Iniciativa nasceu como trabalho de conclusão de curso em Design e recebeu apoio de professor.
Por Leonardo Quinalha
Seja um doce após o almoço ou um lanche rápido no intervalo da aula, a geladeira da 50s, na Unesp de Bauru, é a resposta certa para isso. A iniciativa é simples, mas cheia de significado, e ganhou destaque entre estudantes, professores e funcionários.
O refrigerador compartilhado, conhecido como geladeira da 50s, oferece um espaço para aqueles que necessitam possam guardar suas marmitas, seja as do Restaurante Universitário (RU) do campus ou trazidas de casa. Mas servem também para aqueles que querem apenas comprar um lanche rápido.
A geladeira compartilhada foi idealizada pelo aluno do curso de design Vitor Marchi como seu TCC. “Ele queria falar de economia circular, empreendedorismo, só que não queria falar de forma escrita,” conta o professor orientador do projeto, Dorival Campos Rossi. Além disso, o projeto abordava o design colaborativo, uma área do campo de design de serviços, e as salas 50s não foram escolhidas aleatoriamente, pois a geladeira influencia o design da área.

A geladeira da 50s/Imagem: Leonardo Quinalha
A ideia do projeto começou em 2010, quando o aluno começou a realizar seu trabalho de conclusão de curso e a geladeira foi a parte prática deste projeto que está lá desde 2017. No começo a ideia era de fazer uma geladeira para que as pessoas comprassem produtos de hortifruti, colocando o dinheiro em uma caixinha dentro da geladeira e pegando o produto. Havia também uma divisão na geladeira que era para compartilhar, onde tudo que estivesse naquela parte era permitido pegar, conta o professor.
A iniciativa foi particular de um aluno que juntou o dinheiro do estágio que fazia por cinco anos para comprar a geladeira e que encontrou um professor que apoiasse. “Se na época eu fosse no meu departamento e falasse de colocar uma geladeira ali iam me chamar de louco”, afirma o professor Dorival.
Sem o apoio da universidade, a geladeira foi trazida do dia pra noite: “as pessoas ficaram sem entender, pois ninguém sabia o que era e a gente também não falava, mas com o tempo foram entendendo a proposta”.

Placa de “Não furte ! Apoie”/Imagem: Leonardo Quinalha
A geladeira é mantida limpa e organizada pelos próprios usuários e por uma aluna bolsista que cuida da geladeira, que se compromete a cuidar do espaço de forma coletiva. Há uma conscientização crescente entre os estudantes sobre a importância de usar o móvel de forma responsável, com muitos avisos de conscientização para apoiar e não furtar.
Em termos de funcionamento, a geladeira fica disponível durante todo o horário de expediente da universidade, e é visível e de fácil acesso para quem deseja comprar. A gestão do espaço é feita pela inscrição em um formulário, porém possui lista de espera, pois no momento existem mais de 40 alunos empreendedores dispostos a vender lá.
A ideia da geladeira compartilhada ganhou popularidade e, atualmente, a Unesp está copiando a ideia para outros campi, por ter visto deu certo. “Vocês que usam a geladeira viram que deu certo e deu muito certo”, conta Dorival. Essa popularidade do projeto o fez aparecer em grandes portais de notícia como o G1 e o R7.

Foto da matéria do G1 sobre a geladeira/Imagem: Reprodução
O projeto também serve como uma forma de conscientizar sobre o caráter e a honestidade das pessoas ao comprarem um produto que está na geladeira sem supervisão alguma. “Antes da pandemia era bem instituído esse senso de comunidade, depois dela os alunos novos não entendiam e apenas pegavam os produtos sem pagar, a geladeira pode ter surgido do dia para a noite mas o processo de conscientização e criação dessa ideia de apoio aos vendedores na comunidade estudantil levou anos para surgir”, conta o professor.
“Já roubaram alguns brownies que eu vendo, mas isso não acontece mais tanto, e nunca tive prejuízo”, comenta Maria Clara, estudante de Arquitetura que vende na geladeira há alguns anos. A ideia de fazer campanhas educativas sobre o apoio aos empreendedores da geladeira e como ela funciona é algo que o professor Dorival continua até hoje com um vídeo explicativo que reproduz em sua disciplina todos os anos.
O lucro obtido pelos alunos que vendem produtos na geladeira serve para abastecer o cartão das passagens de ônibus e também comprar as refeições no RU. “Já consegui comprar muita coisa com o dinheiro que ganhei com as vendas” completa Maria Clara.
Em um cenário onde as desigualdades sociais ainda são um desafio em muitas instituições de ensino, iniciativas como a geladeira compartilhada são um exemplo claro de que pequenas ações podem transformar realidades, criando uma universidade mais unida e incentivando a autonomia dos alunos. É também um elo importante no fortalecimento da comunidade acadêmica e no incentivo ao desenvolvimento de práticas mais responsáveis, colaborativas e que fazem com que a faculdade seja um ambiente mais humano e civilizado.
