Pesquisadores discutem futuro da inteligência artificial

Anfiteatro Guilhermão lotado para a conferência sobre IA e sua regulamentação
Texto de Pietra Perez e fotos de Lucas Mello
Bauru, 21/08/2024. Na manhã desta quarta-feira (21), ocorreu a conferência sobre “Automação, algoritmos e inteligência artificial”, como parte do Congresso da Alaic, que ocorre de 19 a 22 de agosto na Unesp-Bauru. A mesa contou com a presença de Emiliano Treré, Daniela Monge, Juliano Maurício de Carvalho e Francisco Belda.
A conferência teve início com o jornalista Emiliano Treré. Ele tratou sobre formas de resistência da área da Comunicação no que diz respeito às inteligências artificiais. Apresentou, também, a ideia de que cada grupo de interesse se manifesta da forma que convém, e, com isso, a resistência ao uso do algoritmo acaba cedendo. Ao se depararem com ferramentas das IA’s (inteligências artificais) que os beneficiam, o interesse é despertado. “Formas de resistência que não vão necessariamente mudar algo, mas formas de resistências seguem sendo uma grande forma de negociação”, disse.
Em seguida, Daniela Monje, vice-presidenta da Alaic, formada pela Universidad Nacional de Córdoba, da Argentina, abordou questões sobre economia em relação à Comunicação e à inteligência artificial e como esses pontos são apresentados como uma só problemática. Daniela discursou sobre o que chamou de “capitalismo cognitivo” e a forma como esse sistema valoriza as emoções e o tempo que não eram próprios da economia política, mas que, para responder às perguntas acerca da problemática apresentada, são demandadas dentro da área.
“Aonde vamos? Que plano fazer? O que podemos fazer para mudar as políticas de IA relacionadas à comunicação? Na realidade, há muito o que fazer”, contempla a vice-presidenta. Ela dá exemplo de políticas exteriores, como a da União Européia, que impôs regulamentos, visando garantir a segurança e impor limites ao uso da IA. Então, relaciona com a falta de um maior controle dessas questões na América Latina.

Palestrantes da mesa temática “Automação, Algoritmos e IA na Comunicação”
O professor Juliano Maurício de Carvalho, líder do LECOTEC (Laboratório de Estudos em Comunicação, Tecnologia, Educação e Criatividade), e docente do curso de Jornalismo, reforçou em sua fala que as inteligências artificiais não são politicamente neutras. “IA é um complexo econômico e político profundamente enraizado que sustenta a mais ampla e estruturada ação capitalista dos novos mercados digitais”.
O professor apresentou a problemática da intensificação das dificuldades de abismo social, político e educacional com a ascensão das IAs. “Devemos resistir à sedução das ilusões de inclusão universal que acompanharam a implantação da internet”. Acrescido a isso, há uma nova dificuldade, dessa vez econômica: custear o acesso a essas tecnologias, perpetuando, dessa forma, o que ele chama de “fosso digital”.
Juliano levantou questões sobre a preocupação com a formação da opinião pública e a integridade dos processos democráticos diante do uso não democratizado das inteligências artificiais. “A capacidade das democracias de se manterem resilientes está diretamente ligada ao acesso de informação pública e de qualidade. Um princípio fundamental que se vê ameaçado pelos algoritmos que controlam o fluxo de informação e que podem distorcer a percepção pública de maneira sutil, mas eficaz”.
O professor Francisco Belda, do curso de Jornalismo da Unesp, finalizou a conferência retomando levantamentos de conferencistas anteriores. Ele destacou a importância de uma regulamentação sobre o uso das IAs e retomou a preocupação de Juliano para com as dificuldades de inclusão com as novas tecnologias, como a alfabetização tecnológica.
O professor citou Gabriel Cohn, sociólogo brasileiro, para ilustrar que os sistemas de comunicação não são meramente ferramentais, mas absolutamente determinantes das estruturas de poder e de produção. “Os sistemas de informação determinam os sistemas de comunicação”. Para ele, “nós erramos ao tratar esse substrato de tecnologia midiática como ferramenta”. Ele acredita que ao ter essa mensagem visualizada, podemos nos convencer de que os sistemas de mediação de conteúdo utilizados são secundários em relação ao caráter político dos conteúdos produzidos.
Belda acredita que quando o conteúdo é levado a outras plataformas, abrindo mão da própria linha de produção e do autocontrole do substrato da sua existência, a informação se fragmenta. Há uma renúncia do desenvolvimento do próprio conteúdo digital para esse fato, fragilizando a indústria comunicacional.
