O maior site de acompanhantes do Brasil é a bola da vez no universo esportivo. A empresa patrocina clubes que vão da Série A até a D do Campeonato Brasileiro de futebol
Por Isabela Santana
Lado a lado com os jogos de apostas on-line, o site de acompanhantes Fatal Model dominou o cenário esportivo com suas propagandas em jogos e camisas de clubes. O fato gerou discussões na internet, revelando divergências entre pessoas contrárias à marca por suposta promoção da prostituição e seus defensores. Estes, por sua vez, acusam os opositores de serem haters, preconceituosos e puritanos. Assim, as publicidades revelaram aos não usuários da plataforma não só a sua existência, mas também um lado desconhecido da sua forma de agir, instigando o seguinte questionamento: o que está por trás da publicidade da Fatal Model?
Caso Eduardo Moreira
Entre as pessoas abismadas com a aparição da Fatal Model em torneios esportivos está Eduardo Moreira, empresário e dono do canal ICL Notícias, que reparou na logo da empresa em um jogo de futebol e quis expor a sua opinião na web. “Eu estava assistindo, nesse final de semana, Corinthians e Botafogo. De repente: Fatal Model, um site de prostituição. Olha o que que passa em rede nacional, propaganda no futebol, classificação livre”, declarou Moreira durante seu programa no ICL Notícias.
Na mesma oportunidade, o empresário chamou a atenção para atos perigosos relacionados ao tema. “O grupo que comanda a prostituição é a galera mafiosa que manda matar”, proclama o apresentador.

(Fonte: Eduardo Moreira, canal do Youtube)
Com a repercussão dessa denúncia, a Fatal Model reagiu por meio de uma nota de repúdio e se defendeu das falas do empresário em vídeo no Youtube. “Sofremos acusações caluniosas e difamatórias. O preconceito mata, Eduardo. E quem propaga o preconceito é quem manda matar”, diz Nina Sag, diretora de comunicação da empresa.
Após o acontecimento, a marca não se deu por satisfeita e enviou um caminhão para a sede do Instituto Conhecimento Liberta na Vila Mariana, em São Paulo. Além disso, entregou um pacote misterioso direcionado a Eduardo Moreira, que continha uma camisa do Vitória com o nome dele escrito atrás. Diante disso, Moreira decidiu abrir uma intimação na Procuradoria-Geral da República contra a Fatal Model por publicidade indevida e ameaça.
Em apoio ao apresentador, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) avaliou como “criminosa” as atitudes da empresa e cobrou das autoridades alguma ação a respeito. “Ao mesmo instante em que se solidariza com os profissionais do ICL Notícias, a Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da ABI junta-se ao Instituto Vladimir Herzog na cobrança para que autoridades policiais e o próprio Ministério Público do Estado de São Paulo iniciem investigações para apurar as intimidações e ameaças que se sucederam às denúncias feitas no último dia 16 de setembro”, reitera em nota.
Patrocínios da Fatal Model
A empresa vem expandindo o seu financiamento entre diversos times de futebol, que vão da Série A até a Série D do Brasileirão, como EC Vitória, Paysandu, Tombense e Ipatinga. A Ponte Preta, clube paulista da segunda divisão nacional, é um dos patrocinados pela marca, parceria que se iniciou em 2023 com o contrato que se estende até dezembro de 2024. De acordo com o portal GloboEsporte.com, essa parceria levará mais de 1,2 milhão aos cofres do clube. Ao ser contactado pela equipe do Jornal Contexto , o coordenador de marketing do time, Diego Almeida, foi indagado sobre a questão do patrocínio. O profissional afirmou que a Ponte Preta não trata de assuntos relacionados a patrocinadores.
O Vila Nova, também da Série B, se dispôs a comentar a sua relação com a marca. O diretor de marketing do clube, Murilo Reis, vê como benéfica essa parceria da empresa com o time. “Envolve uma compensação financeira para a instituição e, em contrapartida, uma visibilidade para a marca. Eles estão entre os patrocinadores que mais pagam para o clube”, diz Reis.

(Fonte: site Soutigrão.com)
Ademais, de acordo com a própria marca em seu site oficial, a preocupação não é só monetária, tendo em vista que a Fatal Model quer se aliar a times que compartilham dos mesmo valores que estão em seu slogan: “Respeito, segurança e dignidade”.
Regulamentação e transparência
Um dos apoiadores de Eduardo Moreira, o jornalista Pedro Zambarda acredita que as práticas de plataformas que oferecem serviços sexuais deveriam ser inspecionadas por agentes responsáveis. “Esse tipo de negócio precisa ser regularizado para o consumo mais consciente desses conteúdos e para que possam existir contrapartidas necessárias ao Estado. Isso pode se dar em torno de normas, impostos e diferentes regulações”, informa.

(Fonte: arquivo pessoal)
Por outro lado, o diretor de marketing do Vila Nova mostra que uma possível intervenção de um órgão público pode afetar negativamente a empresa. “Pode ser que fique oneroso para a marca se formalizar e se adequar às regras impostas pela instituição”, expressa Murilo.
Uma das possíveis soluções apresentadas para resolver esse tema é o Projeto de Lei Nº3660 de 2024, desenvolvido pelo Pastor Henrique Vieira do PSOL, que tem como finalidade proibir a veiculação de publicidade de serviços de prostituição e sexuais em competições desportivas.
Diante disso, Pedro pensa que o PL tem que ser analisado com cuidado, se não, a discussão pode ser tomada por um moralismo leviano. “Acredito que esse PL de proibição de anúncios com esse teor deve ser discutido, especialmente quando vinculados em programas de classificação etária livre. Não se trata de uma pauta moral, mas de respeitar a Constituição e as leis”, explica o jornalista.
Em contrapartida, Murilo aponta que outros tipos de publicidade devem ser questionadas, e não só as que oferecem serviços sexuais. “Eu acho que é uma besteira, porque se for proibir esse tipo de divulgação, tem que proibir outros que também são prejudiciais, por exemplo os jogos de apostas”, reitera Reis.
O tema da publicidade de plataformas como a Fatal Model, que envolvem serviços de acompanhantes, gera muitos debates e está cercado de polêmicas. Com as atuais discussões, o envolvimento de clubes de futebol e até mesmo o projeto de lei em tramitação na Câmara dos Deputados, levando em consideração todos esses aspectos, ainda há muitos desdobramentos por vir e pontos complexos que exigem uma análise aprofundada e moderada, tanto de órgãos públicos quanto privados.
