Por Amanda Silva Lima

Quando abracei aquela senhora, eu podia quase tocar nos seus ossos. As costas corcundas os evidenciavam ainda mais. Não havia mais músculos e a pele já estava bem envelhecida. Mas a fraqueza física não apagava o vigor do seu coração. Antes de abraçá-la, quando entrei em sua casa, senti cheiro de pão, bolo e café quentinho. A mesa era farta, principalmente de gente. Ali, se reunia o marido, os filhos, os sobrinhos e os velhos amigos. Bolachas, biscoitos, queijos e doces da roça enchiam aquele café da tarde, mas o que os sustentava não era nada daquilo – era o amor. 

De manhã, antes de visitá-la, me olhei no espelho. “Espelho, espelho meu, há alguém mais estranha do que eu?”, me questionei. Há dias não provava da comida da minha mãe e não parava para fazer uma refeição. Queria ser como as outras jovens- mais magras, mais bonitas, mais atraentes. Mas, quando abracei aquela senhora, ela me deixou à vontade para me deleitar naquela mesa. Implorou para que eu aproveitasse as delícias da juventude – a beleza e a saúde. Além, é claro, da dor de vê-la sem vitalidade alguma.

Ela estava com uma doença em estado terminal. Não podia comer de tudo. Cozinhava por prazer para os seus amados e afirmou que gostaria muito de comer tantas coisas outra vez. Naquele momento, entendi: ao deixar de me alimentar, eu não deixava apenas uma refeição – eu deixava minha saúde, minha juventude e, o principal, minhas relações.

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