Em entrevista, a diretora da Casa de Cultura Mario Quintana, de Porto Alegre, Germana Konrath, fala sobre os planos de recuperação do prédio.
Por Pietra Perez.

Travessa dos Cataventos, na Casa de Cultura Mario Quintana, no Centro de Porto Alegre (Foto: Sedac/Divulgação)

“É a partir da cultura que nós contamos nossas histórias e temos nossas narrativas”, afirma Germana Konrath, diretora da Casa de Cultura Mario Quintana, um dos maiores centros culturais do país, em Porto Alegre.

Diante da calamidade pública causada pelas fortes chuvas enfrentadas pela população gaúcha, a diretora acredita que “a cultura tem esse papel não só de criar e resgatar outras narrativas, mas também de trazer para dentro de seus museus e espaços de memória o que for possível, deixando, de alguma forma, essa recordação viva, passível de visitação para que a gente se lembre de seus efeitos e suas causas”.

Germana diz que os danos vão além do material. “Há uma tristeza e uma melancolia de ver um prédio que geralmente recebe 30 mil pessoas por mês fechado”, ela lamenta. Quando questionada sobre as áreas mais atingidas do CCMQ, a diretora diz que o nível térreo foi drasticamente atingido pelas águas, mas, com esforço em uma força-tarefa, os acervos e parte do mobiliário foi realocado para os níveis superiores do prédio e, assim, preservados.

Germana Kodath, diretora da Casa de Cultura Mario Quimtana (Foto: Divulgação da CCMQ)

Será necessária, para a recuperação da Casa, pinturas interna e externa de todo o andar térreo, além de revisão de esquadrias (portas) de madeira, polimento de revestimentos, substituição de bombas dos reservatórios de água, limpeza completa das caixas d’água e conserto ou reposição de parte do mobiliário planejado que não pôde ser realocado na força-tarefa do dia 3 de maio, antes das águas invadirem a instituição.

As subestações de energia elétrica que abastecem a CCMQ ficaram parcialmente submersas, e por conta disso será necessária a troca dos disjuntores, quadros elétricos e cabos.

O acervo do centro cultural – nele incluso o arquivo sobre o poeta Mario Quintana, a cantora Elis Regina, o antigo Hotel Magestic e outros objetos – fica localizado no segundo piso, e permaneceu intacto. Da mesma forma, as obras do MAC (Museu de Arte Contemporânea do RS), não sofreram danos relacionados à enchente.

Apesar do sucesso na tentativa de salvar o acervo de arte e cultura, as três salas de cinema da Cinemateca Paulo Amorim, que fica localizada no térreo da Casa, foram alagadas. Será preciso trocar os carpetes que revestiam todas as salas, bem como todas as 260 poltronas. Outros estabelecimentos comerciais, como a Livraria Taverna, o café Lucimaria, o bar Térreo e a loja Andaime, tiveram o funcionamento paralisado e seus equipamentos e móveis fortemente afetados. Seus proprietários contam com o apoio da CCMQ para a realização da limpeza e recuperação de móveis e eletrodomésticos.

As águas baixaram por completo no dia 21 de maio. A perspectiva é que a CCMQ permaneça fechada até meados de julho. Entre aprovação de serviços, solicitação dos materiais necessários e a execução, a equipe da Casa procede com avaliações e orçamentos das necessidades para que tão logo seja possível começarem os reparos.

CCMQ no dia 19/05 (Foto: Camila Diesel | Acsom Sedac)

“Um espaço super vivo que vai precisar provavelmente de dois a três meses até se recuperar completamente”, lastima a diretora Germana Konrath. Mas ela não perde a força quando diz: “vamos retomar, e vamos retomar cem por cento”.

Germana reflete sobre o fato de que “um cartão postal da cidade, um espaço turístico e cultural muito ativo na cena artística, ficando tanto tempo fechado é uma tristeza, mas acho que acompanha um certo luto que estamos vivendo no Rio Grande do Sul”.

Ela tem esperanças de que esse luto venha, daqui para a frente, acompanhado também de uma retomada, e que a Casa de Cultura Mario Quintana seja um símbolo nesse processo.

“Acho que temos esse papel de ser uma referência na cultura para todo o estado e até para o sul do país. Há muito reconhecimento da população, de pessoas que têm muito carinho pela casa, e acho que quando tivermos essa reabertura, podemos ser um farol, acendendo essa luz para um momento de renascimento do estado como um todo”.

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