Iniciado em 1921 com a criação do Partido Nacional Fascista na Itália, o Fascismo continua presente na realidade atual em meio ao mundo globalizado e digital
Por Ingridy Cupido
No dia 20 de janeiro, durante comício do presidente Donald Trump, o bilionário Elon Musk realizou um gesto que foi interpretado pelo público como uma possível saudação nazista. Após o acontecimento, grupos extremistas organizados em redes sociais elogiaram o ato e fomentaram a disseminação da ideologia fascista. Após anos de luta antifascista, como estes indivíduos encontram meios para sua organização e proliferação de suas ideias?
Segundo o doutorando em Sociologia pela FFLCH-USP e membro do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (CEBRAP), Bruno Costa, a luta antifascista teve êxito após 1990, porém vem enfraquecendo.
“A luta antifascista, especialmente pós-década de 90, teve sucesso e de fato conseguiu varrer ideologias e discursos fascistas da esfera pública, e impedir que alguém montasse um partido abertamente nazista”. Em contrapartida, Bruno Costa diz que a ideologia encontra caminhos por suas raízes. “Só que não resolve, essa luta antifascista falhou em controlar algumas das raízes estruturais de um Fascismo”.
Especificando as raízes estruturais do fenômeno, o doutorando entende como presentes atualmente a desigualdade e os discursos xenofóbicos. A partir da década de 80, em países onde observou-se grande enriquecimento, a distribuição de renda piorou. Deste modo, ocorreu a precarização da qualidade dos empregos e da mão de obra que, aliados à globalização, geraram terreno fértil para preconceitos após o aumento dos fluxos imigratórios.
A inversão dos diretos humanos e, mais especificamente, da liberdade de expressão também são fatores. Segundo Bruno, “o Fascismo tem novas técnicas, novas táticas. Primeiro, ele aprendeu a usar o discurso da liberdade de expressão e dos direitos humanos a favor dele, o que é algo completamente inédito”.
O papel das redes sociais na disseminação do Fascismo
Quando perguntado sobre o papel das redes sociais na ascensão do Fascismo em 2025, Bruno Costa diz que a rede social funciona como um ambiente de convergência. “Por exemplo, todo mundo sempre tem um familiar intolerante. Mas essa pessoa não tinha condições de se organizar politicamente. Era muito difícil, até porque, graças à luta antifascista, não podia ter na TV uma pessoa propagando essas intolerâncias. Com as redes sociais existe agora um novo caminho, em que as pessoas conseguem se encontrar e aprender a serem intolerantes também”.
O doutorando aprofunda a ideia sobre a organização de indivíduos intolerantes em grupos e sua proliferação. “Você consegue amplificar a sua intolerância, porque você encontra pares, você encontra novos problemas sociais, novas justificativas fascistas e novas soluções fascistas para esses problemas sociais. Então, ao mesmo tempo, essa rede aglutina, permite que essas pessoas se encontrem. Elas já estavam aqui, mas também produz novas pessoas intolerantes, novas intolerâncias, porque temos esse momento de efervescência cultural de produção desses discursos”.
Em meio ao terreno fértil das redes sociais, grupos extremistas utilizam de meios tecnológicos para fomentar seus discursos. Por meio da dissimulação da realidade, criam os Deep Fakes – vídeos e fotos alterados e condicionados a sustentar a ideia escolhida – que são compartilhados entre usuários da internet.
Combate ao Fascismo e seus principais agentes
Por fim, a solução apresentada é a regulação da propagação do discurso de ódio por parte das redes sociais e poderes judiciários. Empresas como a Meta apresentaram enfraquecimento em suas políticas de regulação nos últimos anos, porém países como o Brasil acirraram o monitoramento no meio digital.
“Hoje em dia o que vigora é o que funciona. Por exemplo, o Brasil é exemplar nesse caso, é um monitoramento acirrado, presente e constante do judiciário, ou seja, apostar não numa regulação da plataforma, mas numa regulação nacional”, diz Bruno.
Enquanto isso, a participação do usuário médio seria a denúncia silenciosa. O doutorando aponta que “a questão crucial, menos do que tentar discutir online, que na verdade isso acaba alimentando o algoritmo e dando visibilidade a esse discurso, é a denúncia silenciosa. Ou compartilhar aquilo que chamam de Shadow Sharing”.
Bruno Costa finaliza informando que as soluções apresentadas são possíveis. “As plataformas devem ser reguladas, isso não é uma questão em aberto na literatura acadêmica, é fato que as plataformas digitais são cruciais para a proliferação do fascismo e se não reguladas são ameaças às democracias ocidentais. Isso não é uma questão em aberto. Era há dez anos atrás, agora é um consenso absoluto”, conclui Bruno Costa.
