejuízos financeiros, a Joseane explica que o apostador pode se isolar (relacionamentos acabam, largam o emprego), e com o cansaço, aumenta a depressão e a ansiedade. “Devido às dívidas a pessoa sente-se culpada, desesperada e começa a ter pensamentos suicidas. Ela se sente fracassada e tem a certeza que o suicídio é a unica solução”, explica ela.

O tratamento, como indicado para outras dependências, deve variar entre terapias individuais e em grupo. Em alguns casos pode haver a indicação de medicamentos controlados, para ansiedade e depressão associados ao hábito. Participar de grupos de apoio, como o JA (Jogadores Anônimos) pode também ajudar o dependente a compartilhar e ouvir experiências semelhantes a sua.

Por fim, a psicóloga diz ainda que em algumas situações pode ser difícil abandonar os velhos hábitos, o dependente acredita que pode parar a qualquer momento. “Ele tem que ter ciência que precisa de ajuda, que o tratamento é apenas 50% os outros 50% é dele querer sair dessa dependência”.

A psicóloga Joseane Sousa Nascimento dos Santos. Foto: Redes Sociais

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