Nova tendência que transforma imagens em desenhos inspirados nos traços dos filmes traz discussões acerca do uso da Inteligência Artificial na arte. Por: Sofia Menezes

Durante as últimas semanas de março, imagens geradas por Inteligência Artificial – baseadas nas obras do estúdio de filmes Studio Ghibli – tornaram-se recorrentes nos feeds das redes sociais. Junto delas, o debate acerca da ética no uso da IA na arte também surgiu, questionando qual é o limite entre arte e arte feita por um software da internet, além de demonstrar a insatisfação de artistas com a popularização dessa prática.

De filmes como A Viagem de Chihiro e Castelo Animado, o Studio Ghibli se concretizou como criador de animações inovadoras para o cenário da época, recebendo prêmios que garantiram reconhecimento mundial acerca de suas obras.

Fundado em 1985, o estúdio de animação japonês ainda demonstra forte influência no audiovisual: em 2024, ganhou o Oscar de Melhor Animação em longa metragem com O Menino e a Garça. Agora, em 2025, o debate sobre o uso do traço característico do estúdio em imagens geradas por IA trouxe visibilidade para o tema e questionamentos sobre a utilização desses recursos na arte, especialmente quando feito de maneira terceirizada e não autorizada.

Cena do filme A Viagem de Chihiro. Foto: Divulgação

A popularização da prática nos últimos anos

Inicialmente, é preciso analisar a razão que levou à rápida normalização do uso da IA para a criação de desenhos e imagens nos últimos anos. O que antes era considerado resultado de grande esforço e tempo gasto tornou-se um produto, algo criado com apenas alguns cliques no celular.

“A gente quer tudo na hora. Se eu quero aprender alguma coisa, eu quero aprender de hoje pra amanhã. Não quero ter que dedicar meu tempo a isso”, declara a estudante de Design da UNESP Sofia Araújo, em relação ao uso crescente de plataformas como ChatGPT e OpenAI para a geração de imagens instantâneas, com a justificativa de praticidade e necessidade do público.

Outro questionamento importante acerca do tema se baseia na diferenciação entre a arte feita por um ser humano e a arte gerada por uma plataforma de Inteligência Artificial. “A arte humana é uma arte pensada. Você coloca toda a sua dedicação e seu amor por ela ali. E eu acho que a IA não tem nada disso – até porque quem faz é um robô”, compartilha a estudante.

Tal pensamento é defendido por milhares artistas que dedicam sua vida à arte, como um dos fundadores do Studio Ghibli, Hayao Miyazaki, que, muito antes da febre do ChatGPT, já argumentava ser contra o uso da Inteligência Artificial em suas obras.  Ainda que sem o consentimento do artista, aplicativos que criam imagens instantâneas continuam utilizando da mão de obra terceirizada e não licenciada em suas artes, agravando problemas nos meios acadêmico e profissional relacionados à arte.

O impacto da IA no meio profissional e acadêmico

Além da questão ética que cerca o uso da IA na arte, vale ressaltar o impacto dessa prática na vida acadêmica e profissional daqueles que estão inseridos nessa área, que inclui artistas independentes, estudantes e até donos de estúdios de animação.

“No Design, a gente tem muito problema com plágio, porque muitas imagens que a gente pega, precisa dar os créditos. A IA parece um ciclo: estou criando essa imagem para fugir do plágio, por exemplo. Mas esse desenho vem de um banco de dados que já existe, que a gente colocou para ela (Inteligência Artificial) criar. Foram criadas e fotografadas por pessoas”, conclui Sofia em relação à essa prática no seu âmbito de estudo.

Ou seja, ainda que muitos defendam a criação de imagens por softwares como algo rápido, prático e sem burocracia, aquilo que foi gerado possui o traço ou a ideia de alguém. Todo banco de dados fornecido para uma Inteligência Artificial foi, obrigatoriamente, criado primeiro por uma pessoa. Dessa forma, artistas e outros profissionais da área questionam se existe uma forma de reverter essa situação, ainda que a popularidade no uso da IA na geração de imagens venha crescendo exponencialmente todos os dias.

“Acho que uma das alternativas seria educar as pessoas, em como a IA impacta na vida dos artistas e no meio ambiente também. A arte é um processo, e mesmo que você queira algo imediato – e a IA te entregue isso – vão ter consequências”, alerta a estudante.

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