Sessão da 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo (Foto: Guilherme Moraes)

Em homenagem ao cineasta indiano Satyajit Ray, a 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo decidiu transformar o evento em uma grande celebração da cultura e da diversidade indiana.

PorGuilherme Moraes

Todos os anos, no mês de outubro, ocorre em São Paulo um evento que reúne diversas obras cinematográficas do mundo inteiro. Esse evento é chamado de Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que divide os filmes em várias seções e a cada ano celebra a filmografia de um diretor importante para a história do cinema.

Este ano comemoramos a 48ª Mostra, com homenagem ao diretor indiano Satyajit Ray, conhecido por “A Canção da Estrada”da trilogia Apu. No entanto, nessa edição eles decidiram promover também debates e palestras para falar sobre o Cinema e a história da Índia, além de trazer a culinária e grupos de dança temáticos do país.

Durante a masterclass “A evolução do cinema e as mudanças sociais e culturais da Índia”, que ocorreu na Cinemateca Brasileira, a jornalista Florência Costa falou sobre as diversas ‘Índias’ que existem dentro de uma só. “Quando você fala da Índia, você tem que explicar essa diversidade, que interfere em todos os aspectos da história e da cultura”. Além disso, ela fala sobre a variedade de indústrias cinematográficas dentro do país. “A mais famosa indústria é Bollywood. A gente foca mais nela porque se tornou mais famosa e exportou para o mundo todo, mas também tem a Tollywood… Mollywood… Kollywood”.

Além do cinema industrial, existe também o cinema independente no qual o próprio Satyajit Ray se criou. Em uma mesa de debates sobre o cinema indiano promovida pela Mostra, a produtora de arte, Juily Manghirmalani falou sobre a cinematografia local. “Na década de 1950, o Cinema do país se estabelece e começam a produzir filmes que focam na classe média e seus problemas”. Ela fala também sobre o cinema paralelo no qual o diretor temático da mostra foi um dos expoentes e que, diferente do comercial, ele falava sobre as realidades da sociedade. “Ele vai olhar para a Índia e os temas que não estão sendo ditos. Ele vai olhar para o campo, para as crianças e para a mulher especificamente”.


Chamada para o Bloco Bollywood (Foto: Guilherme Moraes)

Durante a Mostra, foram exibidos diversos filmes do cinema independente indiano, que fizeram parte da seção Foco Índia e contaram com cerca de 30 títulos, dentre eles sete eram da filmografia de Satyajit Ray e demais foram feitos nos últimos dois anos. Estas obras demonstraram grande variedade de temas, e retratam bem as “diversas Índias” que Florência Costa falou e as realidades sociais.

“Na Barriga de um Tigre”, de Jatla Siddartha, dialoga com o clássico “Canção da Estrada”, e ambos expressam a vida familiar e as relações com outras famílias em meio a uma situação precária.

O filme “Marchando na Escuridão”, de Kinshuk Surjan, relata um problema muito específico das zonas rurais da Índia, em que muitos homens se suicidam por causa da humilhação que sentem ao deixar a família endividada, e para além disso, existe uma discussão sobre se as viúvas podem ou não se casar após a morte do marido.

Em “Segunda Chance”, de Subhadra Mahajan, existe uma relação conflituosa entre a protagonista e seus pais, pois eles sentem vergonha da filha por ter feito um aborto ilícito. Além disso, perpassam outras temáticas que são mais próprias da Índia, como o casamento arranjado de homens mais velhos com mulheres mais novas.

Além dos filmes, das palestras e das mesas temáticas, a Mostra utilizou o espaço da Cinemateca para criar uma praça de alimentação com uma diversidade culinária, com comida italiana, argentina e indiana.

A organização também ofereceu alguns bolinhos típicos do país depois da sessão, no dia 26 de Outubro, de “Tudo Que Imaginamos Como Luz”, de Payal Kapadia. Antes da sessão, ainda houve o Bloco Bollywood, dedicado à música indiana, com uma apresentação de dança, feita pela comunidade indiana que se apresenta no Carnaval de São Paulo.

Juily Manghirmalani ressaltou como a dança é fundamental na cultura e na história indiana. “Contar a história indiana perpassa o teatro e perpassa a dança… as danças indianas costumam ser muito teatrais”.


Bloco Bollywood antes da sessão de Tudo que Imaginamos como Luz (Foto: Guilherme Moraes)

O grande chamariz da cultura indiana nessa edição da Mostra foi o filme “Tudo Que Imaginamos Como Luz”, vencedor do grande prêmio do Júri no Festival de Cannes, que lotou as sessões na cinemateca. Assim como os outros filmes citados, o longa traz características únicas da Índia, como a relação de uma mulher com o seu marido que precisou mudar de país para trabalhar, mas que acaba abandonando a esposa em uma situação precária, o que já era retratado em “A Canção da Estrada”.

O repórter indiano Shobhan Saxena também participou da masterclass para falar sobre a história do seu país e valorizar o seu cinema. Ele explica que o filme Awara (1951), foi o que mais vendeu ingressos na história. Foram 26 milhões de ingressos só na Rússia e mais 30 milhões na China.

“Todo mundo tá falando que a Índia, que Bollywood está virando uma líder de filmes, mas a Índia já era uma líder de filmes”. A fala de Shobhan Saxena casa com o que Juily Manghirmalani disse sobre termos um olhar padronizado, de olharmos apenas para os cinemas europeus e japoneses. “Eu acho isso triste, porque se a gente for olhar para a indústria indiana, ela é a segunda maior produtora mundial”.

A produtora fala também da relação do cinema com a mitologia e a religião desde o primeiro cinema. “As histórias elas são mitológicas, elas têm uma influência de dois grandes épicos: O Mahabharata e O Ramayana”. Essa relação é possível ver até mesmo em alguns filmes da Mostra, como o “Na Barriga do Tigre”, em que abre com uma peça de Teatro sobre um Deus que escuta um pedido de ajuda.


Festa de encerramento da Mostra (Foto: Kauã Nunes)

A 48ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo se encerrou na noite do dia 30, com o filme “Megalópoles”, do lendário diretor Francis Ford Coppola, e com a presença do próprio. No entanto, ainda é possível assistir alguns filmes da Mostra na repescagem que vai até o dia 6 de novembro. Veja abaixo os filmes indianos que estão na repescagem e onde assistir:

  • Tudo Que Imaginamos Como Luz – Cinesesc, dia 1 de Novembro às 16:40
  • Gulmohar – Cinesesc, dia de Novembro às 20:15

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