Por Bianca Costa
Em um cenário em que os biomas estão sendo engolidos pelo fogo e milhões de brasileiros sofrem com um ar quase impossível de respirar, o Brasil alcança os piores recordes de queimadas do país em 2024. Com o crescimento das estiagens, temperaturas altíssimas e incêndios criminosos, o fogo se alastrou rapidamente. Logo, o rastro de destruição chegou às cidades em forma de incêndio e fumaça, conduzindo o Brasil para os piores índices de poluição do ar ao longo de vários dias.
A problemática no meio ambiente tem foco especialmente na Amazônia e no Pantanal, devido ao maior índice de queimadas. O que não afeta apenas os dois locais, resultando na formação de um corredor de fumaça que tem deixado pelo menos 10 estados brasileiros em estado de alerta.
Embora o país tenha experimentado uma redução nas queimadas durante o governo de Jair Bolsonaro (2019-2022), caracterizado por uma forte pressão sobre as políticas ambientais, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva tem enfrentado desafios para reverter essa tendência e combater esse problema de forma eficaz.
Nos últimos anos, a questão ambiental no Brasil passou a ser um tema de grande polarização política. O governo de Jair Bolsonaro, por exemplo, foi criticado tanto no Brasil quanto internacionalmente por adotar uma postura inclinada ao agronegócio e à exploração de recursos naturais, resultando em um aumento no desmatamento da Amazônia e no enfraquecimento da fiscalização ambiental.
Segundo Danielle Marton, estudante de Ciências Sociais na USP, “Bolsonaro lidou de forma criminosa e negligente nas pautas climáticas e ambientais, por meio de um discurso fundamentado sobretudo no negacionismo científico”. Sendo assim, são vários os desafios para a construção de um debate qualificado e para a recuperação das pautas de meio ambiente. Danielle ainda confirma que no atual cenário nacional e internacional, “o Brasil protagoniza um espaço de liderança no enfrentamento às crises climáticas, espaço retomado com a implementação de políticas públicas sérias e com muita luta, como tudo nesse país”.
O atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, ficou conhecido por implementar políticas de controle do desmatamento e promover um desenvolvimento mais sustentável no país em seus mandatos anteriores (2003-2010).
Ao tomar posse de sua atual gestão, Lula prometeu priorizar as pautas voltadas à preservação do meio ambiente no Brasil, que seria líder no enfrentamento à crise climática e alcançaria o desmatamento zero na Amazônia. Durante seu discurso na Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em setembro, o presidente reafirmou um compromisso bem explorado por ele no período de campanha eleitoral, em 2022: proteger a Amazônia e combater as mudanças climáticas.
Sobre as decisões do atual presidente, a estudante da FFLCH afirmou que “o governo Lula respondeu com a maior operação de combate às queimadas já implementadas no Brasil”. Ou seja, houve sim um avanço notório de ações para o enfrentamento dessa questão. Danielle explicou também que nesse ano, o orçamento destinado ao combate de incêndios florestais corresponde a R$111,3 milhões, ou seja, um aumento significativo quando comparado ao orçamento de 2022, que foi de R$60 milhões.
Além disso, a questão das queimadas tem um impacto significativo na imagem internacional do Brasil. Líderes globais, organizações ambientais e empresas estão de olho na evolução das políticas do governo Lula, especialmente após compromissos internacionais assumidos em cúpulas climáticas como a COP 27. A pressão externa por uma ação mais eficaz no combate ao desmatamento e às queimadas continua sendo um fator importante que pode influenciar a postura do governo.
A solução para o aumento das queimadas no governo Lula requer um esforço conjunto entre políticas públicas de longo prazo, fiscalização rigorosa e a conscientização de diversos setores da sociedade. O Brasil também precisa buscar formas de incentivar a sustentabilidade da agricultura e da pecuária, alternativas que não dependam da destruição das florestas para expansão da produção.
Em entrevista, Ives Barreto, formado em Ecologia pela UNESP e pós-graduado em Gestão, Licenciamento e Auditoria Ambiental, também comenta sobre o atual governo e sua postura, “O governo Lula, e seu ministério do meio ambiente, tem sido criticado devido ao recorde de queimadas, o que não tem uma relação direta com a postura do governo, mas exige sim um posicionamento mais rígido, como pudemos ver o recente aumento das penas para crimes ambientais, a criação da Autoridade Climática e a Política Nacional de Manejo Integrado do Fogo”. Ações como essa demonstram a preocupação do governo em tentar mitigar o problema, ao invés de negá-lo. “Ainda não é o suficiente, mas é uma postura que deve ser tomada”, completa.
Ainda sobre o governo Lula, o ecologista acrescenta que “o governo Lula aumentou recentemente a penalidade para crimes ambientais. Uma boa medida, mas que demorou. No Brasil, como um todo, existe a cultura de remediar ao invés de prevenir. Primeiro acontece, depois busca-se a punição ou a resposta para o feito”.
Ele explica também que “a fiscalização ambiental a nível federal, através de órgãos ligados ao MMA, como o ICMBio e IBAMA, sofrem redução de servidores. Acabam sendo equipes reduzidas para lidar com muitas demandas. Isso veio sendo cobrado do governo, os próprios servidores ambientais fizeram greves em busca de melhores condições salariais e planos mais estruturados de carreira. Sabemos que isso não é”culpa” do atual governo, mas uma hora a bomba estoura e quando isso acontece quem está no governo precisa resolver”, completa.
Ou seja, embora o governo Lula tenha avançado em aspectos da preservação ambiental, o aumento das queimadas nos primeiros meses de seu mandato revela a complexidade desse desafio. Suas ideias para o mandato, ainda que promissoras, não seriam tão simples na prática, já que o petista herdaria graves problemas deixados pelo seu antecessor.
A preservação da fauna e flora brasileira, principalmente na Amazônia e no Pantanal, exigirá um equilíbrio entre desenvolvimento econômico e proteção ambiental, além de grande esforço para conter a exploração ilegal da terra e a destruição de ecossistemas vitais. O monitoramento contínuo, a fiscalização efetiva e o fortalecimento de políticas públicas voltadas à sustentabilidade serão essenciais para reduzir as queimadas e garantir a proteção do meio ambiente.
Ives finaliza ressaltando para a população que “preservar o meio ambiente não deveria ser uma ideologia ou um interesse de um grupo. É preciso ficar claro que sem um ambiente equilibrado, vidas são prejudicadas e, na dinâmica da natureza, todos estamos interligados. Todos precisamos uns dos outros”.
