Em entrevista para o jornal Contexto, Bruno Ribeiro conta sua trajetória e dá dicas para jornalistas iniciantes
Por Sofia Peres Rodrigues Caldas
“Foi como se as escamas dos meus olhos tivessem caído. Era a escolha mais óbvia”. Foi assim que Bruno Ribeiro, ex-aluno da Unesp, definiu sua opção pelo curso de jornalismo, que iniciou em 2014. Amante de esportes, nascido e criado na cidade de Bauru e muito influenciado pela cena esportiva da cidade, que comporta grandes times como Bauru Basket, Noroeste e o vôlei do Sesi, Bruno, por meio de uma conversa com um amigo também interessado pela área, decidiu o que lhe traria uma carreira brilhante, repleta de desafios e realizações.
Sempre muito aberto às diversas áreas do jornalismo, Ribeiro acredita que um bom jornalista não deve e, na verdade, nem consegue, se limitar a uma editoria. “É preciso saber um pouco de muito, não muito de pouco”, diz o egresso da Unesp em entrevista para o jornal Contexto. E ainda prossegue em tom descontraído: “jornalista não casa com editoria, mas sim namora”.
Bruno já produziu revistas sobre k-pop, vida saudável, política e até envolvendo contos eróticos. Para ele, falar sobre diversos assuntos é importante tanto para a adaptação ao mercado de trabalho, em que nunca se tem certeza da área de atuação, quanto para a formação do profissional, que precisa ter um olhar amplo e diverso para realizar sua função.

O atual gerente de comunicação e marketing do Bauru Basket iniciou sua trajetória com a Locomotiva Esportiva, portal de cobertura do esporte bauruense criado por ele e um grupo de amigos ainda durante a faculdade. O site se destacou a partir de matérias hard news, entrevistas especiais e furos de reportagem, fazendo com que o trabalho fosse visto por outros veículos.
Para Ribeiro, começar a carreira com a cena local é muito enriquecedor e é “melhor do que ficar em casa e escrever sobre o âmbito nacional, por exemplo”. A partir dessas experiências, Bruno acredita que se tem mais contato com o fazer jornalístico, com os fatos e as fontes, além de ser mais interessante para jornalistas que ainda não tem “um nome”.
Bruno também atuou no Grupo Alto Astral, que teve, por muito tempo, a segunda maior editora do Brasil. De estagiário a editor, passando pelas áreas de esporte, cultura, história e comportamento, o jornalista trabalhava com produtos como revistas especiais sobre datas, a exemplo da edição dos 25 anos da morte de Ayrton Senna e do final de semana histórico do Flamengo em 2019 (revista que teve uma tiragem de cerca de 100 mil exemplares).
Foi na Alto Astral que o comunicador aprendeu uma grande lição: o ambiente de trabalho importa. Ribeiro conta que a relação entre os colaboradores da empresa era muito leve, e a baixa competitividade entre a equipe o proporcionou um grande desenvolvimento profissional.
Por outro lado, em seu emprego seguinte, Bruno salienta os desafios de trabalhar com hard news. O jornalista atuou na TV Diário do Brasil (antiga TV Prevê), veículo educativo e também com recorte local. Lá, ocupou o cargo de repórter e, posteriormente, de chefe de redação.
Desse período, o bauruense destaca os deadlines diários, o que era muito diferente do que estava acostumado na produção de revistas, que tinham prazos mensais, além da rapidez das notícias. “O jornalista que trabalha com hard news praticamente não vive. É uma máquina de moer psicológicos”, relata Bruno ao se referir à dificuldade de desfrutar de momentos com a família por conta da alta demanda de produção, dos plantões e da constante busca por um furo de reportagem. “Você está descansando, mas pensando: ‘deixa eu só dar uma olhadinha para ver se não aconteceu algo’”, conta o profissional.
Apesar disso, o comunicador se sentiu realizado durante sua passagem pela TV Prevê. “Perceber que seu trabalho está impactando o dia a dia da cidade é algo muito legal e de muita responsabilidade”, diz ele ao comentar, por exemplo, sua participação no debate do segundo turno das eleições municipais de 2020 e na cobertura das eleições presidenciais de 2022, além do acompanhamento aprofundado da vida política de Bauru feito pela emissora.

Depois de um tempo afastado da cobertura esportiva, em 2023, Bruno deixa a TV Prevê e assume a gerência de comunicação e marketing do Bauru Basket. Agora, depois de muita experiência no “jornalismo raiz”, o ex-unespiano “pula para o outro lado do balcão”, como ele mesmo diz. Para o profissional, trabalhar defendendo uma empresa é um exercício interessante, haja vista suas funções anteriores. Além disso, afirma que é necessário dosar sua paixão pelo esporte: “A gente pode torcer, mas não distorcer”.
Dicas para novos jornalistas
Durante a entrevista, Bruno ressalta algumas orientações para jornalistas iniciantes.
Ler livros, assistir filmes, conversar com os amigos: tudo isso pode ser repertório para um comunicador. “Quanto mais recursos você tiver para sua cabeça, mais sua mente estará afiada para produzir”, diz. Ribeiro ainda enfatiza que não é preciso esperar uma oportunidade aparecer para se preparar. Ele recomenda ter uma bagagem de conhecimento, repertório e estar sempre atualizado.
Como uma maneira de manter a saúde mental em dia, o jornalista indica não colocar a principal parcela da sua identidade na profissão. “Você irá se frustrar”, afirma. Para ele, é preciso ter dedicação ao trabalho, mas o equilíbrio entre vida pessoal e profissional é indispensável.
Ademais, ressalta a importância do networking e da relação com as fontes. De acordo com o jornalista, ser simpático e manter um bom relacionamento com as pessoas é importante. “Todo lugar e toda conversa pode te render uma pauta. Um diálogo corriqueiro pode virar uma notícia importante”, observa. Bruno afirma ainda que o relacionamento com as fontes “tem que ser igual a uma lareira: nem muito perto para não queimar e nem muito longe para não apagar”. Para ele, é preciso ter intimidade o suficiente para obter informações, mas essa relação não pode enviesar o trabalho do jornalista.
