Cantores e instrumentistas ganham a vida em meio à agitação das grandes metrópoles
Por Beatriz Custódio

O músico e professor de canto Eric Bragatti, que se apresenta no metrô de São Paulo. Foto: Redes sociais
Em transportes públicos das grandes cidades, é muito comum encontrar vendedores ambulantes. Mas nos vagões do metrô de São Paulo, os usuários se deparam também com músicos e cantores, que ganham a vida expressando sua arte e encantando passageiros de toda a cidade.
Como um escape da vida agitada da metrópole, a música emociona os trabalhadores que, dia após dia, vivem no “automático” e acabam por esquecer de enxergar a beleza dos momentos simples do cotidiano.
“Eu já recebi senhoras onde elas choraram, e eu fui perguntar se estava tudo bem, e elas: ‘é que sua voz me tocou de uma maneira, você tem a voz muito bonita”, disse Eric Bragatti, professor de canto e música, em entrevista ao Contexto.
Entretanto, a realidade não é tão encantadora, muitos desses artistas começaram a se apresentar no metrô por não receberem outras oportunidades de trabalho. “Eu estou tentando desde que eu me formei, inclusive um pouco antes de eu me formar eu já tentava aulas de artes no Estado, porém eu não conseguia”.
Eric é formado em Artes com especialização em música e nunca trabalhou como professor fixo. “Eu vou, eles me pagam por hora a aula e eu trabalho dessa forma. Inclusive, antes mesmo dessa escola eu já tinha dado aula em uma outra escola que era da mesma forma. Então, eu sempre trabalho como um profissional liberal, eu não registro”.
O principal motivo para a escassez de vagas para profissionais dessa área é a pouca valorização dos artistas. Bragatti afirma que estamos vivendo uma “crise na arte”, motivada pelos cortes de verbas e falta de investimento público na cultura. A nova Lei Orçamentária, aprovada pelo Congresso no último dia 20 de Abril, cortou 84% da verba destinada à cultura no país. Uma das afetadas foi a Lei Aldir Blanc de incentivo aos pequenos artistas, grupos e produtores, ela previa 3 bilhões de reais anuais investidos no setor, porém contará com apenas 478 milhões de reais no ano de 2025.
“As pessoas simplesmente não compreendem que investir em cultura dá retorno para a sociedade muito maior que indústria ou outras áreas em que o Estado investe pesado”, disse Ulisses Galetto, pesquisador de políticas públicas de cultura, em entrevista ao Brasil de Fato Paraná.
Sua fala contraria o pensamento popular de que arte não dá dinheiro. Na verdade, países que estão entre as melhores economias do mundo, como Estados Unidos e França, entendem a importância de valorizar a cultura e destinam grande parte de seus recursos a essa finalidade. Ulisses afirma ainda que ao investir na arte “estamos investindo no que somos, além do aspecto financeiro”.
Em adição às dificuldades financeiras, os músicos, principalmente de rua, ainda se tornam vulneráveis às violências físicas e virtuais. O Observatório de Censura à Arte reuniu no Dossiê Arte, Diversidade e Liberdade de Expressão (publicado em 2021) relatos de ataques sofridos por artistas de todo o Brasil. Os depoimentos variam desde apreensão de objetos de trabalho e violência policial até o descaso do poder público nos âmbitos administrativos e burocráticos.
Mesmo em meio a tantos desafios enfrentados, o propósito de impactar vidas através da música continua a mover esses artistas, seja nas salas de aula, nos estúdios e ou no metrô, o objetivo é o mesmo, levar aos dias estressantes um pouco do alívio que só a arte é capaz de provocar.
“A música salva, a música transforma, a música resgata, é a mensagem que eu passo para todas as pessoas, invista ali no que você gosta, seja música, seja dança, seja teatro. A arte, ela é o contraponto do ser humano, ela é o contraponto para o equilíbrio do ser humano”, conclui Eric.
