Apesar do alto número de imigrantes, Japão e Brasil ainda vivenciam o fenômeno da xenofobia.
Por Melissa Inoue
Xenofobia é o nome dado ao ódio e à hostilidade dirigidos a pessoas que são de fora do país ou são vistas como estrangeiras. Ela está diretamente ligada ao racismo, ao preconceito com pessoas por sua etnia e características físicas, principalmente a cor da pele.
O Brasil é um país fruto da miscigenação, o que significa que o povo brasileiro é resultado de uma mistura de etnias e culturas diferentes, mas ainda assim tem altos índices de xenofobia, inclusive com o próprio brasileiro, sendo ele descendente de alguma etnia que não branca ou só por ser de outra região do país.
( Foto: Stockvault – Site: https://mundo-nipo.com/
Os primeiros imigrantes japoneses no Brasil chegaram em 1908, através do navio Kasato Maru, que trouxe 165 famílias em busca de emprego nas lavouras de café. Os dois países criaram um acordo imigratório, já que de um lado, o Brasil precisava de mão de obra nas lavouras e também visava o embranquecimento populacional, e de outro, o Japão passava por uma fase de crescimento da população e falta de emprego para todos.
O número de imigrantes aumentou muito na época da Primeira Guerra Mundial, e hoje em dia temos aproximadamente 2 milhões de japoneses e descendentes no país. E o Japão é o terceiro país com maior número de brasileiros no exterior, depois dos EUA e Paraguai.
Xenofobia com japoneses e descendentes no Brasil
Durante a Segunda Guerra Mundial, Getúlio Vargas proibiu os imigrantes japoneses de falar sua língua materna e realizar qualquer comemoração cultural do Japão, já que o país era aliado da Alemanha nazista, e isso aumentou a discriminação com os japoneses no Brasil.
Essa discriminação tem muita força ainda hoje, em sua maioria de forma “disfarçada” de piadas e sem intenção de ofender, mas são repetidas de modo naturalizado e sustenta estereótipos, estigmas e micro agressões.
Fora o preconceito com os imigrantes japoneses e seus descendentes, existe também a xenofobia com os mestiços. É comum neles um sentimento de não pertencimento a nenhuma das culturas.
“Nunca parece que eu sou 100% daquele lugar, daquela sociedade, daquele grupo. Sempre que eu estiver com pessoas que não são amarelas eu vou me sentir deslocada por ser diferente como se eu fosse estrangeira, mesmo tendo nascido no Brasil. Também não me sinto parte da cultura japonesa, nasci e fui criada no Brasil, não tive contatos profundos com a cultura e no Japão sofreria preconceito por ser “gaijin” (termo pejorativo no Japão para se referir a estrangeiro)”, explica a estudante nipo-brasileira Sophia Shizuka.
Xenofobia com brasileiros e descendentes no Japão
No Japão é necessário entender que é da cultura do país ser rígido em relação à preservação de sua cultura. Isso, claro, mais presente na mentalidade dos mais velhos.
“Nenhuma pessoa gostaria de ver aquilo que vem sendo defendido, durante anos, seja modificado por um indivíduo externo. Veja que não estou me referindo às mudanças naturais, como adaptação a novas tecnologias, tendências ou pontos de vista, mas sim, sendo enfático em relação à modificação cultural oriunda da relação com outras culturas. É natural compreender que todos os grupos étnicos possuem certo grau de resistência em relação à mudança cultural. Nem vou entrar em detalhes como a apropriação cultural pós-guerra ou a evolução cultural após a guerra Meiji, mas precisamos entender que o Japão, em si, possui uma rígida visão em relação aos seus costumes”, diz o brasileiro que mora no Japão, Rodrigo Dake.
Ele também enfatiza que “é necessário compreender que, a partir do momento que se é estrangeiro, os habitantes locais demonstrarão resistência, mesmo no Brasil”.
O entrevistado optou por não discorrer sobre como essa resistência à miscigenação o afeta, pois são diferentes níveis de ponto de vista, além de ser algo que varia de acordo com o grupo social de cada pessoa.
Xenofobia de japoneses e descendentes com mestiços e brasileiros
O uso do termo pejorativo “gaijin” é muito comum nas comunidades brasileiras aqui no Brasil, mas isso muda de acordo com as gerações. É interessante observar que essa ideia de casar apenas com japoneses ou descendentes para manter a linhagem “pura” ainda existe, mesmo em um país tão miscigenado como o Brasil.
Claro que não podemos generalizar e dizer que todas as comunidades nipo-brasileiras são assim, apenas que isso ainda é uma realidade. Isso pode ser devido à preocupação com a preservação dos costumes ou também com o preconceito com outras etnias. Também devido à crise de identidade, muitos brasileiros se enxergam como estrangeiros aqui no país onde nasceram.
