Ritas, que conta a história e o legado da maior voz feminina do rock nacional, chega às telas dos cinemas. 

Por Giovanna Tresma

Cartaz de ‘Ritas’ — Foto: Acervo/Globo Filmes

Estreou nesta quinta (22) nos cinemas o documentário Ritas, dirigido por Oswaldo Santana, codirigido por Karen Harley e produção de Biônica Filmes em coprodução com 7800 Productions, com apoio Globo Filmes.

O documentário, apresentado na abertura da 30° edição do festival é Tudo Verdade, no CineSesc em São Paulo, exibe registros de arquivos inéditos, a última entrevista feita pela cantora, detalhes sobre sua carreira profissional e narração feita pela própria Rita Lee, que guia a narrativa em entrevistas concedidas ao longo de toda a carreira.

O longa tem como proposta uma imersão na vida de Rita Lee, explorando sua trajetória artística e pessoal. O filme que conta com 83 minutos de duração, utiliza de imagens, arquivos e depoimentos da própria para revelar suas várias faces: compositora, escritora e mãe.

Segundo o diretor Oswaldo Santana, em entrevista à rádio Nova Brasil FM, a proposta é apresentar Rita Lee não apenas como a artista consagrada, mas como uma mulher autêntica, que quebrou regras e se reinventou ao longo dos anos de sua carreira. A narrativa do filme fica por conta da própria Rita, trazendo assim uma visão mais íntima e pessoal de sua vida, obras e carreira. 

A data de estreia do filme não foi decidida à toa: dia 22 de maio é o dia de Santa Rita de Cássia e foi a data escolhida pela artista para ser seu novo aniversário (Rita Lee nasceu em 31 de dezembro de 1947).

Em 2020 a artista concedeu uma entrevista ao fantástico, onde contou o motivo da escolha: “Nunca tive uma festa minha, é sempre hoje a festa é sua, hoje a festa é nossa é de que quiser. Não, quero uma festa só para mim”. Em 2024, a cidade de São Paulo decretou e passou a reconhecer a data de 22 de maio como o Dia de Rita Lee. 

Daniel Fernandes, fã da cantora e administrador da página “@ritalee_bau”, que conta com mais de 200 mil seguidores no Instagram, falou sobre a importância do documentário para os fãs da cantora.

“Documentários sempre são um ótimo meio de preservar histórias através da oralidade, imagens de arquivo, documentos históricos etc. Ainda não assisti para poder opinar, mas tenho certeza que o documentário irá agregar muito para os fãs, que há quase dois anos sofrem de saudade da Padroeira da Liberdade”, explicou.

Daniel contou também sobre suas expectativas para o documentário. “As expectativas são muitas, principalmente depois de ver o trailer, que trouxe várias imagens inéditas de shows como o Refestança, com Gilberto Gil, e a apresentação da Rita no Montreux Jazz Festival além da entrevista inédita coletada para compor o filme”.

A expectativa de Daniel é de que este documentário, “fuja um pouco da narrativa da autobiografia da Rita, que todos já conhecemos, e traga uma nova perspectiva sobre a vida dela. Há muita história a ser descoberta e contada. Alguns amigos já assistiram e adoraram. Como confio muito nos critérios deles, tenho certeza de que também vou amar”.

Para os fãs, a presença de Rita Lee vai muito além dos palcos e músicas. A compositora foi e ainda é um grande símbolo de autenticidade e resistência. Mesmo após sua morte, o legado da pioneira do rock continua forte na cultura brasileira e na vida dos que acompanhavam sua carreira. 

“Em 2023, tive a oportunidade de auxiliar na pesquisa do podcast ”Rita Lee – Discografia Comentada”, um projeto maravilhoso do Beto Feitosa, e foi nessa pesquisa que minha admiração pela Rita cresceu ainda mais. A cada jornal que eu lia e a cada nova informação que surgia, eu pensava: “Como é possível essa mulher ter feito tudo isso?” E foi ali que passei a ter uma noção mais sólida da grandeza da Rita como artista e como ser humano, e desde então minha admiração foi aumentando cada vez mais”, afirmou Daniel.

Por fim, o fã da cantora falou sobre o impacto de Rita na cultura e sua influência: “Ela deixou uma discografia riquíssima que passa pelos mais diversos gêneros musicais e inclui parcerias com gigantes da MPB. Participou do movimento tropicalista e, mesmo em meio a uma sociedade extremamente conservadora e vivendo sob uma ditadura militar, não deixou de falar sobre o prazer feminino e temas que sempre foram considerados tabus pela sociedade, ao longo da vida brigou muito pelas causas que julgava importantes, como a defesa pelos direitos dos animais”.

Em sua opinião, Rita Lee  “foi uma das pessoas mais censuradas pela ditadura, chegando até mesmo a ser presa durante gravidez do Beto Lee. Vejo a Rita como um símbolo de coragem e resistência, acredito que tudo isso que ela construiu continuará influenciando positivamente muitas gerações”.

Publicado no dia 16 de abril, o trailer antecipa o que o público pode esperar do documentário, que promete aproximar o espectador da emocionante e agitada trajetória de Rita Lee. 

Rita Lee foi pioneira do rock

Foto: Instagram da Rita Lee/ @ritalee_oficial

Rita Lee marcou gerações e consagrou seu nome na história da música e na cultura brasileira. Nascida em São Paulo em 31 de dezembro de 1947, filha de pai americano e mãe italiana, Rita já mostrava desde cedo sua personalidade diferenciada.

Ela começou a ganhar reconhecimento nacional na década de 1960 como vocalista da banda Os Mutantes, ao lado de Arnaldo Baptista e Sérgio Dia. O grupo misturava rock, música popular brasileira e tinha uma grande inspiração na banda inglesa “The Beatles”. Com Os Mutantes, Rita levou o rock a uma visibilidade nacional ganhando assim reconhecimento do público e da mídia.

A banda usava a arte como forma de protesto, desafiando as autoridades conservadoras da época. As letras ousadas de suas músicas incomodavam o regime militar, resultando em censura e perseguições. Rita deixou o grupo em 1972 e foi nesse período que lançou clássicos como “Agora Só Falta Você” e o icônico “Ovelha Negra”. A partir dali a cantora se tornou uma das maiores vozes da música brasileira.

Em 1976, ela chegou a ser presa enquanto estava grávida, sob a acusação de porte de maconha, muitos acreditam ter sido motivado mais por sua postura política do que pelo crime em si. Rita enfrentou durante sua vida uma grande luta contra as drogas. A artista passou por experiências com diferentes tipos de drogas, o que acabou influenciando tanto sua vida pessoal quanto profissional. Com o passar dos anos, a artista conseguiu se livrar do vício.

A década de 1980 trouxe sua maior parceria não só na área profissional como na vida, Roberto de Carvalho, com quem teve 3 filhos Beto, João e Antônio Lee. Com o marido Roberto, Rita compôs sucessos como “Mania de Você” e “Lança Perfume”. 

Além da música, Rita também se destacou como escritora, onde publicou livros que contam sua história. Seu livro Rita Lee: Uma Autobiografia, lançado em 2016, foi um sucesso de vendas e mostrou ao público um outro lado de Rita. Em 2023, Rita lançou sua segunda autobiografia intitulada Rita Lee: Outra autobiografia, livro que marcava, de certo modo, uma despedida da persona Rita Lee dos palcos, uma vez que tinha se aposentado dos shows.

Em maio de 2021, foi diagnosticada com um câncer primário no pulmão esquerdo e desde então começou um tratamento de radioterapia. O Brasil se despediu de Rita Lee em 2023, que faleceu aos 75 anos em decorrência de um câncer no pulmão. A notícia causou comoção nacional e deixou o país inteiro de luto. 

Rita Lee se despediu, mas jamais deixará a memória dos seus fãs, admiradores e da história da música brasileira. Sua personalidade única e rebelde continua em cada verso de suas músicas.

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