“Pra quem já mordeu um cachorro por comida, até que eu cheguei longe…”, foi a mixtape que apresentou Emicida ao cenário musical nacional e o transformou num dos melhores rappers da sua geração.
Por: João Victor Neves
No dia 1 de maio de 2009, o rapper Leandro Roque de Oliveira, mais conhecido como Emicida, lançava nas ruas o seu primeiro trabalho como músico, a mixtape “Pra quem já mordeu um cachorro por comida, até que eu cheguei longe…”. Este projeto deu início e visibilidade à carreira do cantor.
Para contextualizar, Emicida já vinha se consolidando no cenário do hip-hop, devido às suas participações e premiações nos populares duelos de MC´s (Mestre de Cerimônia), que são MC’s “batalhando” e fazendo o seu freestyle.
O Projeto começou em 2008, quando o cantor lançou a faixa “Triunfo”, uma das músicas mais importantes da mixtape e da carreira do rapper, a música encerra a mixtape e é sem sombra de dúvida uma das melhores composições do cantor.
Para o apresentador do programa Olho na Cena TV, Vinão Mandiga, a mixtape do Emicida “consegue traduzir de uma forma muito crua, muito sincera, a vivência de alguém que se dedica integralmente à música, à produção cultural, à arte, ao hip hop”
No ano seguinte, Emicida lança a mixtape, que contou com 25 músicas de forma contínua. O lançamento foi feito de forma independente, e deu início ao Laboratório Fantasma junto com seu irmão Fioti, que hoje é sua gravadora e até marca de roupas.
Para Vinão Mandiga, “Emicida entendeu a produção artística do hip hop como um produto cultural que vende, que faz dinheiro e que muda a vida da pessoa, sabe que ela precisa se preparar realmente para viver uma parada profissional com a música dela. Eu acho que esse é o legado principal dele, a profissionalização, institucionalização, o empresariado, sabe, esse entendimento”.
Com samples incríveis, intercalando entre samba, jazz, R&B soul e o bom e clássico Boom Bap, além de “canetadas afiadas” e a lírica perfeita do Emicida, a mixtape veio para revolucionar o cenário do Rap Nacional.
Para a jornalista cultural Gabrielle Neves “a mixtape é um dos debuts mais importantes do rap nacional. A qualidade técnica, a habilidade de utilizar um projeto musical para demarcar uma época, utilização de samples, a experiência das batalhas reconfiguradas na lírica, a apresentação de várias influências sonoras, o storytelling e os demais elementos apresentados funcionaram como ensinamentos musicais para muitos que passaram a aplicá-los em trabalhos futuros”.
Ao lançar seu primeiro trabalho, Emicida, através de suas rimas, consegue falar sobre os mais diversos assuntos. Na faixa “Triunfo”, ele consegue deixar bem claro sua mensagem para o que veio fazer no rap, expresso na letra: “Não escolhi fazer rap não, na moral, o rap me escolheu porque eu aguento ser real como se faz necessário, tiozão uns rimam por ter talento, eu rimo porque eu tenho uma missão”.
Ainda na mixtape, Emicida, consegue falar sobre a realidade vivida nas periferias e a falta de perspectiva, como em “Ooorra”, quando ele fala sobre o sentimento ao ver outras crianças podendo se divertir, enquanto para algumas a responsabilidade chegar mais cedo, não podendo então passar por essa fase. Emicida, ainda, deixa sua love song (música de amor), como na música “Ela diz”.
Além de revolucionar a na questão musical, “pra quem já mordeu um cachorro por comida, até que eu cheguei longe…”, revoluciona o mercado cultural, de forma como foi possível que outros MC´s, conseguissem através do Rap dar uma condição melhor à sua família, como se fosse uma profissionalização da cena, e que através de suas rimas tivessem uma mudança de perspectiva.
A jornalista Gabrielle Neves define o legado da mixtape como “transmissão de possibilidades, ensinamentos e reconhecimento, tanto para quem fazia parte da cena do rap quanto para aqueles que não conheciam/não gostavam do gênero. Em 2009, Emicida mostrou que era possível ir contra concepções comerciais e assumir a narrativa.”
É inegável falar que o projeto é um dos mais importantes do rap nacional, pois ele abriu novas possibilidades na cena, para o Emicida além de alavancar a sua carreira e o fez conhecido em todo o território nacional, o tornado um dos melhores artistas na atualidade, furando bolhas já mais previstas antes no rap nacional, Gabriela Neves diz que “O clássico foi uma virada de chave na carreira de Leandro pois o consolidou como um dos nomes mais importantes do rap nacional, uma abertura de porta que, com o passar dos anos, faria com que sua figura ultrapassasse questões de gênero musical, atingindo assim o patamar de representante da música popular brasileira.
A Mixtape atingiu a incrível marca de vender dez mil cópias de maneira independente. Isso por que Emicida, com ajuda de alguns amigos, apresentava e vendia seu trabalho de “casa em casa”.
Após a mixtape, entre álbuns, ep e mixtape, Emicida ainda lançou mais seis projetos na música, com destaque para “Emicídio”, “O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui” e “AmarElo”, além de livros e algumas histórias em quadrinhos.
Emicida e seu hiato
No mês de maio, durante uma entrevista ao canal do Youtube “Podpah”. Emicida, anunciou que após a turnê “AmarElo – A Gira Final”, que se encerra no dia 30 de junho e irá passar por 12 capitais brasileiras, irá se retirar dos palcos para um breve descanso na carreira.
