Texto de Guilherme Corte e foto de Lucas Melo

Durante a noite de hoje, terça-feira (20), ocorreu uma palestra sobre censura e desinformação em governos autoritários. O evento fez parte do XVII Congresso de Comunicação da América Latina.

Na mesa de debate sobre como a ditadura civil-militar no Brasil influenciava a mídia, estiveram presentes Valci Zucoloto, jornalista, Helena Dias, produtora do UOL, e João Batista de Abreu, professor da UFF e jornalista que atuava na área na época da ditadura.

Durante suas falas, Zucoloto e João Batista reforçaram a forma como os governos militares manipulou e censurou a mídia de acordo com seus interesses. Os principais pontos abordados pelos palestrantes foram a importância da informação e o combate à censura e desinformação.

Zucoloto reforçou que o combate à desinformação não serve apenas para lutar contra governos autoritários, mas, também, para prevenir que golpes de Estado aconteçam. “A guerra da informação e guerra de memória permanece com o combate às ditaduras e tentativas de golpe, como aconteceu em 8 de janeiro”, disse ela.

Por fim, Zucoloto terminou sua participação no debate reforçando a importância da informação para a sociedade. “Precisamos informar para que isso (ditadura) não volte a acontecer”, afirmou a palestrante.

João Batista de Abreu comenta a ditadura militar

O professor da Universidade Federal Fluminense iniciou sua fala sobre o período ditatorial no Brasil afirmando que, mesmo com torturas e repressão militar, diversos agentes eram contra a tortura.

Além disso, João Batista de Abreu explicou que houve três tipos de censura na época da ditadura: a autocensura, em que o próprio jornalista deixava de cobrir eventos, a censura estatal, em que o governo reprimia os portais midiáticos, e a censura por parte dos donos de jornais e veículos de comunicação, que poderiam deixar de noticiar algo por medo de perder patrocinadores.

João Batista também usou seu espaço para revelar um método de manipulação de informação usado pelo governo. Como exemplo, o jornalista explicou que os militares distorciam a mídia para justificar a perseguição aos críticos do regime.

“Quando se falava mal do governo, falava mal do país. Por isso, quando se fala mal do governo militar, você se tornava um traidor da pátria”, disse ele, revelando que essa forma de justificar perseguições era um método de ganhar apoio da população.

Por fim, João Batista finalizou suas falas contando qual foi o pior momento da ditadura, em sua opinião. “O mais grave, irresponsável socialmente, desumano que a ditadura fez foi a censura prévia do surto da meningite, que ocorreu em 1974. Quantas vidas poderiam ter sido poupadas se a ditadura tivesse hombridade de informar a população ao invés de temer que uma pandemia pudesse abalar o regime ditatorial”, afirmou.

Entrevista exclusiva ao Jornal Contexto

Contexto: No debate foi muito falado sobre a informação como uma forma de poder e a importância do jornalista em combater essa desinformação. Como o senhor enxerga hoje essa luta, principalmente no Brasil, um país muito dividido politicamente, em que alguns portais midiáticos às vezes só repassam declarações mentirosas, como ocorreu no último governo, e não usam a oportunidade para rebater as ‘fake news’?

João Batista de Abreu: Continua fazendo isso hoje, não é só no governo anterior não. O grande problema do Brasil, a grande ameaça à informação no Brasil, se chama plataforma digital. As plataformas digitais, enquanto elas não forem controladas, enquanto não tiver uma legislação rígida que as obrigue a respeitar as leis brasileiras, a cultura brasileira, enquanto a gente ainda tiver esse tipo de situação desigual, como por exemplo o Google, controlando 20% da publicidade no Brasil e em outras partes do mundo, a gente vai ter uma situação desigual economicamente também. Hoje a gente tem uma ameaça de grupos estrangeiros, Elon Musk, Google, Facebook, esses grupos todos numa legislação que não permitem que grupos estrangeiros tenham mídia. Veja bem a contradição que a gente tem. E isso não é fácil de resolver.

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