A escrita de Ray Tavares

De referências adolescentes a comentários sociopolíticos

Por Letícia Reis dos Santos

Desde 2006, a autora Ray Tavares vem marcando o mundo literário dos Young Adults com sua escrita particular e inconfundível. Uma mistura equilibrada entre humor, ironia, cultura pop e críticas sociopolíticas cativante para os jovens brasileiros, que se identificam com seus personagens e dão muita risada com seus sucessos.

Sua coletânea é composta de livros como “Os 12 Signos de Valentina”, “Confidências de uma Ex-popular” e “As Vantagens de Ser Você”, todas pela Editora Galera. Ela é autora também das antologias “Heroínas” e “Finalmente 15”. Pela Mapalab, produziu “Carta Aos Astros”. Os audiobooks “Judas” e “OTP- Um Par Perfeito”, pela plataforma Storytel, e o conto “O Natal dos Neves”. Além disso, ela também participou das séries “Bugados”, “De Volta aos 15” e “Acampamento de Magia para Jovens Bruxos”, como roteirista.

“[…] afundada na minha própria miséria, chorando e ouvindo uma combinação altamente destrutiva de Adele, Lana Del Rey, Taylor Swift, Sam Smith e James Bay.”

Os 12 Signos de Valentina, Página 18.

Assim como seu público, seus protagonistas são jovens adultos, passando por muitas mudanças e explorando novos aspectos da vida. Essa juventude é constantemente alimentada com o ambiente universitário construído em suas histórias, mesmo que o personagem não o frequente, em algum momento terá um reencontro com a felicidade e vivacidade existente nos jovens que estão o vivenciando.

Para fazer menção ao público, as narrativas são repletas de citações do mundo jovem, desde cantores (como a passagem acima) a séries, filmes entre outros, tais quais Rebeldes e How I Met Your Mother.

As referências e ambientação, quando somados aos problemas enfrentados durante a narrativa, trazem ao leitor a importante lição de que não se faz necessário o abandono da juventude com suas brincadeiras e experiências malucas para assumir a vida de responsabilidades. Um exemplo é Danielle dos Santos do Nascimento, de 25 anos. “Eu gosto da forma como ela descreve os seus personagens, ela faz deles tão humanos que quando estou lendo em alguns casos acabo me identificando, porque eles não são perfeitos e com isso sempre estão sujeitos a cometer erros e aprender com eles. E é isso que eu acho muito bonito.” Para a roteirista, sua conexão com os fãs é estabelecida pelo humor: “eu sou muito fã de comédia, e de como a comédia consegue conectar as pessoas através do riso”, relata.

As tramas também funcionam para leitores que estão adiante desta faixa etária, uma vez que suas indicações são atemporais e consideradas clássicos. Além disso, os tópicos emocionais discutidos cabem como calmante para quem vai passar e lembrete para quem já passou.

Mas o maior diferencial de Ray é a versatilidade que consegue conduzir, dentro de uma única obra, sem alterar o rumo da narrativa. A princípio, o livro engana e leva a pensar que é um romance jovial comum, porém, com o desenrolar dos fatos , cai-se em uma obra com diversas camadas e que, sendo assim, também desbrava o cenário sociopolítico brasileiro.

“Para mim não tem distinção. É a minha voz escrevendo os romances, e a minha voz tem lado. Sei que são romances de entretenimento, não me proponho a criar um debate político em cima das minhas obras, mas eu sou um ser político (como todos somos) e não consigo separar uma coisa da outra. Muitas pessoas me perguntam ‘mas você não tem medo de perder leitores assim?’, e eu respondo que não, porque a arte não é isenta, nunca foi, a arte que se diz isenta, para mim, não é arte, é uma peça publicitária. Quem tenta agradar todo mundo, acaba se desagradando “, diz a autora e roteirista.

 Os assuntos são colocados em pauta levando em consideração o público-alvo, que muitas vezes não é completamente engajado nos assuntos, mas que passa a se interessar por meio da leitura. Desta forma, Tavares trata os assuntos de maneira descontraída com a finalidade de atrair seus leitores.

“[…] você podia ter ideologias progressistas e lutar por elas, mas só se em paralelo seguisse a vida padrão do brasileiro médio e se afundasse num emprego mediano, morrendo no anonimato e na tristeza”

Carta aos astros, página 19

Mesmo com sua escrita brincalhona, assuntos sérios sempre aparecem e a escritora sabe como lidar perfeitamente com os tópicos. Ela diz que não se considera séria, mas quando a seriedade se faz necessária ela não a recusa e respeita o que a história pede, sem forçar ou exagerar.

Livros como estes são importantes para a juventude, uma vez que, quanto mais interesse despertar na política, mais jovens conscientes de suas ações, opiniões e como diferentes pautas atingem seu cotidiano existirão. Ray Tavares consegue prender seu público e os atrair para o meio de uma forma descontraída. 

“Ler os livros da Ray é cativante porque no meio de várias cenas acaba ocorrendo uma crítica sociopolítica e isso te faz de fato refletir sobre o assunto, que foi o que aconteceu comigo quando estava lendo ‘Confidências de uma Ex-popular’ é simplesmente genial a forma como ela te envolve com a escrita dela”, elogiou Danielle.

As narrativas também se destacam por serem visivelmente brasileiras, desde piadas populares entre o povo aos locais pelos quais os personagens passam. As descrições não se disfarçam entre a multidão e dão voz aos hobbies e experiências da juventude brasileira. Para a autora, isso é responsável pela identificação de quem lê: “acho que o leitor se identifica no momento que é publicado, e, no futuro, é uma fotografia do que era o Brasil e as referências naquele momento” diz a escritora. 

Para sua leitora, “ter o Brasil como referência nas obras é simplesmente maravilhoso, porque nem todo mundo pode conhecer lugares como por exemplo São Paulo e quando lemos um livro e vemos as descrições dos locais acabamos conhecendo um pouco mais daquela cultura”.

A autora se diz grata pelo que conquistou e realizou. “Sou feliz pela comunidade que criei, e feliz que as pessoas ainda queiram ler os meus livros, acho que para mim é o suficiente” anuncia Ray.