Exposição na Pina Estação traz retrospectiva dos 60 anos de carreira do artista
Por: Rodrigo Matias
O artista baiano J. Cunha apresenta sua mais nova exposição na Estação Pinacoteca, em São Paulo (SP), que traça uma retrospectiva da sua carreira e comemora seus 60 anos de atuação. A mostra “Corpo Tropical”, em cartaz até o dia 29 de setembro, conta com mais de 300 obras produzidas pelo artista. Além das pinturas de cunho tropicalista, também são apresentados ao público desenhos, cartazes, objetos e documentos que narram toda a sua trajetória cultural, desde o início na Bahia, até alcançar reconhecimento nacional e internacional. Com curadoria de Renato Menezes, a exposição será a maior mostra individual do artista.
Nascido na Ponta do Humaitá, região metropolitana de Salvador, J. Cunha, desde muito cedo, demonstrou imenso interesse pela arte. Mais tarde, passou a se aproximar cada vez mais das artes plásticas, da dança e da pintura. Ele foi aprovado nos cursos livres da Universidade Federal da Bahia, onde aprimorou cada vez mais suas técnicas.
Cunha participou de diversos grupos de contracultura, começou a trabalhar com figurinos e posteriormente na produção do bloco afro do “Ilê Ayiê”, no qual colaborou como figurinista em 25 carnavais.

A exposição “Corpo Tropical” é dividida em três partes que se juntam para contar a história do artista. A primeira é chamada “Made In Brasil” e reflete o início de J. Cunha na arte, mais especificamente nos anos 1970. Nesse período, é possível destacar importantes referências que se mostram fundamentais no estilo do artista, como o tropicalismo e as festas populares que marcaram sua infância.
“J. Cunha passou a frequentar a universidade justamente no momento de efervescência tropicalista, então ele é formado nesse caldeirão cultural baiano dos anos 60. É assim que ele passa a ver o mundo”, conta o curador da exposição Renato Menezes.
“O trabalho dele é totalmente festivo e resultado de uma observação muito cuidadosa do cotidiano baiano. Não é à toa que ele se interessa tanto pelo carnaval. A mesma coisa acontece nas festas de São João, no 2 de julho e em vários outros festejos ao longo do calendário de Salvador, que seguem alimentando o repertório do artista até hoje”, explica.

A segunda parte da exposição, “Passar por aqui”, traz uma retrospectiva dos anos 1980 e 1990 da obra de J. Cunha. Esse momento foi fundamental para o amadurecimento do artista e foi marcado por muita reflexão. Nesse período, ele passou a focar no trabalho com o Teatro Castro Alves e com o bloco afro “Ilê Aiyê”. Ele fez figurinos, estampas e cartazes em larga escala para o maior carnaval do planeta.
Demandas como essas passaram a inibir o experimentalismo de Cunha e requerer um grande domínio técnico, principalmente das cores, como explica Menezes. “Para fazer um cartaz, por exemplo, você usa uma gama específica de cores. O Ilê Aiyê tem basicamente quatro cores, que são vermelho, amarelo, preto e branco. Então, ele precisa criar anualmente um tema que gere um padrão muito diferente do anterior, usando basicamente quatro cores. Por isso, é preciso um domínio muito grande com tintas bastante restritas.”

A terceira e última parte da exposição, “Neobarroco Afro-Pop”, apresenta a fase contemporânea do artista, em que ele atualiza seus modelos gráficos para elementos como a pichação, por exemplo, mas sem perder sua essência original e brasileira. Nessa nova fase, destaca-se a obra “Códice”, de 3 metros de altura por 7 metros de comprimento. O painel é composto por 21 peças, em formato de quadrantes, cada uma se referindo a uma divindade afro-brasileira.
“Códice” costuma ser a obra que mais impressiona os visitantes, e não foi diferente com a vestibulanda, Gabriela Conserino, de 18 anos, que voltava do cursinho quando decidiu dar uma olhada na exposição: “É muito bonito e colorido. Também é bem grande, cheguei perto e fiquei até um pouco assustada”, comentou rindo. “Mas é muito interessante, você junta cada uma dessas telas e parece que está contando uma história”, relata.

A mostra “Corpo Tropical” é a primeira individual de J. Cunha no Brasil. Ela se insere em um contexto em que artistas regionais vêm ganhando maior visibilidade e relevância, aparecendo em grandes exposições. Menezes diz que J. Cunha sempre trabalhou em lugares nos quais os grandes museus nunca consideraram como espaços nobres, a exemplo do teatro, do carnaval e da festa de rua.
“Hoje, a gente tem uma outra percepção da função do museu. Nos museus em geral, e na pinacoteca em particular, temos feito um esforço justamente de incorporar a dinâmica do museu a artistas que foram, de alguma forma, expelidos da narrativa oficial da chamada história da arte no Brasil”, destaca.
“Eu confesso que não conhecia o J. Cunha. Mas acho muito interessante essa iniciativa da Pinacoteca, justamente para poder divulgar artistas como ele para o maior número de pessoas”, completa a estudante Gabriela.
Exposição: “J. Cunha: Corpo Tropical”
Quando: De quarta-feira a segunda-feira, das 10h às 18h. Até 29 de setembro.
Onde: Pina Estação. Largo General Osório, 66, Santa Efigênia, São Paulo.
Quanto: R$: 30 (inteira) e R$: 15 (meia-entrada)Para mais informações, acesse o site do museu.
