Em seu lançamento mais recente, a cantora Duquesa mostra porque devemos prestar atenção no cenário do rap nacional.

Capa do álbum Taurus, Vol. 2 (Foto: Divulgação)
Por Isabela Nascimento
No dia 10 de maio, a rapper Duquesa lançou, Taurus, Vol. 2, uma continuação do seu primeiro álbum com o mesmo nome, nas plataformas digitais. Atualmente, ele acumula mais de 10 milhões de visualizações nos serviços de streaming e também está sendo considerado um dos melhores lançamentos do rap nacional deste ano.
A cantora nasceu em Feira de Santana, Bahia, mas começou a sua carreira como cantora e produtora em São Paulo. Seu primeiro projeto musical foi lançado em 2017 e depois de cinco anos, o primeiro EP, Sinto Muito, teve a sua estreia, apresentando o caminho que ela seguiria na música.
Em 2023, Duquesa lançou seu primeiro álbum, com músicas sobre sexo, empoderamento da mulher negra e ostentação na visão feminina, que fez bastante sucesso na internet, acumulando mais de 10 milhões de visualizações apenas no serviço de streaming, Spotify. Neste projeto, ela mostrou porque deveríamos prestar atenção no cenário feminino e começar a consumir as suas músicas.
Agora em maio de 2024, a rapper lançou a continuação, Taurus, Vol.2. O disco tem 13 músicas que exploram o House, r&b, trap e rap, ritmos popularizados e criados pela comunidade negra. Ele traz as mesmas mensagens dos seus projetos anteriores, o empoderamento e o resgate da sexualidade da mulher negra. Esses discursos são bem visíveis nas faixas. Em, Big D!!!!! Pt. 2, ela canta. “ Disseram que eu estrago elas, mas eu devolvo a autoestima. Queriam te assistir chorando, mas vão ter que te ver rica.”

Foto do clipe “Tá eu e a Nicole” (Foto de Ibcardoso, Reprodução)
As parcerias com as cantoras, Tasha & Tracie e Urias em, Pose e Disk P@#$%&!, respectivamente, reforçam ainda mais esse discurso de afirmação.
Para o estudante de Jornalismo, fã da rapper e admirador do cenário do rap feminino, Marcos Vinicius, ele ficou surpreendido com a diversidade nos estilos musicais presentes, e adorou o projeto.
“Eu amei o álbum, me surpreendeu, eu achei que ela rimaria mais e entregaria vocal, ela não só mostrou isso, mas também, navegou em outros gêneros, como o House, Jazz club, outros, ela foi além das expectativas. Ela entregou o esperado e um pouco mais.”
No disco, vemos uma presença de vários ritmos musicais. Perguntando se isso é alguma particularidade das produções femininas no rap, ele diz que não, mas acredita que elas viram isso como forma de se destacar. “Eu acho que isso não acontece por elas serem mulheres, não são todas que fazem isso, é mais uma questão de mercado.” Ele complementa falando sobre a cantora. “No caso da Duquesa, ela quis explorar e se aventurar em coisas diferentes, porque todo mundo já sabia da capacidade dela em rimar e estavam esperando isso.”
É impossível falar sobre a Duquesa e não citar outras cantoras que andam fazendo sucesso junto dela. Julia Costa, Mc Luanna, Tasha & Tracie, são alguns dos nomes mais comentados na indústria musical e vistas como cantoras em ascensão no cenário do Hip-Hop brasileiro. “Era inevitável, tinha muitas cantoras fazendo trabalhos incríveis, sem ter nenhuma visibilidade. Os próprios fãs viram que a cena estava ficando chata e repetitiva, tanto que até o underground, onde tem um estilo mais autêntico, estava fraco também. Então eles começaram a dar atenção às artistas femininas que estavam fazendo músicas boas e com muita personalidade há um tempo”, ele comenta.
Apesar da popularização delas, ainda vemos comentários machistas e racistas. Para o estudante, o crescimento era algo esperado e essas situações, infelizmente, aconteceriam. “A minha perspectiva é que cresça mais, há situações ruins, as críticas sem fundamento é ‘normal’, por ser algo novo, já que é a primeira vez que muitas mulheres fazem sucesso e coisas diferentes ao mesmo tempo, os fãs jovens, principalmente, de rappers masculinos vão acham ruim e fraco, mas é só ignorar e passar por cima, no futuro eles terão um olhar diferente sobre elas e compreender o quão bom eram.”
A representatividade é algo muito presente nas músicas da Duquesa e dessas outras rappers, elas criam uma narrativa que enaltece a mulher negra e outras mulheres que não se veem no padrão de beleza, esse tipo de mensagem é muito significativo quando vemos o maior público consumidor delas.

Foto do clipe “Ela” (Divulgação)
Para a Luana Hansen, vencedora do prêmio Sabotage de melhor MC de Hip-Hop em 2024, essas mensagens são muito significativas. “A representatividade é fundamental, e cantoras como a Duquesa têm um impacto enorme na vida das meninas que consomem rap. Ver mulheres negras no palco, expressando suas realidades e conquistas, serve como uma inspiração poderosa.”
Ela complementa dizendo que isso fortalece a autoestima e a confiança das jovens, incentivando-as a perseguir seus sonhos e a acreditar em seu potencial.
Luana faz músicas há mais de 20 anos, ela vem de uma geração do rap que poucas mulheres faziam sucesso, para ela ver esse cenário mudando é algo animador e promissor. “É um sentimento de realização e esperança. Quando comecei, as dificuldades eram imensas, e poucas mulheres tinham a oportunidade de se expressar e serem ouvidas no rap. Ver o cenário mudando, com mais mulheres negras ocupando espaços de destaque, é muito gratificante. Isso me enche de orgulho e me motiva a continuar lutando por mais igualdade e representatividade. É uma prova de que a persistência e a resistência valem a pena.”
No final do mês, Duquesa foi anunciada como uma das concorrentes a premiação norte-americana, focada em premiar artistas negros, Bet Awards, na categoria de melhor nova arista internacional, pela escolha do público. Ela também foi divulgada como uma das headliners do festival brasileiro, AFROPUNK, que acontecerá no começo de novembro em Salvador, Bahia. Na mesma semana, ela publicou a sua agenda de shows para o começo do segundo semestre do ano.
