O fenômeno conhecido como “envelhecimento populacional” assusta os países desenvolvidos há um tempo por conta da escassez na mão de obra e gastos previdenciários.

Por Maísa Bornato 

O envelhecimento populacional pode se tornar uma das transformações sociais mais significativas do século XXI. Com as baixas taxas de natalidade e mortalidade, cada vez mais as pirâmides etárias do mundo registram um aumento na população “60+”.

Este deficit populacional deriva de alguns fatores como o aumento na expectativa de vida e o alto custo para uma melhor qualidade de vida. Podemos ver também uma certa resistência dos casais para terem famílias grandes ou até mesmo um filho e a redução na mortalidade da população idosa.

A professora de Geografia Franciléia Schmidth Fernandes fez uma alerta sobre a condição deste envelhecimento: “irá faltar mão-de-obra para o trabalho, gastos maiores para a previdência, demanda de maiores investimentos para a saúde e a desestruturação social”. 

Apesar do aumento da expectativa de vida da população ser uma vitória para o desenvolvimento, esse aumento desproporcional tende a causar problemas futuros. Segundo a última pesquisa, em 2023 a população mundial era de 8 bilhões e o grupo de pessoas com mais de 65 anos de idade era de 761 milhões, que seria 9,5% de toda população mundial daquele ano. Os dados fazem projeção de que em 2050 a porcentagem possa chegar a 1,6 bilhão de idosos em todo mundo.

Para a professora Franciléia as causas que têm levado o mundo a  alcançar esse déficit populacional são “o elevado custo na criação dos filhos e a inserção da mulher no mercado de trabalho”. Hoje a queda no número de natalidade afeta tanto países desenvolvidos quanto subdesenvolvidos, a projeção dos estudos publicados pela revista britânica The Lancet é de que até 2100 apenas seis dos 204 países tenham níveis de nascimento suficientes para reposição sustentável da população. 

Pesquisa divulgada pela ONU mostra que “nas próximas décadas, muitos países enfrentarão pressões fiscais e políticas na esfera dos sistemas públicos de saúde, previdenciário e proteção social para a população com a faixa etária mais avançada”. As apurações realizadas nas pirâmides etárias são de grande importância, para que seja feito um projeto de estratégia e gestão de recursos para a saúde, educação, economia e qualidade de vida. O gráfico da pirâmide etária informa qual o percentual populacional de determinadas idades, ele é combinado por três processos demográficos, sendo eles a fertilidade, mortalidade e imigração. 

A mudança da taxa de mortalidade infantil também tem grande importância para a transformação da pirâmide. Nos últimos 70 anos essa taxa teve um declínio de 142 óbitos a cada mil nascimentos, para apenas 40 óbitos, consequência de inúmeros fatores como a urbanização, a maior atenção ao pré-natal, o aleitamento materno e vacinação, além da introdução de agentes comunitários de saúde e melhores condições sociais para a população.

Entretanto, a taxa de fecundidade também teve uma queda contínua passando de cinco filhos por mulheres no mundo, para apenas 2,5 filhos por mulheres. Essa mudança deriva da disseminação de métodos contraceptivos, a entrada da mulher no mercado de trabalho, a criação da pílula do dia seguinte e grande aumento nos custos de vida e principalmente nos de criação. 

Segundo Franciléia Fernandes é de grande importância preservar a população jovem. “É preciso termos uma população sempre se renovando e não se tornando uma população envelhecida, que causa a gerontocracia(predominância de idosos)”, até porque é com essa nova população que o país vai se desenvolver e fugir da estagnação. 

No mundo já foram realizadas algumas conferências sobre o envelhecimento, a primeira foi a Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento, em 1982, convocada pela Assembleia Geral, teve como decisão o Plano Internacional de Ação de Viena. Em 1991, a Assembleia Geral adotou os Princípios das Nações Unidas para os Idosos, enumerando 18 direitos das pessoas idosas. A Assembleia Geral da ONU declarou 1999 como o Ano Internacional das Pessoas Idosas e temos como celebração o Dia Internacional das Pessoas Idosas em 1º de outubro de cada ano.

Japão, o “país idoso”

Há 54 anos o Japão vem batendo o recorde da população mais idosa de todo o mundo. O índice realizado pelo Ministério da Saúde e Bem-Estar informou que atualmente no país existem 95.119 pessoas com 100 anos ou mais e cerca de 29% da população possui 65 anos ou mais. Por ter uma grande expectativa de vida e uma taxa de natalidade de 1,34 filhos por mulher, a projeção é de que em 2060 a população do país seja 40%  de pessoas maiores de 65 anos. 

Para transformar essa realidade, o país incentiva a integração de mulheres e idosos no mercado de trabalho e  oferece um auxílio infantil, onde os responsáveis recebem um valor para auxiliar na criação das crianças até os 18 anos.

Durante conversa com brasileira moradora do Japão Mirian Okinawa, ela explica como funciona o benefício “o auxílio aqui é para qualquer um, aqui todas as classes ganham essa ajuda, mas não é muito. A ajuda vem de dois e dois meses e a partir dos 15 anos ela diminui o valor”. Miriam tem 39 anos e cinco filhos que possuem de 4 meses a 18 anos, apesar de ter planejado apenas dois de seus filhos diz “não me arrependo, hoje eu vejo e entendo que nasci para ser mãe”.

Ela afirmou que muitos japoneses a veem como uma pessoa forte por ter conseguido ter muitos filhos ajudando a contornar esse deficit populacional “eles sempre falam nossa que incrível, você está se esforçando para sua família crescer”. 

Miriam Okinawa falou sobre seus 17 anos morando no japão, onde se mudou após o nascimento de sua primeira filha, cujo pai tem nacionalidade Japonesa. Ela explica que durante esses anos percebeu que as mulheres japonesas preferem ter filhos quando estão com vida estabilizada, mas acabam não conseguindo engravidar mais. “Elas querem ter filhos quando já tem entre 35, 40 anos por terem uma poupança gorda, mas elas acabam perdendo oportunidade de ter filhos por ser muito difícil engravidar e terem problemas no útero”.

Por possuir uma cultura milenar,  a sociedade japonesa tem diversos costumes, práticas e hábitos diários. Uma delas é a rigidez em suas ações, e por conta desse fator se torna também o país com alto índice de suicídio.

Desde a pandemia de COVID19 houve um aumento de suicídios no país, principalmente com os estudantes, em 2023 houve o segundo maior número de casos, 513 crianças com idade escolar tiraram a sua vida, esse número só foi superado pelo ano anterior. A moradora Miriam falou um pouco sobre a pressão imposta nas escolas. “As crianças têm de fazer muitas funções além de estudar e muitas vezes os professores não são pacientes, a minha filha mesmo já  foi empurrada por um professor durante a aula de educação física por ser mais gordinha”. 

As novas gerações também não pretendem ser pais ou mães, por alguns receios na capacidade de criação, a realidade futura e novos conflitos sociais.  A filha mais velha de Miriam, que hoje tem 18 anos, fala junto de suas amigas para sua mãe, que seus planos são “viajar, conquistar suas coisas e o sucesso”. Por ter o aborto legalizado desde 1948,  muitas mulheres preferem parar com a gestação em vez de dar continuidade, cerca de 30% de mulheres que já realizaram o aborto o fizeram  mais de uma vez.

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