Tranças afro e cabelos naturais conquistam o cenário fashion
Por Luana Lara
Apesar de parecer um simples penteado, as tranças afro vêm ganhando destaque no mundo da moda e se tornando uma escolha popular. Desde as ruas movimentadas até o dia a dia de celebridades, essas tranças trazem consigo uma riqueza histórica e uma expressão moderna de beleza e empoderamento.
O mundo das celebridades com ícones como Beyoncé, Zendaya, Ludmilla e Iza adotaram esses penteados e os exibiram em premiações, ensaios fotográficos e eventos sociais. Suas escolhas não apenas ditam tendências, mas também servem como uma afirmação de beleza negra em uma indústria muitas vezes marcada pela falta de diversidade.

Em entrevista com Luriane Rodrigues, trancista profissional, ela afirma que nos últimos anos, principalmente durante e após a pandemia de Covid-19, a procura pelas tranças aumentou. “Parece que, eu não sei se foi o isolamento que mexeu com a mente da mulherada, mas realmente pegou mais força, onde também surgiram mais trancistas. Porque antes não tinha, né?”.
As principais tendências em 2024
As tranças Box Braids são as mais conhecidas. Além dessas, há diferentes outros tipos de tranças para se inspirar. Para 2024, a tendência que marcou presença nas mídias sociais foi a chamada French curls, caracterizadas por cachos grossos e ondulados nas pontas. Essas tranças são mais finas e podem ser feitas com ou sem nó na raiz, um método conhecido como Knotless braids.
Porém, vários outros modelos de tranças têm se destacado, cada um com suas particularidades e formas de personalização. “Hoje em dia o que estão procurando mais é a Gypsy Braids, que é a trança com cachos” afirma Luriane Rodrigues.
As tranças não são apenas uma escolha estética, mas também uma forma de expressão cultural e identidade pessoal. “O cabelo da mulher está muito associado à nossa autoestima. Então, quando a gente consegue também ter essa variedade de coisas que a gente pode fazer no nosso cabelo, essa variedade de coisas que faz a gente se sentir mais bonita, isso é transformador, né?”, afirma a trancista.
O impacto no mundo da moda
No universo da moda, as tranças afro têm sido uma constante em desfiles e editoriais, trazendo uma diversidade necessária para as representações de beleza. A marca brasileira Maria Filó, no lançamento da coleção Balneário, apresentou modelos com tranças em suas passarelas, destacando a versatilidade e o apelo estético desses penteados.
A alta costura também abraçou essa tendência. Na Semana de Alta-Costura de Paris em 2023, a Dior apresentou sua coleção. O criador de conteúdo e digital influencer Gabriel Villaça, em entrevista, comenta sobre o desfile. “Contrataram trancistas, mulheres pretas, para fazer vários tipos de tranças no cabelo das modelos. Eu achei aquilo ali de uma… de uma sensibilidade absurda!”, ele comentou.

(Foto: arquivo pessoal)
O desfile, inspirado na estética greco-romana, misturou elementos modernos e tradicionais, incluindo o uso de tranças que complementavam a estética elegante e sofisticada da coleção.

(Foto: Getty images)

(Foto: Getty images)
Gabriel ainda comenta sobre o despreparo de algumas marcas ao lidar com outros tipos de cabelo. “Em contrapartida, eu vi modelos brasileiras que chegaram lá fora e ninguém sabia lidar com o cabelo da modelo. Aí, outra modelo, que era preta que teve que lidar com o cabelo dela para poder ajudar, se não ninguém ia conseguir fazer, sabe?”, diz Villaça.
O influencer ainda comenta sobre a celebridade Zendaya, que é conhecida principalmente por explorar vários estilos de cabelo. “Eu acho que ela brinca muito, é incrível! Porque ela usa Dread no tapete vermelho. Cara, é incrível! Eu acho maravilhoso. E sim, causa muita representatividade”, comenta Villaça.

A importância da visibilidade atualmente
As tranças afro são mais do que uma tendência passageira; elas são uma celebração da cultura e da identidade negra, um símbolo de resistência e empoderamento. “Eu acho que quando a gente expõe e coloca o nosso cabelo crespo, o nosso cabelo cacheado sem formato, ou então, utilizando as tranças, isso hoje em dia, eu acho que é um símbolo enorme de resistência”, afirma Gabriel.
Ele também aborda a necessidade de mais tecnologia voltada para a população preta. “Eu espero de verdade que a gente tenha tecnologia o suficiente para o povo preto. E eu digo isso porque o fato de ter tido recentemente, pessoas que ficaram cegas por causa de um produto que era majoritariamente utilizado com a população preta, para mim isso é uma gafe muito grande do mercado, isso não pode acontecer de novo”.
Em 2023, a Anvisa proibiu o uso de pomadas capilares. Mais de mil pomadas foram canceladas e retiradas de circulação após diversos relatos de que o produto causava cegueira temporária, especialmente após o contato com a água, como durante o banho ou em praias e piscinas.
Marina Stefanny, do perfil @osolhosdomar no Instagram, criado com o intuito de representar a diversidade e as mulheres do Brasil, falou brevemente sobre sua experiência pessoal. “Quando era mais nova, por faixa de uns 12 anos, eu sempre alisei o cabelo, por conta também da minha família ver que o cabelo alisado era melhor”. Ela ainda completa, “eu fiz a transição capilar, coloquei as tranças, que ajudam muito nesse período, você tem uma base de sentir mais bonita. Hoje em dia o meu cabelo é a minha coroa. O meu cabelo me define”.

A importância e relevância das tranças para a comunidade preta é sintetizada por Iza em sua canção Gueto. “Debaixo da sua trança tem história pra contar”. É a maneira como a artista destaca a bagagem histórica e rica do penteado que tem empoderado diversas pessoas através do resgate das raízes ancestrais.
