Em diálogo sobre jornalismo de moda promovido pela Semana de Jornalismo da Unesp Bauru, Izabela Suzuki e Gabriel Fusari contaram suas experiências e traçaram paralelos entre a paixão e as problemáticas do mundo da moda.

Por Maria Eduarda Rocha

No campus da Unesp de Bauru aconteceu, entre os dias 23 e 27 de setembro, a Semana de Jornalismo, organizada por alunos do curso. O evento promoveu  diversas mesas, oficinas e diálogos com profissionais da área.

A programação de quinta-feira (26) contou com a participação de Izabela Suzuki, presencialmente, e Gabriel Fusari, de forma remota, para um diálogo sobre jornalismo de moda. Izabela Suzuki é egressa do curso de jornalismo da Unesp, e hoje trabalha como assistente de conteúdo no portal Steal The Look. Gabriel Fusari estudou jornalismo na Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) e hoje atua como produtor de conteúdo para FFW e tem contribuições em grandes revistas como Forbes, Elle e Vogue. 

A abertura e mediação deste diálogo foi realizada pelo aluno do quinto ano de jornalismo, Gabriel Brito de Souza, que, após as saudações, passou a palavra para Izabela Suzuki.

Para iniciar a conversa, Izabela, que teve sua fala guiada por uma apresentação de slides, mostrou imagens do filme “O Diabo Veste Prada”, introduzindo o fato de que as pessoas que sonham em trabalhar com moda idealizam uma vida como a das personagens do filme, porém, sacrifícios também são necessários, como mostra a trama. Passado este aspecto, Suzuki levou os espectadores a uma reflexão em relação à presença da moda em todos os lugares e a relevância da comunicação nessa área. “Falar sobre moda é entender que ela está em todos os lugares”, diz a jornalista.

Izabela prosseguiu o diálogo falando sobre a importância da paixão na carreira. “Qualquer um pode comunicar moda, qualquer um pode falar sobre moda, desde que seja apaixonado”, observa Suzuki, de forma incisiva. A partir  dessa temática a convidada começa a dizer que muitas pessoas costumam achar jornalismo de moda, e a área no geral, uma carreira muito fútil, mas que na verdade, moda é política. 

“Quando falamos de moda todo mundo acha que é um pouco fútil, mas a última coisa que o jornalismo de moda é, é fútil”, analisa a jornalista. Para contextualizar melhor sua fala, Izabela cita o papel da moda em eventos históricos, como a segunda guerra mundial.

Após ter retomado alguns aspectos importantes do passado da moda, Suzuki passou a olhar para o cenário presente e futuro dessa área. Analisou como o esporte e a moda têm se difundido, o papel dos influenciadores, a transição da revista impressa para a digital, a importância do SEO e das métricas atualmente e finalizou com uma reflexão sobre a responsabilidade do jornalista de moda com as questões éticas, como sustentabilidade, diversidade e consumo consciente, dessa forma, colaborando para que o mundo da moda mude para  melhor.

Depois dos 15 minutos de fala da Izabela Suzuki, foi a vez de Gabriel Fusari, que embora estivesse presente de forma remota, fez o público se sentir próximo dele ao levar o diálogo para um tom mais pessoal, contando primeiramente sua trajetória e dificuldades, principalmente por ser de uma cidade muito pequena, Novo Horizonte, no interior de São Paulo, onde todos achavam moda algo muito supérfluo e raso.

Logo em seguida ao seu relato pessoal, Gabriel falou sobre a intersecção da moda com a política, economia e ciência. “A moda é um rascunho da história, uma forma de registrar aquilo que acontece no mundo”, diz Fusari, que também apontou o papel da moda em grandes eventos da humanidade, como por exemplo a pandemia de covid-19 recentemente, onde uma das discussões foi se a máscara viraria ou não um acessório de vestuário.

Fusari também ousou falar sobre o “lado feio da moda”, como ele chamou. “A moda também é algo muito feio e doentio, é a expressão do elitismo no Brasil”, apontou o jornalista, posteriormente falando sobre os grandes veículos de moda, a falta de liberdade de expressão, o capitalismo e toda a publicidade envolvida nessa área. 

Mas Gabriel deixou claro que, apesar de tudo isso, “devemos levar as informações, ter certa ‘imparcialidade’ e fazer nosso papel de contextualizar e levar a informação a frente independente de qualquer coisa”, disse, após relembrar o juramento feito pelos jornalistas quando se formam.

Para finalizar, o convidado deixou cinco dicas para aqueles que desejam seguir carreira no jornalismo de moda: primeiro, relacionamento é tudo; segundo, tenha um bom portfólio; terceiro, lide com diferentes plataformas e conteúdos; quarto, saiba com quem e como falar e quinto, tenha uma meta e faça por onde. Antes de passar a palavra para o mediador, Gabriel Fusari ainda deixou mais um recado para os espectadores: “Se você não tem espaço na mesa, faça uma mesa pra você”, encerrou o jornalista.

Passada a apresentação dos convidados, iniciaram-se as rodadas de perguntas, que fomentaram interessantes discussões sobre direitos de imagem, liberdade criativa, jornalismo independente, jornalismo de moda em regiões interioranas, a democratização da moda, moda nacional, estereótipos, a volta da magreza extrema e até mesmo, o uso de ferramentas de análise de dados para o jornalismo de moda. 

E na última pergunta da mesa, houve grande comoção dos participantes do diálogo ao saberem que estavam presentes uma mãe e uma filha, moradoras de Bauru, sem nenhuma ligação com a Unesp, além do sonho da adolescente de estudar ali, que se sentiram inspiradas pela conversa. O que possibilitou que o mediador contasse a dificuldade de inserir o jornalismo de moda nesse evento nos últimos anos e a importância que esse diálogo tem, não apenas para os estudantes, mas para toda a comunidade bauruense que sonha em trabalhar com moda.

Visto isso, o jornal Contexto perguntou aos convidados por que eles acreditam que a inserção do jornalismo de moda nesse evento é importante. Iza colocou como ponto principal a desmistificação da futilidade da moda, “é uma oportunidade de mostrar que o jornalismo de moda não é fútil, que tem muito a agregar e que se você gosta, tem mil e uma portas abertas pra você fazer o que quiser”, pontuou Suzuki. 

Já Gabriel apontou como um meio de manter a chama acesa daqueles que chegam na faculdade com um sonho. “Eu via muita gente que chegava na faculdade com vontade de ser jornalista de moda e depois desanimava porque não tinha alguém que estimulasse”, relembrou Fusari.

Depois de toda a emoção dos espectadores, convidados e do próprio mediador ao constatarem o quão importante era aquele diálogo que acabara de acontecer, a noite foi encerrada por volta das 22:30, com alguns sorteios e uma foto para servir de recordação do dia em que saíram da sala 1 da Unesp Bauru com esperança, brilho nos olhos e uma frase de Izabela Suzuki reverberando nos corações: “Todo sonho pode se tornar realidade, você só tem que ser louco o suficiente para acreditar nele”.

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