
Enquanto Lando Norris e Max Verstappen protagonizam uma rivalidade acirrada nas pistas, a Fórmula 1 se torna palco de interesses políticos e econômicos que moldam o futuro do esporte.
Por Elisa Brassoroto
A temporada de 2024 trouxe de volta a emoção às pistas. Depois da era de ouro da Red Bull, a competição voltou ao centro das atenções. A disputa de Norris e Verstappen trouxe uma nova dinâmica e rivalidade para a modalidade. Até o momento são sete vencedores em 21 corridas disputadas, fato que não acontecia desde a temporada 2021.
Enquanto a rivalidade acontece nos limites da pista, fora deles, países investem fortemente para sediar corridas, buscando fortalecer suas imagens e atrair olhares do mundo todo.
A competição entre pilotos ganha uma dimensão política, trazendo conflitos de interesse para dentro do esporte, que é de origem privativa, como explica Giovana Schenato, anfitriã do ‘Be Fast Podcast’. “É um esporte muito exclusivo, principalmente se a gente comparar com outras modalidades, como o futebol, por exemplo. É um esporte super restrito que só tem 20 pessoas no mundo competindo então tem muito dinheiro envolvido”.
A exclusividade do esporte existe desde sempre. Entretanto, o debate é motivado pelos interesses comerciais e a influência direta na composição do grid, investindo dinheiro em equipes em troca de ter um piloto local competindo.
O japonês Yuki Tsunoda estreou na Fórmula 1 em 2021, competindo pela Alpha Tauri (equipe secundária da Red Bull). Sua escalada à modalidade foi fortemente influenciada pela Honda, empresa japonesa, que exigiu um representante local em troca de patrocínio para a equipe.
Luiza Schenato, também apresentadora do ‘Be Fast Podcast’ explica que “na modalidade é o interesse comercial que em muitas ocasiões se sobrepõe à performance do piloto. Eu acho que essa é a principal influência das pessoas que estão lá, então não são necessariamente os 20 melhores pilotos que poderiam estar lá, eu vejo isso como um ponto de interesse comercial muito forte”.
Ela explica ainda que “a situação do Tsunoda é bem interessante, porque ele apresenta um bom desempenho em relação à equipe dele. Ele realmente tem um desempenho considerado bom. Ao mesmo tempo que ele foi um piloto que obviamente entrou no esporte pelos interesses da Honda, que é a parceira técnica da Red Bull. Mas eles (Honda) têm esse histórico na Fórmula 1, de querer trazer um piloto japonês, e o Tsunoda não é o primeiro que eles trazem”.
A ideia de trazer um piloto local estimula a visibilidade nacional e cultura local do país, já que o sucesso do piloto está diretamente ligado ao sucesso nacional.
À medida que as disputas por patrocínio acontecem nos bastidores, os pilotos seguem competindo dentro das pistas. O holandês Max Verstappen lidera a competição rumo ao seu quarto título. Atrás dele, o britânico Lando Norris tenta o seu primeiro título na carreira. A dupla protagoniza uma disputa acirrada em alta velocidade, chamando a atenção não só de fãs, mas de grandes nomes políticos também.
Em ano de eleições americanas, o Grande Prêmio de Miami não passou despercebido. A primeira vitória na carreira de Lando Norris e a ascensão da McLaren no campeonato de construtores trouxeram emoção para o fim de semana.
E em solo estadunidense, o britânico posou ao lado de Donald Trump, o que causou burburinhos nas redes sociais. O acontecimento foi citado em diversos canais de comunicação. “Considerando o volume de dinheiro que circula no esporte acho que e todas as pessoas influentes que participam dele e tal o simples fato da Fórmula 1 hoje ser de um conglomerado de mídia, acho que não tem como a gente subestimar a capacidade de influência dela, né? É total, eu acho que qualquer figura política que apareça num evento como um grande prêmio de Fórmula 1, com certeza todo passo que aquela figura faz é calculado e está em busca de uma publicidade tá ali por uma manobra de Relações Públicas para tentar se colocar numa boa luz”, explica Luiza.
Ainda acerca de Norris, Giovana completa: “isso não poderia circular da parte dos pilotos da parte das equipes, entende? Eu entendo que também eles se beneficiam de uma certa forma de ser uma coisa, tipo. Eu entendo também essa sutileza”.
Em contrapartida, o piloto aposentado e criador de conteúdo automobilístico Rodolpho Santos discorda. “Não acho que ele (Norris) tenha essa influência.”
Após a forte movimentação nas redes sociais, a equipe McLaren se pronunciou sobre o ocorrido, e em comunicado oficial explicou. “A McLaren é uma organização apolítica, mas reconhecemos e respeitamos o cargo de presidente dos Estados Unidos. Assim, quando foi feito o pedido para visitar nossa garagem no dia da corrida, aceitamos ao lado do presidente da FIA (Federação Internacional de Automobilismo) e dos CEOs da Liberty Media e da Fórmula 1. Ficamos honrados com o fato de a McLaren Racing ter sido escolhida como representante da F1, o que nos deu a oportunidade de mostrar a engenharia de classe mundial que trazemos para o automobilismo”.
A Federação Internacional de Automobilismo não se pronunciou a respeito do ocorrido, o que causou ainda mais polêmica acerca do assunto. “A FIA está se tornando política, um lado que às vezes incomoda”, opina Rodolpho. “Parabenizaram o presidente americano pela eleição e isso acho que é um pouco fora de tom, independente da posição política. Acredito que representa uma entidade de um esporte que não deve se envolver tanto assim com a política de um país”.
A temporada de Fórmula 1 segue acontecendo, enquanto a modalidade deixa claro que sua relevância vai além da velocidade nos circuitos. O duelo entre Max Verstappen e Lando Norris dentro e fora dos limites das pistas reflete o cenário de influência e poder em que a Fórmula 1 atua.
A Fórmula 1 retorna aos Estados Unidos para mais um fim de semana, aterrissando em Las Vegas, onde entre os dias 22 e 24 de Novembro acontece o Grande Prêmio de Las Vegas, com transmissão da Rede Bandeirantes para todo o Brasil.
