Textos Perdidos No Meu Bloco De Notas é o primeiro livro de Alex Iarossi, aluno do primeiro ano de Jornalismo
Por Danielle Ribeiro
“Pois, sim, existem os olhos simples e os olhos de quem deseja. Nos olhos simples vemos pupilas, pálpebras e cílios. Já nos olhos de quem deseja, é possível enxergar a vida. É possível enxergar o nascer de múltiplas possibilidades”. Alex Iarossi, “A carta”, p. 63.
Escrever sempre foi seu hobby e publicar sempre foi seu sonho. Alex Iarossi concretizou seu primeiro projeto literário em meio a uma nova vida universitária.
O lançamento oficial foi no último dia 24 de março, quando o livro se encontrava em pré-venda nos sites da Uiclap e Amazon. O evento presencial foi realizado em 28 de março, no auditório da biblioteca da Unesp e contou com a presença de alunos e amigos.
Alex Iarossi tem 18 anos, nasceu em Araçatuba e se mudou para Penápolis, onde passou a maior parte de sua vida. Escreve desde os 15 anos e sempre foi muito apaixonado em criar personagens, cenários e enredos fictícios, ou, nem tão fictícios assim. Começou seu projeto há quatro anos atrás, em 2021, e finalizou quando tinha 18 anos.
No dia 28 de março aconteceu o primeiro evento de divulgação do livro, feito em parceria com a biblioteca da Unesp. O lançamento contou também com uma roda de conversa, que aconteceu no auditório da biblioteca, com direito àquele famoso coffee break no final. O autor teve apoio e incentivo de uma grande rede comunitária, que se estendeu desde familiares a novos colegas.
Histórias
“A arte salva vidas e a arte está presente em tudo”, comentou Alex durante sua palestra. Em entrevista, o escritor contou um pouco sobre suas inspirações para os 27 contos e crônicas do livro.
Segundo ele, são histórias a partir de sua própria vivência até acontecimentos da sociedade ao seu redor. A proposta é trazer um lado mais objetivo e direto sobre as relações sociais, além de abordá-las de forma mais fantasiosa para o público, mas sem deixar de passar sua mensagem.
“O livro está publicado em ordem cronológica. Então, conforme você avança os contos, percebe, além da evolução na minha escrita e na forma de escrever, a evolução da minha maturidade conforme o passar do tempo. O processo de produção foi bem assim, cada conto variava do meu humor, conforme a minha maturidade e como eu me sentia na época. Tanto que o nome do livro é Textos Perdidos no Meu Bloco de Notas, justamente para passar essa impressão de estar perdido, tanto o autor, quanto o próprio livro estão meio bagunçados e perdidos”, ele detalha.
Alex também contou um pouco sobre os desafios de se tornar um escritor brasileiro independente. “É um pouco complicado, nós temos que lidar com as questões legais do livro, como, por exemplo, a diagramação, o design da capa e o layout do livro. Então, acho que o maior desafio é esse, ter que registrar o livro na Biblioteca Nacional para ter o ISBN (International Standard Book Number ou Padrão Internacional de Numeração de Livro) e ter que cadastrar os direitos autorais para não ter plágio”.
Ele ainda explica como foi difícil lançar o livro devido à falta de verba e, sobre como foi a produção e a pós-produção referente a toda parte técnica do trabalho. Alex teve que aprender funções de edição do zero para que ele mesmo pudesse finalizar a obra. “Acho que o maior desafio é esse. Você tem que lidar com tudo. Coisas que você nunca imaginou que você teria que lidar na sua vida”.
“Achei muito legal e inovador, não é sempre que vemos alguém tão jovem produzindo algo assim, um livro que vai muito além de só palavras bonitas. Nos faz refletir sobre tudo. Achei extremamente importante para toda a comunidade universitária, ver que pessoas tão jovens são capazes de produzir coisas maravilhosas. Adorei a forma como ele dialogou e apresentou, ele leva jeito para isso”, apontou Alice Burégio, 19 anos.
Durante a roda de conversa na biblioteca, o escritor comentou sobre o seu conto favorito, “O Homem e o dinheiro”. Na entrevista, ele também contou um pouco mais sobre esse conto, seus personagens favoritos e suas identificações.
“Sobre o meu segundo conto, é realmente o meu favorito, eu gosto muito desse conto, porque acho que a forma dele ser narrada é muito objetiva. Porque, eu não descrevo o homem e não dou um nome para ele, eu só digo que é um rapaz e a história se desenvolve a partir disso. Eu não gosto de fazer isso no meu livro, sabe? De descrever personagens, descrever cenários, etc. Eu gosto de deixar para o leitor pensar”, ele comenta.
“E sobre personagens que eu mais me identifico, tem um conto no livro chamado ‘A baleia e a água viva’, acredito que é o favorito das pessoas. Muitos quando leem gostam muito desse conto e se identificam com ele. É uma história de dois seres marinhos, que viram amigos no fundo do mar, porém a água viva acaba ferindo a baleia constantemente, através dos seus toques que causam queimaduras, isso deixa ela cada vez mais cansada, machucada e ferida. E no final do conto, elas têm que dar esse afastamento e sumir da vida uma da outra para que elas conseguiam viver em paz, mesmo sendo muito doloroso, porque elas gostavam muito uma da outra. Então, é uma história que eu me identifico muito”, citou Alex.
O autor também relata a admiração que ele tem em relação a como o conto traz o relacionamento da baleia e da água viva e a forma como os personagens lidam com a situação.
“Eu gostei bastante desse conto, porque eu acho que fala muito sobre amizades e não somente amizades, mas relações em si. Às vezes vocês podem não dar certo e estão predestinados a não dar certo, mesmo que se amem e se gostem”, disse Giulia Morais, 19 anos.
Na opinião de Alice, “nesse texto é muito comum alguém se identificar, ele afeta você no seu íntimo, eu me identifiquei com ele. Isso que diferencia o Alex, ele, por ser jovem, viveu muitas situações que muitos outros jovens também viveram e isso traz uma identificação por parte do leitor. Foi assim que eu me senti, achei este conto profundo, triste e real. Capaz de trazer uma identificação por muitos outros jovens”.

Foto: Reprodução.
Alex fala também sobre outros personagens que aparecem ao longo do livro. “Um personagem muito bem construído e muito bem trabalhado está no último conto, que se chama ‘O paciente que conversava com plantas’. Basicamente, é uma história com dois personagens, uma psicoterapeuta e um paciente que acredita estar conversando com plantas, ambos os personagens são muito bem trabalhados e gostei muito da maneira que esses personagens foram elaborados. Os diálogos entre eles são muito bem pensados, tem frases inclusive que eu amo muito nesse conto, em que ele [o paciente] compara as pessoas com plantas, descrevendo tanto características físicas, quanto emocionais de cada pessoa. Então, eu acho que esses são os meus personagens favoritos do livro, porque acho que o relacionamento deles é uma coisa muito linda e muito bem construída no livro”.
Para Kauã Koel, “o livro do Alex traz todo o processo de amadurecimento sentimental e profissional dele como escritor. Considero-o um menino que usou uma folha de papel como escudo e uma caneta como espada para enfrentar o mundo”.
Próximos passos de uma carreira promissora
Ao ser questionado sobre futuras publicações, não houve desvios ou enrolações. Muito empolgado, ele comentou sobre seus planos e rascunhos para um segundo livro.
“Tenho planos. Eu falo que um escritor, um artista, ele nunca para de trabalhar, mesmo nas horas vagas, ele está ali trabalhando ou pensando em trabalho. Já tenho planos para um segundo livro e ando trabalhando, em breve teremos mais detalhes. E para esse segundo livro, estou pensando em algo diferente desse primeiro, que é uma coletânea de histórias. Eu não queria trabalhar mais com isso, entende? Eu queria fazer ‘uma coisa só’, sabe? Uma obra só, uma história mais longa. A ideia de vir publicar esse primeiro livro foi porque eu não consegui desenvolver a história, por mais que eu tentasse acrescentar, eu não conseguia, porque a história estava ali. O que eu escrevi já era. Nesse [livro] que eu estou trabalhando agora, estou conseguindo desenvolver bem, acho que é uma ideia que ‘vai pra frente’, quem sabe, logo, logo teremos publicação do segundo livro”, revelou o jovem.
O estudante também contou sua perspectiva com muita emoção sobre toda a divulgação e o acolhimento que ele está recebendo nessa etapa tão importante da vida e da carreira.
“Eu estou muito feliz com essa publicação e divulgação aqui na Unesp. Eu não imaginava nunca na minha vida que lançaria um livro no auditório da biblioteca da Unesp. Não é uma coisa que se passa pela cabeça de ninguém, assim, para lançar um livro. Então, estar chegando esse ano e estar recebendo todo esse carinho e ajuda, tanto da equipe da Unesp, da biblioteca, quanto dos meus colegas de turma e professores, nessa divulgação e publicação em si, é incrível”, afirmou.
“É extremamente importante que a gente venha a valorizar e reconhecer os autores e os talentos que adentram na Unesp. Acredito que ter participado desse dia de autógrafos e conversa com o escritor é dar espaço para que vozes reais possam ser ouvidas e conhecendo a história de vida do autor é deixar que ele e outros estudantes vindos de escolas públicas ocupem um espaço que por muito tempo lhes foi negado. Para além disso, é mostrar que a universidade ultrapassa a visão acadêmica, que também é importante, mas, que ela pode e deve explorar outras áreas, como, o campo literário, disse Giulia Morais.
“Acho o Alex muito corajoso e brilhante. Ele definitivamente tem um talento para isso. Ele é uma inspiração para o curso de jornalismo”, relatou Maria Clara Rabelo, 20 anos.
Para Giulia Morais, é possível dizer que a literatura de Alex tem influência da escritora Conceição Evaristo. “Eu acho que o Alex tem uma coisa muito bonita aqui, a Conceição Evaristo vai falar sobre uma perspectiva, mas eu acho que agora também cabe dizer que ele usou um pouco disso nos textos dele, como ela fala que existe uma escrevivência, que é um tipo de escrita que vem por meio da vivência, né? Talvez algumas das histórias ele pode não ter vivenciado, mas ele foi um contador de outras histórias ou de outras pessoas”, explicou.
Apesar da iniciativa recente, Alex já está traçando caminho no mercado editorial brasileiro e durante a entrevista aconselhou escritores, assim tão jovens quanto ele.
“Eu poderia dar uma dica clássica, que todo escritor fala, leia muito, estude muito, mas assim, se você realmente quer publicar um livro, você precisa ter muita força de vontade, porque você vai enfrentar coisas muito burocráticas que envolvem a publicação de um livro. Então tem que estar muito bem-preparado e ter muita força de vontade, porque se você não estiver muito a fim de publicar, você vai acabar desistindo no meio do caminho”, afirma o autor.
Alex claramente fala sobre seu livro e toda sua conquista com um brilho no olhar, o brilho de um jovem próspero, como ele define uma de suas personagens no conto “A carta”: uma jovem de olhos de quem deseja. Só quem realmente já viveu sabe o que é isso, e artistas, bom, tem essa energia fluindo pelas veias.
“É muito gratificante ver que a minha arte, uma coisa que eu não imaginava ser tão valorizada, conquistando esse espaço que está conquistando hoje”. Alex Iarossi.
Textos Perdidos no Meu Bloco de Notas
Alex Iarossi
Preço: R$ 37,90
Editora Uiclap
