Fundado nos anos 1970, esta forma de consumo vem dominando a indústria da moda, marcado pela efemeridade e criação de novas “trends” para fazer o capital circular.

Por Isabela Santana

O “fast fashion”, em tradução literal do inglês “moda rápida”, consiste em um modelo de mercado da indústria da moda que se baseia na produção em massa, para suprir as demandas atuais das tendências passageiras.

Esse modo, criticado por uns e adorado por outros, possui diversas questões a serem debatidas a respeito dos seus impactos e problemáticas. Por trás dos seus benefícios, há uma parte oculta, que os grandes conglomerados não querem que a população saiba.

Interior de loja de departamento (Foto: Istock)

De acordo com Evelyn, 19 anos, funcionária da rede de estabelecimento Marisa, uma das vantagens do “fast fashion” é a facilidade com o que se pode adquirir as roupas, tanto em lojas físicas quanto online. “O que você precisa tem em qualquer lugar, ‘cê’ compra na internet na hora que você quiser”.

Segundo Iana Uliana Perez, 33 anos, professora de Design de Moda da Unisagrado, essa acessibilidade é uma das razões pelas quais o “fast fashion” é mais procurado pelas pessoas. Entretanto, essa suposta disponibilidade proporcionada não abrange a todos, pois para isso acontecer, direitos trabalhistas são feridos. “É difícil falar de democratização da moda quando a gente tem trabalhadores sendo explorados ‘pra’ que os consumidores possam ter acesso a esses produtos”.

A professora de Design de Moda da Unisagrado Iana Perez (Foto: arquivo pessoal)

Ainda nesse ponto, não só a alta distribuição afeta na precarização do trabalho, mas também os preços baixos, pois com o barateamento dos custos de produção dos vestuários, há um agravamento no bem-estar dos trabalhadores. “Uma das bases do ‘fast fashion’ é vender produto barato, e uma forma de vender esse produto é barateando os custos de produção, que envolve a precarização de trabalho, chegando num ponto de condições análogas à escravidão”, reitera Perez.

Além disso, há a poluição ambiental, muito presente por causa da alta fabricação de peças, que ao serem descartadas, se tornam resíduos jogados ao meio ambiente. “O ‘fast fashion’ acelera o ciclo da moda. Então, ‘a gente’ tem essas trocas de tendências cada vez mais rápido, que acaba aumentando muito o nível de consumo de materiais que impactam no meio ambiente, sejam elas naturais, como algodão, porque usa muito agrotóxico, ou sintéticas, por conta do petróleo”, afirma Iana.

Com o advento das redes sociais, o “fast fashion” se tornou mais difundido globalmente, tanto que elevou-o a um outro patamar, assim, ocasionando no “ultra fast fashion”. “As redes sociais influenciam tanto o mercado de ‘fast fashion’ que ocasionou no surgimento do ‘ultra fast fashion’, caracterizado pela figura da Shein, fazendo com o que a moda tenha que se atualizar cada vez mais rápido, utilizando do algoritmo das mídias sociais, como o Tiktok, para analisar as tendências”, declara a professora.

Mesmo com a tentativa das grandes empresas de mascarar ao máximo suas controvérsias, alguns escândalos vazam e saem na mídia, com isso, o povo tem se conscientizado e cobrado das marcas uma mudança significativa do seus atos. Todavia, o silêncio e a indiferença persistem. “Quanto às empresas, eu não acredito que elas vão tomar algum tipo de medida. Creio que todas elas têm um pontinho de culpa, por mais que algumas tentam, né? Isso não dá para negar. Não acho que elas estejam preocupadas agora”, diz a funcionária da Marisa.

Com esse fato, os indivíduos estão procurando por alternativas para contornar essa situação, por exemplo, valorizando peças nacionais, comprando em brechós e produzindo as próprias roupas. Porém, isso não significa que seja fácil, há bastantes desafios a serem superados.

“Uma alternativa seria consumir localmente, ou seja, consumir da lojinha ali do bairro, da marca que produz na sua cidade. Quando um produto é fabricado cumprindo todas as questões legais ele vai ser mais caro. Então, não é tão acessível para todo o mundo”, alega Iana.

Em suma, o “fast fashion” é idealizado a partir de uma lógica de lucro e exploração do sistema capitalista, ou seja, ele prioriza apenas o excedente de capital, ignorando totalmente as consequências geradas por esse tipo de postura. Nesses últimos anos, há uma percepção da sociedade sobre seus resultados negativos, que está elaborando outras possibilidades de consumir moda, mas tem sido complicado, devido a toda uma estrutura em favor do “fast fashion” para manter o império das empresas. Portanto, o boicote individual de deixar de usar e gastar em certos estabelecimentos não irá mudar o planeta, apenas com o despertar e a ação coletiva poderá alterar a ordem estabelecida pela indústria da moda.

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