As fortes chuvas que acontecem no RS afetam mais de 2 milhões de gaúchos e deixaram, até o momento, 161 mortos. 

Por Sarah Galindo

O Estado do Rio Grande do Sul sofre com uma calamidade pública. Uma massa de ar quente juntou-se ao fenômeno “El Niño” e a região sul tornou-se propensa a chuvas intensas e contínuas. Por conta disso, índice pluviométrico atingiu, em 10 dias, ¼ do previsto para o ano. 
Em 27 de abril de 2024, a região central do Estado sofria com os temporais e granizo, mas, apenas no dia 29 de abril, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu o alerta vermelho para o elevado volume de chuvas. A partir do primeiro alerta vermelho, o Rio Grande do Sul desencadeou diversas tragédias conjuntas, como o alagamento de quase 90% das cidades, transbordamento dos rios, desabamento de pontes, mais de 80 mil pessoas estão morando em abrigos e há centenas de desaparecidos e feridos. 
Ao menos um dos fenômenos climáticos que causaram essa tragédia é conhecido pelos brasileiros, o “El Niño” envolve o país a cada 3 anos e causa mudanças nos períodos de chuva, seca e temperaturas. No Sul, o índice pluviométrico eleva-se, assim como as temperaturas, durante os meses de primavera e transição do outono para o inverno. Em geral, o “El Niño” é caracterizado pelo aquecimento anormal das águas do Oceano Pacífico em sua porção equatorial, e acontece em períodos irregulares.  

O professor de geografia, Gustavo Batel, diz que o Rio Grande do Sul é uma região encontro de massas de ar e propensa a criar uma área de instabilidade chamada de Frente Fria. “A massa Polar Atlântica, que advém do próprio Sul, acaba encontrando a massa Tropical Atlântica e formando sucessivas frentes frias”, explica.  
Ele afirma também que fato de as massas de ar fria e quente estarem estagnadas no RS em conjunto com o El Niño, aumentam a quantidade de umidade no Estado. “Há uma piora, por que com o El Niño, que está se encerrando esse mês, as temperaturas do Oceano elevam-se e acabam aumentando a quantidade de umidade que é retirada pela massa Polar Atlântica, o que causa o aumento exorbitante das chuvas”. 
Mudanças climáticas são os fenômenos que mais presenciamos no mundo todo, de forma indireta uma das causas dessas modificações climáticas é o aquecimento global. Batel destaca que esses eventos extremos estão acontecendo em todo o Globo, não apenas no Brasil. “Estão havendo enchentes nos Estados Unidos, na Bolívia, Emirados Árabes e na Arábia Saudita”.  

O professor ressalta o processo de efeito estufa, esse sim pode ser diretamente atrelado as catástrofes mundiais. “O efeito estufa é um processo natural do Planeta Terra, mas é potencializado pelo ser humano, com os gases poluentes, destruição da biodiversidade, da fauna e flora, essas questões dão a possibilidade de potencialização dos eventos climáticos”.  

Enchente em Porto Alegre (Foto: Giulian Serafim/Divulgação/PMPA)

Gustavo conta para Jornal Contexto que uma característica do solo gaúcho aumentou a possibilidade de enchentes: “do ponto de vista geomorfológico, o solo é considerado um pouco mais raso, é de formação recente e não tem tanta profundidade”. Essa realidade gera um problema de excesso de água, então quando as chuvas ultrapassaram os limites previstos para o mês, o controle hidrológico do solo acabou sendo superado.  

Do ponto de vista meteorológico, José Carlos Figueiredo, meteorologista e doutor em agronomia, complementa as afirmações do professor Gustavo e salienta que “regiões atingidas por sistemas meteorológicos barrados pelo bloqueio atmosférico (Frente Fria) tendem a experimentar um volume de precipitação maior”. 
Figueiredo tem dedicado parte dos seus estudos aos fenômenos naturais El Ñino e La Ñina desde que o bloqueio começou, trazendo escassez de chuva para as regiões Sudeste e Centro-Oeste, e sua centralização no Sul, que sequenciou um dos episódios mais graves ocorridos na região.  

O meteorologista declara que os alagamentos e enchentes na área eram previstos. “É esperado que aconteça, como aconteceu em Ubatuba, no Rio de Janeiro, em Brasília, em João Pessoa, em Bauru (todo ano acontece)”, mas não com a intensidade que está ocorrendo no Rio Grande do Sul. 
João Carlos esclarece que tragédias como a que está acontecendo no Sul não podem ser evitadas por se tratar de fenômenos naturais, mas as mortes e prejuízos materiais foram falta de responsabilidade. “Nós que agredimos o ambiente retirando florestas, incendiando as matas (não existe combustão espontânea na natureza)”. Ele diz ainda que o ser humano é uma fagulha para a catástrofe: “depois das enchentes e alagamentos aparece o quanto nós sujamos o meio em que vivemos (lixo, sacolas plásticas, cadeiras velhas, embalagens, lama…), todo ano a conta chega e infelizmente muitas vidas são perdidas”. 

As chuvas e seus excessos não podem ser evitados, mas suas consequências poderiam ter sido amenizadas. Até o momento de publicação dessa matéria, o Rio Grande do Sul ainda é castigado com as fortes chuvas e o número de mortes e desaparecidos apenas aumenta. Os brasileiros uniram-se nesse momento frágil e começaram uma série de doações para ajudar as famílias que perderam tudo e estão vivendo em abrigos. Segue abaixo o pix do canal oficial de doações, a quem interessar. 

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