Para especialista, essas relações costumam começar de maneira perfeita mas, com o tempo, os primeiros sinais de alerta aparecem
Por Beatriz Lourenço dos Reis

Controle, ciúme excessivo, manipulação emocional, medo e culpa. Esses são alguns dos sinais que podem indicar que uma relação deixou de ser saudável e passou a ser destrutiva. Mas será que é possível perceber isso enquanto ainda estamos envolvidos emocionalmente?

“A maioria das pessoas não percebe que está em um relacionamento tóxico até que a situação se torne insustentável”, afirma o psicólogo Otavio Grandinetti, que trabalha com relacionamentos. Segundo ele, essas relações costumam começar de maneira aparentemente perfeita. Com o tempo, no entanto, os primeiros sinais de alerta aparecem, muitas vezes de forma sutil.

O especialista explica que um relacionamento se torna tóxico quando os limites pessoais são ultrapassados com frequência. “Pode ocorrer por ciúmes, manipulações, cobranças exageradas ou invasões psicológicas e sexuais. Trata-se de um processo de adoecimento da relação”, destaca.

Comportamentos de controle, como o medo de expressar opiniões, críticas constantes e tentativas de invadir a privacidade — como insistir em mexer no celular do parceiro — são comuns nesses casos. “Quando você sente que está sempre pisando em ovos, que não pode ser quem é, ou teme conversar com seu parceiro, é preciso atenção”, alerta.

Embora os termos “relacionamento tóxico” e “relacionamento abusivo” sejam frequentemente usados como sinônimos, há diferenças importantes. De acordo com Otavio, o relacionamento tóxico envolve a ultrapassagem de limites sem, necessariamente, haver a intenção de ferir.

Já no abusivo, há uma clara dinâmica de dominação, em que uma das partes se aproveita da vulnerabilidade do outro para obter vantagens emocionais, sexuais, financeiras ou de poder.

As consequências desse tipo de vínculo são profundas. Entre os efeitos mais comuns estão a baixa autoestima, a sensação constante de inadequação, o medo da solidão e uma percepção distorcida de si mesmo. Esses sintomas podem evoluir para quadros mais graves, como ansiedade e depressão, que não tratados podem levar até tratativas piores.

Apesar do sofrimento, muitas pessoas permanecem presas a essas relações. Segundo o especialista, isso se deve a fatores emocionais e psicológicos complexos. “Relacionamentos tóxicos não se revelam logo no início. São construídos ao longo do tempo, entre promessas de amor e esperanças de mudança, o que gera confusão emocional”, explica. Pessoas com autoestima fragilizada, histórico de rejeição ou transtornos como o borderline, por exemplo, têm maior propensão a se envolver e permanecer nesse tipo de relação.

Para romper com esse ciclo, o primeiro passo é reconhecer o problema. Buscar apoio em amigos de confiança, grupos de apoio ou ajuda profissional é essencial. “A terapia ajuda a reconstruir a autoestima e entender os padrões emocionais que levaram àquela relação”, orienta o psicólogo.

Em uma era em que o amor é constantemente idealizado nas redes sociais, lembrar que amar também significa respeitar pode ser o primeiro passo para se libertar de relações que, em vez de cuidar, machucam.

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