Por LIVIA MARIA CAMPESATO

Novas maneiras de pregar o evangelho dominam o Brasil usando recursos nada tradicionais para o estereótipo das igrejas. Aproximar o público jovem e expandir sua comunicação para as redes sociais são os principais efeitos práticos da expansão religiosa.

Hillsong Church: polêmicas e influência religiosas

O fenômeno teve maior visibilidade com o crescimento da Hillsong Church, fundada pelos pastores Brian e Bobby Houston em 1983 na Austrália. A Hillsong planejava criar um novo espaço para adoração, inovando nas maneiras de pregar o evangelho, usando a música como elemento principal em seus cultos e até lançaram uma banda de sucesso internacional. O pensamento visionário consolidou novos louvores com milhões de visualizações na internet e interpretações em diversos idiomas, incluindo em português pela cantora gospel Aline Barros.

A participação de nomes populares – como Chris Pratt, Lana Del Rey, o clã Kardashian-Jenner, o casal Justin e Hailey Bieber – potencializam a sua popularidade, além de ampliar a influência no público. Mesmo com a fama, a instituição está envolvida em polêmicas, como as acusações de racismo, homofobia e lavagem de dinheiro, assuntos que renderam até mesmo duas séries documentais, uma produzida pela Disney + e a outra pela Prime Video.

As denúncias não foram impedimento para a sua expansão e domínio. A igreja está presente em mais de 10 países, tornando-se uma fonte de lucro no meio religioso para os fundadores.

Com a maior parte da população cristã, mais de 80% dos brasileiros (IBGE), a igreja ganhou um espaço próprio nas terras brasileiras e com os evangélicos em 2016, com a fundação da Hillsong São Paulo. A partir disso, surgiram “réplicas” em todo o país.

Igreja deixa de ser igreja e vira um shopping”

O pastor Pedro Vuks, líder geral da juventude na Igreja Batista Atitude, utiliza uma abordagem semelhante da Hillsong em suas pregações. Atualmente, Pedro também é artista musical e compartilha sua rotina nas redes sociais, contando com mais de 35 mil seguidores no Instagram.

Pastor Pedro Vuks – fonte: Instagram

Ele conta que usa estratégias de comunicação para atingir o público, adaptando para cada faixa etária e pensando em sua realidade, tornando sua atuação mais pessoal e efetiva. “Buscamos responder aos anseios dos nossos públicos com unção (benção e permissão de Deus para algo), criatividade e profecia”, disse ele.

Segundo o pastor, as igrejas com esse formato moderno contam com uma equipe focada em trazer tecnologias e novos modos de transmissão para fazer o público permanecer no meio religioso. As atividades da equipe são notadas até mesmo durante os cultos que contam com uma “repaginada” no tradicional púlpito, iluminação baixa, telões enormes e jogo de luzes, muito similar com a estrutura de shows.

“Isso não substitui a pregação pura e simples mas colabora de forma positiva para tudo que estamos propondo”, declara Pedro sobre o assunto. “Tudo tem limite. Tudo tem utilidade. Enquanto o evangelho for apresentado em sua essência eu não vejo problemas”, continua.

O músico gospel alerta sobre não aceitar tudo que é proposto. Ele enfatiza que a igreja evangélica possui o compromisso de pregar e manter a ética. “Necessário buscar equilíbrio porque caso contrário a igreja deixa de ser igreja e vira um shopping”, fala.

A contradição em jovens conservadores e igrejas modernas

Estudos ao redor do mundo, como a produzida pelo King’s College (universidade pública inglesa focada em pesquisa), evidenciam a ascensão de partidos políticos de extrema direita, além de uma divisão ideológica. O fenômeno é surpreendente e inesperado por englobar também os jovens e adolescentes, principalmente homens brancos.

A contradição é detalhada pelo historiador, teólogo e padre Roberto Francisco Daniel, conhecido como padre Beto, que explica sobre o atual cenário evangélico relacionado à política no país. “Existe um leque enorme de igrejas evangélicas”, disse.

Pastor Beto – fonte: arquivo pessoal

Ele cita o trabalho político do pastor Henrique Vieira (deputado federal pelo PSOL) e logo depois a Frente Parlamentar Evangélica (reunião de deputados e senadores cristãos) para exemplificar a diferença entre eles.

Padre Beto evidencia que uma das possibilidades para o envolvimento político de evangélicos neopentecostais (igreja fundada na década 70 com temática em uma guerra espiritual, a Teologia do Domínio), principalmente com o aparecimento de figuras jovens, seria um método de domínio social. “Ou seja, é criar um Estado teocrático. No fundo, o que é absurdo. Mas eu acredito que seja esse o porquê da mudança e o porquê da nova estratégia”, explica.

As preocupações do padre Beto se assemelham com as do pastor Pedro. Ele diz que a religião possui o poder de influenciar a criação de uma “atmosfera”, ou seja, de propagar uma ideia e a mesma ser repetida nos diversos lares de seus fiéis. “Criando um saber e vendendo a ideia de que [esse] saber é a verdade. E no campo religioso se torna mais drástico”, falou o padre.

Ele explora a profundidade religiosa dentro do contexto familiar e como pode ter impacto na sociedade. “É um peso muito forte e naturalmente é passado de pai para filho. E vai sendo incutido desde muito cedo”, discorreu.

Para exemplificar a proporção, o padre utiliza dos casos de suicídio dos jovens LGBTQIA+ ligados ao campo religioso. “Sentem que a sua natureza é contra Deus, o que é terrível. E que pode gerar, inclusive, o suicídio”, relata.

Ainda relacionando a juventude brasileira com as igrejas evangélicas, Roberto alega que outro efeito é a crescente simpatização de jovens por ideologias conservadoras. “Quer dizer, as igrejas precisam de número de fiéis. Ao mesmo tempo, esses jovens precisam de um

Deixe um comentário