O crescimento de partidos identificados com valores conservadores em países como o Brasil, EUA, Uruguai, Itália e Alemanha causa desconfiança em relação às instituições democráticas.

Por Fernanda Sampaio Lourenço

O mundo político, apesar de suas diferentes ideologias, sempre travou uma batalha entre dois grandes protagonistas; os partidos de direita x partidos de esquerda. Basta olhar a história da diplomacia mundial para perceber a importância dessas doutrinas. Primeiro, entendamos o que é o conceito de política: mecanismo de orientação administrativa de Estados, de acordo com o dicionário. Em outras palavras, é o ato de governar e tomar decisões. Esse instrumento teve origem na Grécia Antiga, uma vez que a necessidade de se criar um sistema de organização para as Cidade-Estado crescia. Moldada e alterada para atender as instâncias da humanidade conforme seu avanço, foi durante o século XIX, na Europa Ocidental e nos Estados Unidos, que surgiram os partidos políticos.

Com um funcionamento ainda muito primitivo, apenas as elites influentes participavam desse novo sistema e ficaram conhecidos por “partido dos notáveis”. Ao passar do tempo, as massas foram introduzidas a essa política e criou-se os chamados “partidos de massa”. O embate entre as classes sociais distintas e com diferentes ideologias travavam “batalhas” entre os partidos. No contexto brasileiro, não foi muito diferente, já que aconteceu durante o Império a formação dos Conservadores e Liberais.

A evolução da política brasileira acarretou na mudança desses partidos ao lonfo do tempo: desde a República Velha (1889-1930), passando pela Era Vargas (1930-1945), pela República populista (1945-1964), pelos Governos Militares (1964-1985) até chegar na Nova República (a partir de 1985), com a redemocratização Nota-se, nesse contexto, que os agentes políticos de ideologias de esquerda e direita tem sempre atuado na política mundial. Porém, o ganho de força da extrema-direita tem chamado atenção, não só no Brasil, mas no mundo todo.

O que é a extrema-direita?

Caracterizada por posicionamentos radicais ligados, geralmente ao nacionalismo, a ultradireita possui um caráter ultraconservador e forte resistência à perda de soberania do país. O autoritarismo, antiglobalismo e os valores sociais conservadores são fenômenos usados para manter uma visão homogênea da identidade cultural e nacional. Com oposições a mudanças sociais progressistas, a ideologia defende uma ordem hierarquizada da sociedade e acaba gerando a percepção de superioridade em relação a outras culturas, que acaba refletindo discursos preconceituosos e xenofóbicos. A repulsa contra minorias sociais (imigrantes, comunidade LGBTQIA+ e seguidores de uma religião específica) e a contraposição à integração entre os países numa escala global são aspectos da extrema-direita.


Protestos contra Donald Trump em 2018, “Não chore mulher, Trump não se importa”/(Imagem: Pexels)

De forma mascarada, a ultradireita causa desconfiança em relação às instituições democráticas. O crescimento dessa ideologia impacta as democracias liberais, podendo causar uma erosão democrática.

“Todos esses movimentos e governos têm patrocinado a diminuição da proteção social, a corrosão das instituições democráticas e o enfraquecimento dos mecanismos de freios e contrapesos que foram idealizados precisamente para evitar a concentração de poder, promover o controle social e o equilíbrio entre os Poderes”, explica o professor Jefferson Oliveira Goulart, do Departamento de Ciências Humanas e do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura, Artes, Comunicação e Design, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp).

O crescimento da extrema-direita está acometendo no mundo todo. Líderes como Donald Trump (EUA), Jair Bolsonaro, Viktor Orbán (Hungria) e Marine Le Pen (França) são exemplos de figuras ultradireitistas que buscam alcançar o poder por meios democráticos com a intenção de enfraquecer ou desmantelar as instituições democráticas. “Se a democracia falha em proteger os seus cidadãos e promover inclusão, e se as formas convencionais de ascensão e integração social já não produzem resultados, vende-se a ilusão da prosperidade mediante uma ruptura com o universalismo. Vejam-se os casos de Trump e Bolsonaro. Quando foram presidentes, ambos jamais se colocaram na condição de líderes de toda a sociedade, sempre ressaltaram que protegiam os “seus”. E quem são os “seus”? Nos EUA, a classe média branca que se viu ameaçada pelo multiculturalismo de uma sociedade que se tornou multiracial. No Brasil, os que se levantam contra as políticas sociais, contra a liberdade de gênero, de orientação sexual e assim sucessivamente”, explica Jefferson.

Brasil

Nos últimos dez anos, uma extrema-direita organizada ganhou força no Brasil, influenciada pelo movimento norte-americano e de outras nações. Com investidas cada vez mais fortes, o conservadorismo ganhou palco em questões políticas e sociais, usando-se de uma linguagem moral, crítica ao sistema e contrária à corrupção, atraindo, a partir dessa combinação, mais seguidores. O cenário em que essa ideologia ganha destaque é em 2018, quando o candidato Jair Bolsonaro ganha as eleições para presidente do país.

O movimento bolsonarista conseguiu mobilizar apoio popular, uma vez que durante os governos do PT, muitos movimentos sociais foram institucionalizados, ou seja, passaram a trabalhar mais próximos ao governo, o que levou a uma redução da mobilização e da liderança entre os setores populares. Sem essa liderança, a população ficou mais vulnerável a adotar a ideologia da classe dominante. Assim, Bolsonaro trouxe uma nova combinação de ideias para manter a dominação das elites sobre o país.

O que aproxima o fenômeno do bolsonarismo com a extrema-direita, por exemplo, é a defesa de projetos que pleiteiam alterar leis. Pautas baseadas em negacionismos e preconceitos configuram a forma de pensar desse grupo radical e é evidenciada a partir de tentativas de implementar, por exemplo, a “PL do Aborto” que tira direitos conquistados pelas mulheres em 1940.

A religiosidade é outro forte apelo da ultradireita, que muitas vezes se confunde com o fazer político, já que a religião é parte do discurso desse grupo. “Há uma interdição do debate em relação ao tema da interrupção da gravidez (do direito da mulher à autodeterminação sobre seu corpo) por alegações morais e religiosas. Posso entender e respeitar a posição de determinada fé em relação ao tema, mas é inadmissível que os valores de uns sejam impostos a todos. Aborto é assunto privado e de saúde pública. Nenhuma fé pode se impor”, explica Jefferson.


Comemoração de Jair Bolsonaro/(Imagem: Instagram)

Os constantes discursos negacionistas de Bolsonaro com a questão da crise climática demonstram o efeito da ideologia. Em quatro anos de governo, o país produziu um equivalente a quase 7 bilhões de toneladas de gás carbônico equivalente (CO₂e), praticamente a mesma quantidade produzida nos Estados Unidos (segundo maior emissor do planeta). Além disso, a idolatria que o movimento possui coloca em risco as instituições legais brasileiras. A defesa de liberdades que vão contra o próprio Estado Democratico de Direito influenciou uma tentativa de intervenção militar depois do resultado das eleições de 2022, a partir da interpretação do artigo 142 da Constituição feita pelo grupo.

Outra característica da direita radical no Brasil é o uso da agressividade. A prática foi muito utilizada na campanha eleitoral do ex-presidente em 2018 e acabou se internalizando na Câmara dos Deputados. O ato de xingar e gritar foi naturalizado em um ambiente formal político, em que a oratória foi radicalizada. Com slogans bem característicos como “Deus, Pátria e Família” e “Deus acima de tudo, Brasil acima de todos”, o movimento bolsonarista coleciona diversos seguidores, caracterizados por jovens e eleitores de diferentes classes sociais.

“A cantilena de que políticos são todos iguais, não importa a ideologia ou o partido ou o programa, ajuda a minar a credibilidade das instituições e tem sido substituída pela “teologia da prosperidade” que não descarta o uso de símbolos e liturgias religiosos. O fenômeno eleitoral de Pablo Marçal exprimiu exatamente isso na eleição paulistana, e o que chama atenção é que seus adeptos, apoiadores e eleitores vieram de diferentes estratos sociais, especialmente dos mais pobres”, ressalta Jefferson.

A conduta de Bolsonaro durante seu governo no período de (2019-2022) foi criticada, principalmente, devido ao constante desinteresse e desrespeito com o povo brasileiro durante a pandemia da Covid-19. Mesmo assim, o ex-presidente continua tendo diversos seguidores  pelo país que o apoiam.

Uruguai

A ultradireita uruguaia é representada pelo Partido Cabildo Abierto, fundado em 2019 e que segue as mesmas ideologias de inclinação militar e conservadora. Criado pelo ex-general Guido Manini Ríos, que é uma figura importante na história uruguaia devido a histórico militar e por ter ocupado o cargo de comandante-em-chefe do Exército uruguaio até 2019, o partido seria, por definição própria, uma alternativa ao bipartidarismo entre os tradicionais Partidos Colorado e Nacional e o progressista Frente Amplio.

Assim como as outras direitas, suas pautas giram em torno da valorização identitária do país e do conservadorismo. O partido, apesar de recém formado, já alcançou números altos, e garantiu uma significativa parte das cadeiras no Parlamento uruguaio. Com discursos que defendem as políticas de segurança pública e que criticam a “justiça de transição”, que se refere ao conjunto de normas legais e institucionais implementadas para que os abusos de direitos humanos ocorridos durante a ditadura militar uruguaia (1973-1985) não se repitam, o partido vem recebendo críticas por parte da população.

“Cabildo Alberto é parte de uma família que nós chamamos de direitas neopatriotas, que têm como característica o posicionamento radical do ponto de vista ideológico e o caráter antiglobalista. Nesse sentido, Cabildo Alberto tem posicionamentos parecidos com a família, tanto do bolsonarismo quanto com o grupo político de Milei, também com José Antonio Kast de Chile, com Carlos Alvarado em Costa Rica, com Keiko Fujimori em Peru. É um conjunto de atores que têm como denominador na nossa região esse profundo sentido antiglobalista que faz com que sejam parte de uma grande família, que compartilha uma cultura, ‘inimigos’, redes, conexões, retórica e uma maneira de fazer política”, explica o professor Camilo López Burian, docente do Departamento de Ciencia Política (Facultad de Ciencias Sociales) da Universidad de la República (Uruguai).


Participantes do Partido Cabildo Abierto/(Imagem: Cabildo Abierto)

Além do partido Cabildo Abierto, que ultimamente não tem se mantido bem na política uruguaia, já que possui apenas dois representantes na Câmara dos Representantes, ganha expressão o partido Identidade Soberana. O grupo surgiu em 2018 como uma reação ao que seus fundadores viam como a falta de uma representação genuína de valores tradicionais e soberania nacional no sistema político uruguaio.

O professor Camilo explica as motivações e funcionamento desse partido: “O Partido de Identidade Soberana, na verdade, é um caso bem interessante. Porque poderíamos estar falando de um rojipardo, que é a conjunção de valores morais de direita com alguns elementos ou ressonâncias no discurso que parecem de esquerda por ser antiimperialista, por discutir o capital transnacional, mas eles têm uma pauta moral de direita muito marcada. Por exemplo contra a Agenda 2030, a agenda de direitos das mulheres, a lei dos direitos das pessoas trans, a legalização do aborto, que tem posições negacionistas com o câmbio climático, são anti-vacina, tem esse perfil”.

Em período de eleições presidenciais, o uruguai terá um segundo turno marcado para o próximo dia 24 de novembro, em que se enfrentam os candidatos Yamandú Orsi, da coalizão de esquerda da Frente Ampla e Álvaro Delgado, representante do grupo de centro-direita do atual presidente, Luis Lacalle Pou, do Partido Nacional.

Estados Unidos

Com uma perspectiva histórica, os Estados Unidos tem um antecedente do século 19 que fere a imagem do país. A organização conhecida por Ku Klux Klan (1865) se originou nos EUA após a guerra de Secessão e o fim do regime escravocrata. A libertação dos negros escravizados foi o alarde inicial para a formação desse grupo que foi responsável por diversas atrocidades e assassinatos ao longo da história. Assim como o nazismo pregava a superioridade de uma raça, a Ku Klux Klan discursava sobre uma hegemonia branca e fazia ataques racistas.

Com o avanço das décadas, outro episódio marcante na história estadunidense foi a Guerra Fria, na qual o país, capitalista, lutava contra a ideologia oposta, o comunismo. Nessa época, a cultura do medo e da desconfiança ganharam força, assim como a propaganda política. O nacionalismo se intensificou no país um tempo depois, quando ocorreram os ataques às torres gêmeas (11 de setembro de 2001). Foi a partir de 2010 que emergiram as correntes de extrema-direita, principalmente o “alt-right” (direita alternativa).

A atual situação da ultradireita nos Estados Unidos é representada pela figura de Donald Trump. Em 2015, o empresário anunciou sua candidatura à presidência pelo Partido Republicano, onde pregava ideias nacionalistas e populistas, criando o famoso slogan “Make America Great Again”. Como um crítico da imigração ilegal, propôs onstruir um muro na fronteira com o México. Foi no ano de 2016 que ele venceu sua oponente, Hillary Clinton, e se tornou o 45º presidente dos EUA. O empresário sempre foi muito polêmico e acabou sendo derrotado por Joe Biden nas eleições de 2020.


Apoio a candidatura de Donald Trump em Wheeling nos EUA/(Imagem: Pexels)

“Nos EUA, por exemplo, um tema explosivo é o da imigração, suas consequências e a percepção de determinados grupos antes privilegiados de que perdem com a “concorrência” desses estrangeiros, daí a xenofobia”, explica Jefferson a respeito da ideologia muito comumente reverberada no país.

Apesar de desfalcado nos últimos quatro anos de política, Trump foi presidente dos EUA nesta última terça-feira (05/11). Com o mesmo foco nas questões conservadoras, nacionalistas e populistas, o empresário propôs, novamente, uma abordagem rigorosa em relação à imigração, incluindo a construção de mais partes do muro na fronteira com o México. Tomou também uma postura agressiva em relação à China, prometendo restaurar tarifas e limitações aos investimentos chineses. Ainda, manteve o “America First”, na qual o país prioriza seus interesses em detrimento de compromissos internacionais, como o Acordo Climático de Paris.

Alemanha

No caso alemão, a extrema-direita era uma ideologia que desde o final da Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945) não se manifestava com relevância no país. Entretanto, o Partido AfD (Alternative für Deutschland), conquistou quase um terço dos votos e com um sucesso considerável histórico, comemoram a vitória da direita radical no Estado de Turíngia, no leste do país. O acontecimento está sendo considerado histórico justamente por ser a maior vitória da direita radical em eleição na Alemanha desde o Nazismo.

O partido, fundado em 2013, defende temas como a antimigração, islamofobia, negacionismo e revisionismo histórico. Alguns dos membros, como Alexander Gauland, Björn Höcke e Andreas Kalbitz (que foi expulso do partido em 2020 por acusações de envolvimento com grupos neonazistas) relativizam o passado da Alemanha, principalmente durante o período da Segunda Grande Guerra. O trágico passado alemão foi liderado por Adolf Hitler, filiado ao Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (NSDAP), possuía uma ideologia com temas que se assemelha ao discurso da ultradireita atual, como o militarismo, o ultranacionalismo e anticomunismo.


“AfD banido agora”, protesto ocorrido em Marburg, Alemanha/(Imagem: Unsplash)

Maximilian Krah, outro membro da AfD, revelou que não considerava automaticamente todos os membros de um notório grupo paramilitar nazista como criminosos. “Antes de declarar alguém criminoso, quero saber o que ele fez. Entre os 900 mil homens da SS havia também muitos agricultores: havia certamente uma elevada porcentagem de criminosos, mas nem todos o eram. Nunca direi que alguém que usasse um uniforme da SS era automaticamente um criminoso”, disse Krah ao La Repubblica. É importante ressaltar que os membros da SS eram designados para proteger os campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial.

Essa fala repercurtiu em toda a Europa e grupos de extrema-direita no continente, como o partido de direita francês Reunião Nacional (RN) se dissociaram da AfD. O doutorando em História Contemporânea pela Universität Berlin, Vinícius Bivar, explica a situação do partido no país; “Essa extrema-direita do século 21 se apropriou dessa estratégia – existir uma aparência de democracia, mas o fato é que as instituições foram tão erodidas que, na prática, não podem mais ser consideradas – que foi bem-sucedida no caso húngaro para, justamente, se colocar eleitoralmente como uma alternativa viável. Esse é um processo que demora mais tempo, tanto que a gente está, no caso da AfD, concretamente, desde 2013. O partido foi fundado já há mais de 10 anos. Então, foram 10 anos de normalização de um discurso autoritário e eventuais flertes com o nazismo”.

Apesar das investidas da AfD, o partido não possui quase nenhum apoio, o que dificulta suas chances de chegarem ao poder de forma rápida. “As pessoas continuam bastante sensibilizadas pela questão da imigração e pelo discurso anti-imigração que a AfD oferece. O que acontece é que também existe uma certa falsa percepção de segurança por parte de setores moderados da Alemanha, tanto dos eleitores quanto daqueles que integram o governo, de que o passado alemão, de certa forma, serviria como uma espécie de vacina contra a eclosão de um regime semelhante ao nazismo novamente”, explica Vinícius.

Ele traça um paralelo sobre a atuação da Alemanha nazista e do partido AfD. “O regime nazista, na década de 30, dificilmente seria bem sucedido na Alemanha do século 21. Acontece que as próprias estratégias e a maneira pela qual a AfD busca chegar ao poder são muito diferentes das estratégias que foram adotadas por Hitler na década de 30. E são justamente estratégias mais adequadas e atualizadas à sensibilidade do século 21 do que simplesmente uma reprodução do que aconteceu em 1933. Então, nesse sentido, esse processo que leva ao ganho de relevância e à normalização da AfD é muito mais paulatino do que foi naquela época”.

Itália

A extrema-direita na Itália vem crescendo cada vez mais, principalmente por conta da crise econômica, do aumento da imigração e de uma reação a políticas progressistas da União Europeia. Tendo em vista esses cenários, vários partidos começaram a surgir no país, mas três se destacam, sendo eles Fratelli d’Italia (Irmãos da Itália), Liga e Forza Nuova. O primeiro é o mais comentado na mídia e, talvez o mais influente, por enquanto.

Liderado por Giorgia Meloni, primeira-ministra italiana desde 2022, o partido Fratelli d’Italia (Fdl) foi fundado em 2012 e se inspira em um legado da direita pós-fascista. Isto é, defende ideologias como a Itália independente da União Europeia, forte posicionamento contra a imigração, família tradicional e crítica pautas de diversidade e inclusão. Adotando uma estratégia peculiar, Meloni decidiu ‘controlar’ a cultura do país: houve uma tomada agressiva de controle sobre museus, teatros, orquestras, feiras, prêmios literários, a Bienal de Veneza e universidades, criando uma hegemonia cultural que é totalmente supervisionada pelo governo.


Giorgia Meloni e Keir Starmer se encontram em Roma/(Imagem: Instagram)

“Se a gente puder falar de um fenômeno que de fato tem uma escala global que é fenômeno da guerra cultural. “Esse talvez seja o elemento que une todos esses movimentos que surgiram nos últimos anos. O Hindutva na Índia, o bolsonarismo no Brasil e os vários partidos de direita radical aqui da Europa”, explica Vinícius sobre a questão cultural que é explorada pelos grupos de ultra direitas pelo mundo. 

Além do controle sobre as belas-artes, a mídia italiana sofre um tipo de ‘censura’ também. Para Fábio Gentili, Graduado em Letras Modernas – Universidade “L’Orientale” de Nápoles-Itália e atualmente professor  Associado – Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC); “ a partir da década de 90, o setor privado ficou sobre controle do magnata da mídia”. Para ele, cada partido está filiado a um veículo e atualmente, quase todos são controlados pelo governo. 

Fabio conta que parte da visibilidade da extrema-direita se deve ao fracasso da aliança entre a esquerda italiana e o Movimento 5 Estrelas (M5S). A colaboração política surgiu durante um momento de instabilidade na Itália em 2019 e tinha por objetivo principal impedir que a Liga, partido de extrema-direita liderado por Matteo Salvini, assumisse mais controle no governo. A tentativa, por mais que tenha conseguido afastar Salvini por um tempo, culminou em uma derrota devido a divergências ideológicas, que culminou no desgaste da aliança. Com isso, abriram espaço para que a Liga recuperasse parte de sua popularidade em anos subsequentes.

Hoje, o Partido Fratelli d’Italia – Irmãos da Itália – é o que possui maior aprovação popular. Com quase 30% dos votos nas eleições de 2024 para o Parlamento Europeu, o grupo possui forte influência e consolidou-se como uma das principais forças políticas do país. 

Projeções

A extrema-direita é uma ideologia que vem sendo muito compartilhada por jovens, seja nos países das Américas ou da Europa. O apelo midiático e as propostas, apesar de diferentes devido a questões internas de cada nação, possuem alguns aspectos que se assemelham, revelando líderes que criam uma identidade para seu partido a partir de suas próprias convições.

“A ultradireita veio para ficar, no Brasil e no mundo, e o grande desafio é saber derrotá-la nos planos político, social, eleitoral, cultural e ideológico”, ressalta Jefferson. O cuidado com esses grupos radicais é necessário para a preservação, não só da democracia, mas dos direitos humanos.

Um comentário em “O levante da Extrema-Direita: como o mundo está redefinindo seus limites

  1. Nossa, nem a Globe faz uma matéria tão enviesada, esse é realmente o fim do jornalismo. Aparentemente não ensimam mais nas faculdades e escolas que os jornalistas NÃO DEVEM TER VIÉS IDEOLÓGICO em suas notícias. Falta de profissionalismo.

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