Ferramentas como ChatGPT, Grammarly e Perplexity se tornaram presença constante na rotina dos estudantes
Por Andrés Herrera
O uso da inteligência artificial (IA) no ambiente universitário já não é mais uma previsão distante: é uma realidade consolidada. Nos cursos de Jornalismo das diferentes universidades no Brasil e em todo o mundo, ferramentas como ChatGPT, Grammarly e Perplexity tornaram-se presença constante nas rotinas dos estudantes, transformando não apenas a forma como se escreve, mas também como se pensa e se aprende. A Universidade Estadual Paulista em Bauru (Unesp) não é exceção.
Segundo o professor Juliano Mauricio de Carvalho, que ministra a disciplina “Jornalismo, Tecnologia e Conhecimento”, o ChatGPT se destaca como a ferramenta mais utilizada pelos alunos. Sua popularidade se deve à gratuidade, à acessibilidade e ao fato de ter sido a primeira IA generativa a se massificar. “O uso vai desde a formulação de ideias até a simulação de entrevistas”, explica o docente.
Contudo, o ChatGPT não está sozinho nesse cenário. Outras ferramentas, como o Grammarly — voltado à correção estilística — e o Perplexity — que alia busca e síntese informacional — também têm sido exploradas por estudantes. A IA já se integra a plataformas populares, como o Gmail, e até às redes sociais, por meio de sistemas como o LLaMA (da Meta) e o Grok, vinculado à plataforma X (antigo Twitter). Modelos asiáticos, como o DeepSeek, também demonstram o caráter global e acelerado dessa transformação.
Na prática, os impactos da IA na produção jornalística e acadêmica são amplos. Ferramentas generativas vêm sendo usadas para criar imagens, roteiros, organizar fontes e estruturar conteúdos.
“Na academia, a IA já auxilia na construção de referenciais teóricos e simulação de hipóteses exploratórias. No jornalismo, contribui para a apuração de dados, análise de tendências e produção de narrativas multimodais”, afirma Juliano.
Esses avanços, no entanto, trazem dilemas. Questões como o viés algorítmico, a verificação de fontes e a ética da autoria tornam-se cada vez mais centrais. A velocidade e a praticidade oferecidas pelas IAs não substituem, necessariamente, a necessidade de reflexão crítica.
“A profissão de jornalista exige sensibilidade, empatia e compromisso com a verdade — dimensões que não podem ser totalmente automatizadas”, pondera o professor.
No ambiente docente, a recepção ao uso da IA ainda é diversa. Há professores mais entusiastas e outros mais cautelosos, mas há um consenso emergente: é preciso repensar a pedagogia à luz dessa nova realidade.
“A introdução da IA na formação dos jornalistas é irreversível. Não se trata de rejeitá-la, mas de integrá-la com criticidade, garantindo que ela reforce os pilares do jornalismo, e não os substitua”, observa.
A discussão sobre os limites éticos do uso da IA já chegou às universidades. A Unesp aprovou recentemente uma resolução institucional com princípios e diretrizes sobre a apropriação das tecnologias de IA pela comunidade acadêmica. O documento se apoia na LGPD, nas recomendações da Unesco e no Código de Ética da própria universidade, e estabelece fundamentos como a transparência, a autonomia docente e a centralidade da decisão humana.
No campo do jornalismo especificamente, ainda não há um código de ética próprio para o uso da IA, mas o professor acredita que isso deve surgir em breve. “As unidades estão sendo incentivadas a desenvolver normativas específicas com base na resolução geral da universidade”, afirma.
Quando se olha para o futuro, uma pergunta inevitável surge: a IA pode substituir jornalistas? A resposta, para Juliano, é clara: “diversas funções repetitivas podem ser automatizadas, mas o papel social do jornalista é inegociável. Toda inteligência artificial deve ser supervisionada por inteligência humana”.
Assim, a IA se apresenta não como uma ameaça, mas como um espelho das transformações em curso. Cabe à universidade — e à formação jornalística — garantir que esse espelho reflita um jornalismo cada vez mais crítico, ético e humano.
