Queda na qualidade do ar afeta a saúde dos brasileiros; problemas respiratórios se destacam.
Por Rafael Prudente
Em 2024, o Brasil enfrenta uma das maiores crises climáticas de toda a sua história. As secas e queimadas vêm afetando todo o território nacional, em especial a região Nordeste e Centro-oeste. Segundo dados oficiais, 60% de todo o território brasileiro estão sendo afetados pela crise climática, que em decorrência atinge a saúde de toda a população nacional e o próprio sistema de saúde, já fragilizado.
A crise é resultado de uma série de fatores climáticos, o mais proeminente deles sendo o El Niño, que consiste no aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico Equatorial. Esse fenômeno tem impacto direto nas chuvas do Brasil, diminuindo-as em regiões que já sofrem com a falta de precipitações. A intensificação dos períodos de seca resulta na queda dos níveis de reservatório de água e aumento da crise hídrica, que causa o agravamento de problemas de saúde na população afetada.
A escassez de água potável é o principal fator de desidratação nas cidades com racionamento severo de água, principalmente entre grupos vulneráveis como crianças e idosos. A falta de água limpa também aumenta a propagação de doenças transmitidas por água contaminada.
“A desidratação acontece quando o corpo perde mais água do que ingere. E isso afeta várias áreas do corpo, como o cérebro, causando tontura e falta de foco, ou nos rins, que dificulta a filtragem de toxinas. No coração o volume sanguíneo é reduzido, causando queda de pressão e acelerando o ritmo cardíaco. A digestão fica prejudicada e o sistema imunológico enfraquecido”, explica Augusto Brandini Batagliotti, aluno de Medicina da UNINOVE.
“Para prevenir é importante ajustar a dieta, comer frutas e legumes, evitar os diuréticos, como café e álcool e observar a cor da urina, quanto mais claro, melhor hidratado o corpo está”, recomenda Augusto.
Outro fator agravante para a saúde da população são as queimadas, que possuem tanto origem natural, com a falta de precipitações, e origem criminosa. A fumaça resultante dos incêndios florestais aumenta a poluição, já muito presente nos grandes centros urbanos como São Paulo, e eleva os casos de doenças respiratórias, como asma e bronquite. Alguns hospitais na região metropolitana de São Paulo já registraram aumento de 15% no número de atendimentos relacionados a problemas respiratórios.
“Então, além desses materiais de queimadas, a gente também está tendo muito materiais de varredura do vento, né? Então, areia, poeira, essas coisas todas. Isso realmente atrapalha de uma forma bem significativa, agrava as doenças respiratórias”, diz o pediatra Pedro Nicolasa.
A péssima qualidade do ar já vem afetando algumas regiões do país de forma significativa. A região Norte já registra uma concentração de materiais particulados de 250 µg/m³, a OMS diz que o ar deve ter uma variação entre 5 e 15µg/m³, completamente diferente do registrado na região. Toda essa poluição se reflete na atmosfera e atinge os corpos das pessoas afetadas.
“Não há dúvida que isso tudo, essa associação de coisas, de agentes poluentes que se precipitam e ficam, principalmente à noite, quando esses poluentes caem na atmosfera e ficam muito próximos da gente. Então, todas essas partículas que sobem com o vento, a baixa umidade relativa do ar, você vai ter poluentes de queimadas, de chaminés, de materiais de indústria, e você vai ter também esses poluentes mais naturais, que é a poeira da rua, a poeira do ambiente, que, com o vento, acaba subindo”, explica o pediatra.
Essa crise hídrica não afeta somente a população, mas também o próprio sistema de saúde como um todo. Procedimentos básicos, cuidado de pacientes e limpeza de aparelhos médicos necessitam de água limpa, o que está faltando em muitas regiões. Em decorrência, a superlotação das emergências, impulsionada pelo número crescente de pacientes com problemas de saúde relacionados à crise hídrica e à poluição, coloca ainda mais pressão sobre o sistema.
É um ciclo, enquanto a população afetada busca ajuda médica, os hospitais carecem de água para o tratamento, aumentando ainda mais a lotação de pessoas por falta de água e agravando casos de contaminação cruzada.
O governo e diversos órgãos sociais estão buscando formas de prevenir e contornar os problemas de saúde decorrentes da crise climática. No início do mês de setembro, o Ministério da Saúde investiu R$500 milhões em insumos, incluindo água potável, para as regiões do Norte, bastante afetadas pelas queimadas, por serem muito próximas da Amazônia, zona de grande concentração de incêndios florestais. Alguns métodos de prevenção para a fumaça advinda das queimadas também estão sendo esmiuçados pelos médicos.
“Nessas altas temperaturas, a gente começou a observar que é melhor fechar a nossa casa. Aí a gente fecha portas e janelas para ter uma menor incidência de ar quente dentro do ambiente. É bem verdade que isso se resolve durante um tempo, mas não todo o tempo. Não deixar de se hidratar bastante, usar roupas frescas, tomar muita água e melhorar a qualidade do ar com um humidificador ou com a famosa e velha toalha úmida dentro de uma bacia à noite para dormir no quarto ou durante o dia em um ambiente onde a gente está mais presente, umidificando assim o ambiente”, recomenda o Dr. Pedro Nicolasa.
Entretanto, especialistas dizem que os esforços das ações governamentais vêm sendo insuficientes para conter a magnitude dos desafios impostos. Segundo a nota técnica da Secretaria Brasileira de Pesquisa Científica, a SPBC, os parâmetros que estão sendo utilizados para definir as contramedidas para a questão das queimadas está atrasado em 35 anos, mostrando que o Brasil está em descompasso com as recomendações internacionais sobre o impacto da poluição na saúde humana, impactando assim a saúde pública brasileira.
Muitos pesquisadores estão buscando novas formas de lidar com as mudanças climáticas para o bem da saúde da população, mas ficou claro, segundo os órgãos de pesquisa, que isso deve ser uma ação não só do governo, mas também em união com a própria população. As secas e queimadas não são uma história nova para o povo brasileiro, mas a intensidade e recorrência vem aumentando com o passar do tempo, por isso é essencial o esforço do governo e da sociedade para mitigar os impactos dessa crise.
