“Dia da libertação americana’ e políticas de reciprocidade ‘chacoalham’ economia mundial. Entenda suas nuances e possíveis consequências para os cidadãos
Por Júlia Santiago
Na quarta-feira, 2 de abril, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou que iria taxar produtos provenientes do exterior. Países, como o Brasil, aprovaram medidas como forma de ‘contra-atacar’ o governo americano, resultando em uma próxima guerra comercial.
Em seus discursos, o governo americano deixou explícito seu desejo de sobretaxar produtos internacionais, como forma de prevenir a economia local de países desenvolvidos. O objetivo primário de Trump com o Brasil é sobrepor uma tarifa de 10% nas mercadorias.
Para o Professor de Economia da UNESP (Universidade Paulista), Elton Casagrande, o estilo de Trump deve pender para as relações comerciais bilaterais e à preferência para exportação e importação. Por ser uma potência em amplas esferas, a imposição de restrições e tarifas promove, então, a necessidade do “reposicionamento dos países”.
Casagrande acrescenta que “a economia dos Estados Unidos se ressente também de uma produtividade e de um avanço tecnológico talvez menor do que de outras economias e isso produz diferenças em termos de preço. Nada como o protecionismo ou imposto tarifário para impedir a entrada de produtos estrangeiros e assim promover supostamente a melhor atividade econômica.”

Foto: LinkedIn pessoal
Comércio Brasil-EUA
Na quarta-feira, 2 de abril, a PL 2.088/2023, nomeada como Lei da Reciprocidade Econômica, tramitou pela Câmara dos deputados, sendo aprovada com unanimidade.
Encabeçada pelo Senador Zequinha Marinho, do PL (Partido Liberal), o projeto de lei, sancionado pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na sexta-feira (11/04), busca defender a competitividade do comércio internacional brasileiro de países e/ou blocos econômicos que impuserem barreiras comerciais em produtos para a exportação.
A ementa apresentada entrou em vigor a partir da sanção presidencial e foi publicada como Lei 15.122/2025.
A postura adotada pelo governo republicano norte-americano interfere na performasse exportadora de produtos brasileiros. Além da taxa de 10% sobre mercadorias, foi estabelecida uma sobretaxa em 25% sob o aço e o ferro. O comércio brasileiro é o terceiro maior exportador de tais metais para os EUA.
Em um levantamento de dados feito pela Amcham (Câmera Americana de Comércio para o Brasil), em 2024 a exportação de mercadorias brasileiras para os Estados Unidos cresceu 9,2%, chegando a 40,3 bilhões de dólares, um marco histórico entre ambas as relações. Os mandantes nesses números são produtos como o petróleo e a carne bovina. Além disso, o país também é o destino da maior parte dos produtos industriais do Brasil.
Para o professor de Economia da UNESP, o mês de março foi muito significativo no âmbito de exportação global do Brasil. Depois de uma série de 327 meses, o Brasil produziu o maior volume de exportações nesse espaço de tempo. Após um início de ano iniciado com déficit e seguido pelo pequeno superávit no mês de fevereiro, março e abril vieram para atenuar o débito do Brasil com o resto do mundo.
Escalada do conflito
No episódio tarifário promovido pela Casa Branca, foi divulgado a taxação inicial de 10% sob a China. Entretanto, como o governo chinês retaliou a ação americana, implementando tarifas recíprocas, as tarifas sobre o país asiático aumentaram para 145%. Já os produtos americanos estão com taxas recíprocas, promovidas pela China, em torno de 125%.
A estabilidade econômica brasileira também é dependente da economia chinesa. A China se consagra como a maior parceria exportadora do Brasil desde o ano de 2009. Em dados divulgados pela Comex Stat as exportações para tal país atingiram R$94,3 bilhões no ano de 2024.
A divergência entre a relação EUA-China e a escalada da segunda “guerra fria”, impactam o mercado internacional, uma vez que ambas são as atuais maiores potências mundiais. Na perspectiva de Elton Casagrande, se o país chinês acaba por vender em menor quantidade do que o habitual seus produtos para os Estados Unidos, eles devem direcionar suas produções de bens e serviços, e seus excedentes para o resto do mundo. Assim, haveria um choque com as relações comerciais do Brasil, impactando a exportação nacional.
“Significa que a produtividade da economia chinesa, a capacidade de trabalho e todas as questões pertinentes às relações de chão de fábrica são superiores à do Brasil, que está estagnada, parada, com insegurança jurídica, econômica, financeira etc. Logo, o Brasil pode perder, sim, mercados e aí afetar a nossa capacidade de gerar empregos internamente”, disse Casagrande.
O professor pontua que se espera que as relações diplomáticas entres os países supracitados medeiem os conflitos e evitem o ápice de confrontos comerciais.
