por rodrigo volpato
A Copa Libertadores da América sempre foi uma competição acirrada entre times de toda a América do Sul, mas ultimamente os brasileiros têm escrito uma história de dominância sobre o campeonato. Afinal, o que explica esse domínio?
Os clubes brasileiros têm se beneficiado de algo que seus rivais sul-americanos só podem sonhar: dinheiro para montar elencos de qualidade, contratar técnicos renomados e investir em infraestrutura de ponta.
Bruno Palamin, jornalista esportivo na TV Globo, comenta em entrevista exclusiva para o Jornal Contexto sobre os fatores que contribuem para a disparidade entre os times brasileiros e os outros times sul-americanos.
“A principal diferença entre os clubes brasileiros aos outros clubes do futebol sul-americano, está no nível técnico e, querendo ou não, no nível financeiro. Enquanto no futebol brasileiro podemos citar, pelo menos, sete equipes que brigam pelas competições (liga e copas), em outros países da América do Sul, a competição se resume em um número bem menor”, afirma.
Marcus Arboés, jornalista esportivo no futebol interativo e narrador na Jovem Pan News, explica que “existe um prestígio maior em jogar em times brasileiros ou em clubes como River e Boca Juniors, ou Independiente, porque há um olhar do futebol europeu e esses jogadores querem sair da realidade em que estão. Mas isso acontece, primeiro, porque os clubes brasileiros têm mais condição financeira de pagar salários mais altos e comprar esses jogadores com facilidade. E nem precisa ser SAF (Sociedade Anônima de Futebol) ou ter um grande investidor. O Fluminense, por exemplo, recentemente tirou Kevin Serna do futebol peruano como uma das grandes vendas da história do país e o preço pago nem foi tão alto assim. Os principais talentos deles saem muito fácil para o Brasil, para os Estados Unidos e para o México, porque esses mercados têm bala na agulha para comprar os jogadores”, disse.
Enquanto muitos clubes de outros países sul-americanos lidam com economias instáveis, os times brasileiros surfam em receitas milionárias de direitos de televisão, patrocínios e bilheterias. O Flamengo, por exemplo, tem um orçamento que ultrapassa R$1 bilhão, permitindo a contratação e manutenção de grandes jogadores. Outros clubes, como o Palmeiras, investiram pesado em infraestrutura, criando centros de treinamentos modernos. É como colocar um gigante para competir com equipes que, muitas vezes, lutam para pagar as contas no fim do mês.
A questão econômica, porém, não se limita apenas ao futebol, a condição financeira e estabilidade do país é um grande atrativo para que jogadores deixem seus países e joguem no Brasil.
“Assim como o futebol europeu de alto nível tem uma superioridade técnica em relação ao nosso futebol porque eles têm mais apelo e condição financeira e até de qualidade de vida para os jogadores (fora as narrativas e os sonhos), nós estamos nessa posição em relação aos demais países do continente”, comenta Marcus.
Mas não é só o dinheiro que explica o sucesso. Nos últimos anos, muitos clubes brasileiros começaram a fazer algo que nem sempre foi comum por aqui: planejamento. O Palmeiras, por exemplo, apostou em uma gestão moderna e no fortalecimento das categorias de base, o que garantiu talentos como Endrick e Estêvão.
A dominância brasileira, no entanto, não é vista com unanimidade. Para alguns, a desigualdade crescente ameaça o equilíbrio da competição, o que pode acabar afastando a torcida de outros países. Para outros, ela é um reflexo positivo da evolução do futebol no Brasil e um estímulo para que os clubes dos demais países invistam e se adaptem para competir.
Porém, para que os clubes estrangeiros consigam se adaptar não é tão simples, assim como afirma Bruno, que em sua entrevista foi questionado sobre o que esses clubes podem fazer para voltar a competir com os brasileiros e em resposta disse que acredita que essa pergunta seja mais complexa, e não devemos falar apenas de futebol.
“Também é preciso analisar o cenário econômico de cada país que, sem dúvida, interfere muito no esporte. A América do Sul está passando por uma série de crises econômicas e políticas, então culpar os clubes seria injusto. Se reestruturar dentro de uma crise, é muito complicado. Quando a moeda do país está desvalorizada, dificulta com que os clubes consigam se reforçar e melhorar seus elencos. Quando debatemos este assunto, a primeira coisa que vem em nossa mente é a parte financeira das equipes e que só assim as equipes disputariam de igual para igual”, explica Bruno.
Ele faz uma breve comparação: “diferente do Brasil, os times argentinos não podem virar clubes-empresa. Enquanto o governo apoia que as equipes se tornem clubes-empresas, a Associação do Futebol Argentino não apoia esta mudança, assim como grande parte dos times.
Não gostaria de resumir a diferença esportiva apenas na questão financeira, e realmente acredito que não seja só isso, mas infelizmente não tem como deixar de lado”.
Não por acaso, de 2019 para cá, “quase todas as equipes brasileiras que estiveram na final da Libertadores são equipes com alto poder de investimento, como o Flamengo (3x), o Palmeiras (2x), o Atlético-MG e o Botafogo”, finalizou.
Mas e o futuro?
Será que essa era brasileira vai durar para sempre? Talvez não. Se depender dos clubes brasileiros, parece que ainda há muitos capítulos dessa história, e enquanto houver essa enorme disparidade financeira e países sul-americanos estiverem em crise, será difícil bater os brasileiros, mas o futebol é imprevisível, e a Libertadores tem um histórico de produzir surpresas.
Seja como heróis ou vilões, os brasileiros continuam como protagonistas do campeonato. Para os times do Brasil, cada título é uma afirmação de força. Para os rivais, é um lembrete de que o trabalho para alcançar os brasileiros está apenas começando.
No fim das contas, o futebol sul-americano vive dessa rivalidade. E, mesmo que a história tenha, por enquanto, apenas um vencedor, todo mundo ainda quer ver quem será o próximo a desafiar esse domínio.
