Um alerta sobre os impactos econômicos e a urgência de estratégias para a preservação ambiental e o desenvolvimento sustentável.

Por João Vitor Soares Fidelis

As queimadas no Brasil têm se tornado um tema constante nas discussões sobre meio ambiente e desenvolvimento sustentável. Entretanto, além das preocupações ecológicas, os incêndios florestais exercem impactos diretos e indiretos na economia do país. Num cenário em que o Brasil luta para equilibrar crescimento econômico e preservação ambiental, torna-se necessário compreender a magnitude das consequências econômicas provocadas pelas queimadas.

Uma pesquisa realizada pela Confederação Nacional de Municípios (CNM), indicou que os incêndios florestais no Brasil, entre 2015 e 2021, resultaram em perdas de R$ 1,1 bilhão. Três anos depois, apenas os incêndios ocorridos em agosto no estado de São Paulo geraram prejuízos que ultrapassaram R$ 1 bilhão.

O Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) informou que 16 Estados (entre eles Amazonas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro) e o Distrito Federal registraram, em 2024, o período mais seco dos últimos 44 anos, o que tem dificultado o controle de incêndios. Tendo em vista que em agosto, o estado de Mato Grosso declarou situação de emergência por um período de 180 dias devido à severa seca e aos incêndios florestais que afetaram a região.

Vale ressaltar que Mato Grosso é o principal produtor de soja, milho e algodão do país, sendo a unidade federativa com o maior valor de produção agrícola. Em 2022, a produção do estado gerou R$ 174,8 bilhões, um acréscimo de 15,2%.

Brigadistas do Prevfogo/Ibama e ICMBio combatem incêndios florestais na Terra Indígena Tenharim/Marmelos, no Amazonas

Nos últimos anos, a intensidade e a frequência das queimadas no Brasil aumentaram, principalmente em períodos de seca. De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), apenas em 2023, o país registrou um aumento significativo no número de focos de incêndio, principalmente na Amazônia Legal. As causas das queimadas são multifatoriais, envolvendo práticas de desmatamento ilegal, expansão da agropecuária e cultivo de commodities, bem como fenômenos naturais.

Wagner Constantino, geógrafo formado pela USP, afirma que “o aumento das queimadas tem relação direta com a variabilidade climática e com as práticas humanas, como a queimada agrícola para limpeza de solo e o desmatamento ilegal. Esse cenário é agravado pelo aquecimento global e pelos eventos climáticos extremos, como o El Niño, que tem intensificado as ondas de calor e prolongado a seca, deixando os biomas ainda mais vulneráveis ao fogo”.

As queimadas têm impacto direto na agricultura, um dos pilares da economia brasileira. Embora algumas práticas de queima controlada possam ser utilizadas por pequenos agricultores para preparar a terra, a ilegalidade da prática em larga escala e os incêndios descontrolados resultam na degradação do solo, perda de biodiversidade e comprometimento da qualidade do ar.

João Victor Araújo, estudante de economia da USP, destaca que “os impactos são visíveis na queda da produtividade agrícola e no aumento dos custos de produção. A agricultura é responsável pela maior parte das exportações brasileiras, e a destruição de terras férteis afeta diretamente o saldo da balança comercial. Quando se perde produção, o reflexo no PIB é imediato, afetando não apenas os exportadores, mas toda a cadeia de abastecimento nacional”.

Ao ser questionado sobre como as queimadas impactam a sustentabilidade a longo prazo das atividades econômicas, como a agropecuária, ele explica que “no caso das atividades agropecuárias, isso pode causar prejuízos econômicos irreversíveis para produtores que perderam suas terras ou animais com as chamas. A diminuição da oferta agrícola também aumenta os preços dos produtos, o que impacta diretamente na inflação dos alimentos, afetando o poder de compra da população”.

O efeito “ciclone” das queimadas pode ser devastador: os incêndios liberam grandes quantidades de carbono, contribuindo para mudanças climáticas e afugentando investidores. Além disso, a fumaça das queimadas afeta diretamente a saúde pública, levando a um aumento nos gastos com saúde e redução da produtividade. Crianças e idosos são os mais afetados por problemas respiratórios, que geram custos altos para o sistema de saúde pública.

A pecuária, fundamental para o Brasil, é um dos maiores mercados de exportação do agronegócio, também é impactada pelas queimadas. Quando áreas significativas de pastagens são consumidas pelo fogo, a capacidade de suporte do solo é reduzida, levando à escassez de pasto e à morte de gado. Essa situação cria uma crise que se reflete em taxas crescentes de inflação, afetando não apenas os pecuaristas, mas toda a população que depende da carne como base alimentar.

Outro setor que sofre as consequências das queimadas é o turismo. Composto por áreas cuja beleza natural é um dos principais atrativos, a Amazônia e outras regiões afetadas por queimadas enfrentam desafios para a continuidade de suas atividades turísticas. O aumento da poluição do ar e a destruição de paisagens naturais reduzem a captação de visitantes, impactando o que poderia ser uma fonte de renda em comunidades locais, explica João Victor.

O turismo sustentável, que promove experiências autênticas e destaca a riqueza da biodiversidade, está ameaçado. Com a degradação ambiental, a própria identidade cultural e histórica das comunidades está em risco, tornando-as ainda mais vulneráveis em um cenário econômico já instável.

Além dos impactos diretos nos setores agrícolas, pecuários e turísticos, as queimadas podem afetar a percepção do Brasil no comércio exterior. A imagem do país, historicamente ligada às suas florestas exuberantes e rica biodiversidade, tem sido constantemente fragilizada por ações irresponsáveis de desmatamento e incêndios florestais. Essa alteração da imagem pode levar a mudanças nas relações comerciais, com países aumentando a regulamentação sobre a importação de produtos brasileiros, principalmente aqueles relacionados à agropecuária.

Além disso, a pressão internacional sobre a produção pecuária do Brasil aumenta a cada ano. Inúmeras iniciativas de empresas e governos buscam práticas mais sustentáveis, que considerem a preservação ambiental. O desmatamento causado pelas queimadas coloca em risco acordos internacionais e pode desencadear tarifas e embargos que afetariam o setor.

“A gestão do território é uma das principais ferramentas para mitigar os impactos das queimadas. O zoneamento ambiental, o planejamento territorial e a recuperação de áreas degradadas são essenciais para evitar que os incêndios se espalhem ainda mais”, reforça Wagner. Ele ainda destaca a importância da educação ambiental para conscientizar as populações locais sobre o uso adequado do solo.

“O governo precisa investir mais na fiscalização e no controle das práticas de queimada, além de oferecer ajuda financeira para produtores que sofreram com as queimadas. Essas são possíveis formas de minimizar os danos econômicos e garantir a recuperação dos setores afetados.”, finaliza João, alertando sobre a necessidade de ações preventivas.

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