A programação da Semana de Jornalismo contou com oficinas sobre o tema, com o objetivo de expandir o conhecimento sobre esta prática profissional.
Por Fernanda Sampaio Lourenço
Durante a semana de jornalismo da Unesp/Bauru, que acontece de 23 a 27 de setembro, ocorrem diversas oficinas, diálogos e mesas com variados temas atuais sobre a prática jornalística. O chamado jornalismo de dados foi tema da oficina do dia 24 de setembro, ministrada pelo professor Alan Tomaz de Andrade. Com enfoque em explicar o que são dados e como eles podem ser usados na produção de comunicação jornalística, a apresentação, que começou às 19:30h da terça-feira se estendeu até às 22:00h.
Para Alan, o jornalismo de dados sempre fez parte da rotina do profissional, embora muitos não percebam. Investigação, apuração e publicação, que é o processo tradicional de construção de matérias, é utilizado também quando falamos de dados, a diferença é a gestão de tempo que cada opção possui. O professor Alan explica que uma das características do jornalismo de dados é a otimização do tempo daquele que faz uso desta prática.
Embora pareça simples, o jornalismo de dados exige competências dos profissionais que os utilizam. Como explica Alan, todo dado é produção humana e essa pode estar passível de ser enviesada. Para evitar problemas, o jornalista precisa analisar a construção da fonte e enquadrá-la dentro de uma narrativa social.
Ao utilizar grandes bases de dados para elaborar conteúdos focados em correlações informacionais, é dever do autor possuir uma visão crítica para transformar tais dados brutos em informação, isto é, traduzir aquilo que é encontrado, muitas vezes em forma numérica, para uma linguagem de fácil acesso e entendimento
O não entendimento do que é o jornalismo de dados leva a um tabu de associá-lo às recentes tecnologias como o Chat GPT. O avanço das inteligências artificiais (IAs), entretanto, não assusta Alan. Para ele, o processo do fazer jornalístico tem o fator humano que as máquinas não conseguem copiar. “Eu não vejo como uma ameaça porque para a produção de conteúdo jornalístico é necessário ter um aprofundamento que parte do princípio do senso crítico. Essas plataformas de IAs são capazes de nos dar um processamento muito rápido de dados, mas o fazer jornalístico não tem máquina que faça porque isso é um fazer humano”, conta o professor.
A falta de conhecimento sobre o tema está relacionada com a forma que os dados se apresentam nessa prática. A matemática, interpretação de gráficos e até mesmo tabelas acabam gerando um afastamento dos profissionais. “A evolução dos termos e das formas de se trabalhar com os dados é atualizada constantemente, então acaba sendo uma necessidade do jornalista se atualizar e o ramo profissional não tem essa cultura para acompanhar o universo dos dados”, revela Alan.
Apesar de não ser uma vertente jornalística conhecida, o jornalismo de dados é considerado o segundo ramo dentro da profissão que é mais bem remunerado. Não apenas agências de comunicação, mas outros segmentos têm muito interesse em jornalistas que possuem experiência com dados, tornando esse mercado bem amplo. “Geralmente, o jornalismo de dados está associado a uma big tech ou a uma empresa que tem um poder aquisitivo maior”, explica o professor.
O estranhamento da área para os jornalistas pode ser explicado pelo fato de o jornalismo de dados não possuir visibilidade durante o curso. “O afastamento não acontece só para esse ramo, eu acho que qualquer tipo de jornalismo que fuja do convencional, causa um estranhamento para todos os estudantes. Na minha experiência, foi muito difícil quebrar a resistência dos meus alunos em relação à disciplina e as possibilidades de atuação”, disse Alan. A solução para o impasse seria abrir novas possibilidades de olhares já durante a graduação, dando acesso a ferramentas e conhecimento sobre o que fazer com dados. “A partir do momento que a gente submete os alunos ao conceito e a prática, a visão muda”, comenta o professor.
Além da oficina do Professor Alan, a Professora Liliane Ito, do Departamento de Comunicação Social, tratou do assunto no dia 25 de setembro às 14:00, apresentando noções introdutórias sobre jornalismo de dados na oficina “Jornalismo de dados com Flourish”. O tema está ganhando força na Universidade e tenta quebrar os tabus e os estereótipos em torno desta prática.
