Após resultados dos auxílios terem sido disponibilizados apenas no fim de maio, alunos da Unesp Bauru se pronunciam e pedem mudanças no sistema SISCOPE.

Por Alice Burégio Portugal

Na segunda-feira, 27 de maio, estudantes realizaram uma passeata pelo câmpus da Unesp Bauru, com cartazes e megafones, onde fizeram exigências, pedindo melhorias em todo sistema SISCOPE (Sistema da Coordenadoria de Permanência Estudantil) e mostraram-se indignados com o atraso da distribuição dos auxílios. Nos cartazes espalhados pela Unesp, os alunos declararam a falta de sensibilidade que a mesma teve para com os estudantes que dependem do auxílio. Na segunda-feira em questão, os alunos conseguiram marcar uma reunião com o Presidente do GAC (Grupo Administrativo do Câmpos) para segunda-feira, dia 3 de junho. Eles afirmam que, se nada se resolver, a manifestação não irá acabar tão cedo.

Em um de seus pronunciamentos, eles expuseram um cartaz que dizia: “Pra que COTAS se não conseguimos pagar as CONTAS?”. Muitos estudantes ingressantes e veteranos que já estudam há anos na Unesp, que fazem um planejamento financeiro contando com a disponibilização do auxílio, se sentiram perdidos, pois não esperavam este atraso. Há inúmeros estudantes que possuem família responsável por sustentar não apenas um só filho, mas diversos outros familiares que dependem do salário ganho. Famílias que se programaram desde o início, contando com o fornecimento do auxílio, tiveram suas expectativas quebradas, pensando até mesmo na possibilidade de seu filho retornar à casa, desistindo de estudar na UNESP. Em outro cartaz exposto na faculdade, os estudantes proferiram: “Quantos + vão precisar trancar?”.

Cartazes de protesto no câmpos da Unesp Bauru (Foto: Alice Burégio Portugal)

Luís Silva, do sétimo semestre de Jornalismo da Unesp Bauru, diz que não contava com este atraso e que isso mexeu com todo o seu planejamento financeiro. “A gente nunca espera. Sempre contamos com o dinheiro caindo no dia certo, até porque nos planejamos para usá-lo desde o início, uma garantia que, em tese, o auxílio fornecia. Então, querendo ou não, quando dá uma atrasada, dificulta demais, porque você não sabe como agir e nem se planejou pra isso”.

Em complemento, a estudante Yasmin Senhorini, do terceiro ano de Psicologia da Unesp Bauru, uma das organizadoras da manifestação, que reuniu dezenas de estudantes, diz que a ideia surgiu quando todos eles já estavam cansados de esperar. “A ideia acabou surgindo por conta da indignação e do desespero do pessoal da permanência, eu incluída. Tem gente na lista de espera que está há dois meses sem receber nenhum tipo de auxílio da Unesp e tem também os ingressantes que, desde março quando iniciaram as aulas, também estavam sem receber o auxílio e sem previsão dos resultados”.

Ela complementa falando sobre a problemática do sistema SISCOPE. “Tentamos entrar em contato com os servidores que utilizam ele e sempre era a mesma resposta de ‘Ah, o SISCOPE também é complicado pra gente, também aparecem erros aqui.’ Então, resumindo, o SISCOPE é um sistema ruim tanto para nós alunos quanto para os próprios funcionários, de acordo com a palavra deles”.

O que não se esperava era a grande repercussão que a manifestação teve. Yasmin diz que eles (responsáveis pelo planejamento de todo o ato), divulgaram em redes sociais e tiveram muito apoio dos alunos, dos que participam do auxílio permanência e aqueles que simpatizaram com a causa e, consequentemente, ajudaram na divulgação. “Temos nos organizado com muita divulgação nos grupos do WhatsApp da Unesp e no Instagram, nas mídias como um todo. Passamos de sala em sala, avisando a galera. E também tem a questão de as pessoas escutarem relatos de amigos que estão sofrendo com tudo isso na permanência e acabam se sensibilizando e fazendo com que a galera se mobilize e participe mais dessas assembleias, reuniões e mobilizações”.

Alunos reunidos na manifestação recebendo o comunicado da reunião marcada. (Foto: Alice Burégio Portugal)

Em contrapartida, Luiza Banhara, que trabalha na supervisão da STAEPE (Seção Técnica de Apoio aos Estudantes de Pesquisa e Extensão), diz que não ocorreu um atraso, o cronograma apenas teve uma modificação em comparação com o ano passado, por conta do aumento de participantes de um ano para o outro. “Eu não sei de que atraso você fala. Até onde eu percebi, o cronograma está dentro do edital, inclusive são em períodos mais generalizados”, explica.

Ela complementa citando o aumento do número de participantes, com a grande demanda que teve esse ano. “Aumentou muito a demanda de inscritos. Ano passado teve cerca de 40% a menos de inscritos do que esse ano. Inclusive o dos ingressantes, foi necessário fazer entrevista com todos os alunos. Então, quanto mais aluno tem, mais demora, porque a entrevista é um processo demorado, e com o aumento de 40% acaba tendo um atraso em todo o processo seletivo mesmo”.

Com relação ao pagamento, Luiza afirma que apenas a divulgação sofreu demora de um mês, porém a data de pagamento se manteve sem nenhuma modificação. “Foi um mês de diferença de divulgação, mas quando você analisar a data do pagamento, ela está equivalente à do ano passado. Isso porque demorou um mês para divulgar, mas os pagamentos do ano passado ocorreram também em junho, assim como está ocorrendo nesse ano”.

Ela explica ainda que existe uma pressão sobre as assistentes sociais para divulgarem os resultados o mais rápido possível. “É até uma certa pressão que a gente coloca nas assistentes sociais pra elaborar esse cronograma e elas falam ‘como saber?’, é uma previsão. Ano passado a gente teve uma margem um pouco maior para trabalhar e esse ano a gente está trabalhando a toque de caixa. Na correria tanto para nós quanto para os inscritos”.

Cartaz ao lado de salas na Unesp Bauru: “sua militância vai além da sala de aula?” (Foto: Alice Burégio Portugal)

Apesar de todos os ocorridos envolvendo o sistema SISCOPE e a mudança de cronograma que a funcionária do STAEPE expôs, Yasmin, organizadora da manifestação, finaliza seu pronunciamento contando sobre a importância desse ato para os estudantes. “Sem essa manifestação que foi realizada eu acho que não seria possível alcançar esse objetivo, porque esses dois meses que os alunos ficaram sem receber não estava tendo nenhuma manifestação. Algumas assembleias e reuniões estavam sendo realizadas, mas não estava tendo adesão dos alunos. Eles ainda não comentaram nada sobre os dois meses que ficamos sem receber, mas os resultados acabaram saindo. Foi bem bacana essa manifestação e bem bacana ver esses objetivos estarem saindo”.

Yasmin encerra explicando a importância de ter o apoio da faculdade e que isso é um direito dos estudantes que deve ser cumprido. “É um direito nosso e a gente estava sendo barrado desse direito”.

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