Pesquisadoras analisaram 13 mil comentários postados nas redes sociais
Texto e foto de Maria Clara Coelho
Bauru, 20/08/2024.“Racismo e violência de gênero na imprensa esportiva: Uma análise interseccional de comentários nas redes sociais”. Esse foi o tema da pesquisa apresentada por Érika Alfaro de Araújo e Renata Barreto Malta na XVII edição do Congresso Latino Americano de Comunicação, nesta terça-feira, dia 20 de Agosto de 2024.
As pesquisadoras analisaram os comentários feitos em publicações no instagram do Sportv, canal do Grupo Globo. Foram nove vídeos coletados, onde os jornalistas falavam sobre os mesmos casos de racismo e violência de gênero no esporte.
Elas colheram mais de 13 mil comentários manualmente e perceberam uma grande diferença na reação dos consumidores desse conteúdo e os dividiram em quatro grupos: quando o assunto era abordado por jornalistas homens brancos, jornalistas homens negros, jornalistas mulheres brancas e jornalistas mulheres negras.

“O esporte surgiu como um estigma de ser um assunto menos importante, servindo apenas para entretenimento”, disse Érika. Porém, com o passar do tempo se consolidou como uma área própria do jornalismo e hoje abre portas para debates socioculturais.

Com base nessa espetacularização do esporte, que antigamente servia apenas para entretenimento, elas perceberam “um descontentamento dos consumidores quando trazemos o debate para dentro do campo do esporte”, disse Renata, ao mostrar os comentários que dominavam as publicações dos quatro grupos, como “mimimi” e “lacração”.
Elas perceberam que quando era um homem branco falando, os comentários não recebiam “adjetivações direcionadas à pessoa, mas sim ao canal”, disse Renata e completou lendo um dos comentários como exemplo, onde a pessoa dizia para eles “voltarem a falar de futebol”.
Na análise do vídeo do homem negro, foram coletados comentários racistas feitos pelos usuários, como um que atacou o cabelo do jornalista e o chamou de “espantalho”.
No caso das mulheres, elas não notaram muitas diferenças nos comentários, o sexismo falou muito mais alto. Alguns comentários como “insuportável”, “jornalista militante”, “lacradora” e outros direcionados à aparência, como “a cara dela parece uma bolacha”.
Para concluir, Érika ressaltou a importância do jornalismo esportivo ter um olhar profundo e complexo. “É um fenômeno cultural e social que abre espaço para debates e enfrentamentos”.
