Durante a primeira mesa da Semana de Jornalismo da Unesp, egressos do curso de jornalismo compartilharam suas experiências profissionais, falaram sobre a formação do jornalista e sobre suas carreiras
Por Sofia Peres Rodrigues Caldas
Na última segunda, dia 23, aconteceu a primeira mesa da semana de jornalismo da Unesp Bauru. O evento, que tem como tema “Tradição e transformação: 40 anos de jornalismo Unesp” teve início no mesmo dia e ocorre até sexta-feira, dia 27.
A mesa “Mil em um: o jornalista formado pela Unesp” contou com a presença de Thainá Goulart assessora de imprensa da GBR Comunicação, Thiago Theodoro, jornalista e criador de podcasts e João Correia Filho, jornalista e autor. Durante a conversa, os egressos da Unesp discutiram o fazer jornalístico atual e as mudanças pelas quais os jornalismo vem passando.
“Agarrem o que vocês têm paixão”, diz João Correia no início da discussão. O jornalista, ganhador do prêmio jabuti de 2012 na categoria de turismo, atualmente mescla fotojornalismo com literatura. Ele escreveu diversos guias turístico-literários e possui uma editora. João indica para os jornalistas em formação que reflitam sobre o que os move de verdade e que pensem mais nisso do que nas exigências do mercado. Para ele, existe espaço no jornalismo para trabalhar com suas paixões e esse é um caminho a ser trilhado.
“Fazer jornalismo é entender o espírito do tempo e transmitir isso através de reportagens e notícias”, prossegue o autor. De acordo com Correia, entender o tempo em que se vive e se pautar por ele é imprescindível para o jornalista atual.
“Não dá para fazer uma coletânea de escritoras e não ter mulheres negras, indígenas, acho que o jornalismo já nasce manco quando é assim”, afirma. O escritor e fotojornalista ainda diz que é preciso ouvir as pautas atuais e inseri-las em seu trabalho, para ele, não é possível pensar o mundo sem pensar nas questões políticas e sociais vividas atualmente.

A importância da politização do jornalismo também foi destacada pelos palestrantes. Eles acreditam que a formação humanística proporcionada pela Unesp é muito necessária. “A questão tecnicista é importante, mas se você não tiver um pensamento crítico, não souber entender a complexidade das relações, você não vai a lugar nenhum”, diz Ângela Grossi, mediadora do debate. Thiago Theodoro ainda diz que carrega a formação política e consciência crítica que a Unesp lhe deu. “Estudei sociologia e filosofia na Unesp, vi manifestações na parede”, afirma.
Os palestrantes, que passaram pela Unesp no final dos anos de 1990 e início do milênio, comentam sobre o início de pautas raciais, LGBT e de diversidade. “Foi um machado que partiu minha cabeça no meio e abriu para um universo que eu desconhecia totalmente”, diz Thiago. Para ele, o nível de politização no campus era muito grande e isso transforma os estudantes. Theodoro entende que se passa a enxergar o mundo de uma nova maneira.
Sobre o surgimento de novas tecnologias e a utilização delas nos processos jornalísticos, João diz que sente falta de trocas feitas pessoalmente. Para ele, a “nova onda” dos estudantes de fazer entrevistas por e-mail, whatsapp, deve ser evitada. “Às vezes o pessoal dos tccs me procura para fazer entrevista e querem fazer por e-mail, por ‘zap’. Eu sempre falo, no mínimo você vem na minha casa”, afirma.
Para o jornalista, as trocas vão além das palavras, uma entrevista deve utilizar todos os sentidos. Correia acredita que se pode entender quem é uma pessoa através da observação. “Você vai chegar na minha casa e vai ver que uso bermuda, tenho dois filhos […], você vai ver o que eu leio”, aponta.
Ao mesmo tempo, João defende as novas tecnologias quando se fala de oportunidades de trabalho. “Vocês têm ferramentas incríveis”, diz. Ele ainda comenta sobre a chegada da câmera digital e como isso possibilitou que ele morasse em qualquer lugar do mundo. Thiago também completa sua fala, afirmando que utilizar os meios digitais para construir um portfólio de maneira proativa, de forma a iniciar debates, como com a criação de páginas e sites de assuntos de interesse do estudante, pode ser muito produtivo.
Quando perguntado sobre o jornalismo no interior, Correia ainda defende que a diferenciação interior e capital não é mais tão importante. “Aqui tem coisas e pessoas tão interessantes como em qualquer lugar”, comenta. Para ele, entender o espírito do tempo e enxergá-lo em qualquer lugar é o que irá render pautas para os jornalistas.
