Na Semana de Jornalismo de 2024, pesquisadores apresentam oficina sobre governos nocivos ao sistema democrático

Por Maria Clara Buchalla

Foto: Maria Clara Buchalla

A Semana de Jornalismo da Unesp 2024 teve o prazer de, nesta segunda-feira, 23 de setembro, receber a Dra. Angela Maria Grossi, professora do curso de Jornalismo da FAAC, e João Pedro Piza, graduando neste mesmo curso e pesquisador pela Fapesp, na oficina Populismo e Desinformação: impactos no Jornalismo e na Democracia. 

Os pesquisadores trabalham juntos no Laboratório de Estudos em Comunicação, Tecnologia, Educação e Criatividade, o LECOTEC, e possuem abordagens similares do tema “Democracia e Desinformação na Internet” em suas pesquisas pessoais.

No que foi a primeira atividade da Semana de Jornalismo — antes mesmo da conferência de abertura oficial do evento —, Angela e João Pedro começam destacando que a influência dos meios de comunicação em massa na política é inegável. Também acrescentam que muitos políticos já utilizam das redes sociais como seu principal meio de contato com o eleitor, chegando ao ponto de comunicação direta por grupos de transmissão. 

“A indústria cultural faz com que a política se torne um espetáculo, em que o público se encaixa como espectador, e não como o ator em si”, destacou Piza sobre o cenário atual, onde a maior preocupação nos debates eleitorais tem sido obter o melhor trecho para postar nas redes sociais, por exemplo.

As práticas populistas, segundo eles, envolvem essa proximidade com o público em nível exacerbado; o político vira uma espécie de divindade indubitável e, nos casos de Jair Bolsonaro, Javier Milei e Donald Trump, vira-se o público contra a imprensa. Deve-se notar, ainda, que uma das bases do discurso populista é promover a união de muitas classes contra um suposto ‘inimigo’, seja ele uma ideologia política, uma pessoa ou uma legião de profissionais, como é o caso do ataque à mídia. 

Charge de Duke sobre o modo com que Bolsonaro lidava com a imprensa em seu governo.

Sobre o populismo no Brasil, Grossi destacou o aspecto cíclico entre autoritarismo e democracia. “Houve a ditadura do Estado Novo, depois a de 64, então segue-se com uma onda pró-democracia e, nos dias de hoje, é perceptível a volta das tentativas de golpe”, diz, fazendo referência aos ataques de 8 de janeiro de 2024 e ao planejamento bolsonarista de um golpe de estado, descoberto no começo de fevereiro.

Já sobre o modo com que a desinformação nasce nas associações de extrema direita, os palestrantes dizem que existe um complexo processo de distorção de fatos, disseminação em massa por meio de bots e grupos preparados para gerar desordem, culminando numa saturação informativa que sobrecarrega as ferramentas de checagem de dados. Por fim, cria-se uma atmosfera de desconfiança no processo eleitoral, nas vacinas e até nas notícias. Angela declara que “todos devem se responsabilizar; quem produz a desinformação, quem a espalha — as redes sociais e plataformas — e quem consome.”

Quanto aos meios de recuperar a confiança do povo no jornalismo, “é preciso retomar as bases do jornalismo profissional e confiável. Checagem de fatos, interagir mais com o público, saber da demanda… Priorizar o social em relação ao lucro”, finalizaram Grossi e Piza, lembrando que o jornalismo deve contribuir para a cidadania e a democracia acima de tudo.

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