Governador Eduardo Leite volta a ser criticado por suas atitudes, após ordenar a retirada de 100 desabrigados que ocupavam prédio no centro de Porto Alegre
Por Maria Clara Buchalla
Charge de Fred Martins retratando uma fala do governador gaúcho em entrevista à BandNews
O governador do estado do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, virou notícia novamente de maneira negativa, neste domingo (16), após mandar a Tropa de Choque da Brigada Militar do Rio Grande do Sul esvaziar um prédio abandonado no centro histórico de Porto Alegre. O prédio era ocupado por mais de 100 cidadãos que, desabrigados, se alojavam no local para fugir do frio e chuva nos últimos dias. Um mês antes, Leite havia sido criticado em peso nas redes sociais por dizer que as doações para a tragédia afetariam o comércio local.
As enchentes no Rio Grande do Sul vem deteriorando o estado e suas principais cidades desde o dia 30 de abril, porém previstas desde o dia 28, quando notou-se o aumento do rio Guaíba. Com o grande contingente de pessoas já ocupando os abrigos, alguns cidadãos procuram medidas provisórias para fugir do tempo naturalmente frio do estado gaúcho. Esse foi o caso de cerca de 100 adultos e crianças que ocupavam, até este domingo, um edifício público que havia sido abandonado há mais de 10 anos. Os cidadãos foram retirados à força do local por um pedido de reintegração de posse advindo do governo do estado. O acontecido gerou muita comoção nas redes sociais, pois a preocupação com o prédio se deu “só no momento de vulnerabilidade do povo ocupante, em meio à chuva e falta de moradia, e não nos outros 10 anos”, segundo críticas.

Tweet de Miguel Rossetto, PT-RS
No histórico de críticas ao modo como Leite tem lidado com a crise, também inclui-se o caso de sua fala infeliz em uma entrevista exclusiva à BandNews, no dia 14 de maio. “Na verdade, quando você tem um volume tão grande de doações físicas chegando ao estado, há um receio […] sobre o impacto que isso terá no comércio local […] e o reerguimento desse comércio fica dificultado na medida em que você tem uma série de itens que estão vindo de outros lugares do país”, disse ele, por meio de uma chamada de vídeo com os jornalistas. Alguns dias depois, o político desculpou-se oficialmente.
Sobre a fala de Leite, o voluntário Lucas Sebastian diz que “se a gente precisa de doação para atender às pessoas que estão precisando, lá na linha de frente, isso é a minha prioridade, e eu acredito que seja a prioridade de todo mundo, então essa perspectiva [de interesse comercial por parte do governador] pra mim é irrelevante, nesse momento, porque a gente tem muitas outras coisas para fazer e pensar agora”.
Ele completa, ainda, definindo como é realizar o trabalho voluntário: “a gente tá tentando enxergar quem é invisível para os outros”.
Fazendo um paralelo sobre os dois casos, o cientista social Calebe Galdino, em entrevista ao Jornal Contexto, pontua que “o que a gente pode ver com essa fala do governador é que existe uma preocupação muito maior com a questão econômica do que com as pessoas. Então, é como se fosse a própria visão neoliberal crua, como se o neoliberalismo estivesse se sobressaindo totalmente, tomasse conta, ali, das pautas”. Calebe finaliza destacando a obrigação social de um governador para com seu povo. “A preocupação dele deve ser com as pessoas, né, a preocupação dele como governador deve ser a questão da moradia, realmente pensando em como ajudar.”
