Por Beatriz Marrancone
No dia 24 de Maio é comemorado o Dia do Vestibulando, um dia importante para relembrar a difícil jornada dos jovens que tentam ingressar no ensino superior, e ainda mais importante, lembrar como cursinhos pré-vestibulares gratuitos ajudam no acesso à educação. Muito embora, alguns ainda enfrentem dificuldades, como é o caso do Cursinho Desafio, curso pré-vestibular popular da Unesp de Botucatu, que, por mais consolidado que seja “ainda precisa de melhorias”.
Desde a criação e popularização do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e outros vestibulares que dão acesso a faculdades públicas, mais e mais cursinhos pré-vestibulares foram criados com o intuito de preparar seus alunos para o dia da prova e ajudá-los a ingressar no ensino superior.
No entanto, nem todos os jovens têm condições de custear um cursinho particular e, então, por iniciativas populares e de universidades estaduais e federais, versões desses cursinhos gratuitos foram criados e consolidados como uma forma de pessoas de baixa renda conseguirem competir por uma vaga nas universidades públicas.
Um exemplo dessas iniciativas populares é o Cursinho Desafio, criado e coordenado por alunos da Faculdade de Medicina de Botucatu, FMB Unesp, desde o ano 2000. E que até hoje, fornece gratuitamente apoio acadêmico e emocional às pessoas que desejam ingressar em uma universidade.
Desafios e críticas

Contudo, nem tudo são flores. Em entrevista para o Jornal Contexto, alguns alunos confessam estar insatisfeitos com certos aspectos do curso.
“O cursinho fala que é para ser público, mas ele acaba sendo um pouco elitista, porque os alunos que não conseguem seguir o ritmo das aulas, acabam saindo e desistindo”, relatou Beatriz Amancio, de 20 anos, que sonha em cursar medicina, e tem o cursinho como esperança para conseguir realizar esse sonho. Ela também acrescenta que para o cursinho melhorar ele precisa começar a ouvir os alunos e suas necessidades.
Outra crítica pontuada por uma das alunas, Lavínia, de 18 anos, é a sensação de falta de interesse por parte dos professores. “Quem realmente está disposto a trazer aula pra gente, com conteúdo adequado, são cinco professores, de resto a gente sente que só quer horas complementares”.
Na opinião de Lavínia, parte da culpa desse desinteresse é dos professores, mas a coordenação também não sai ilesa. “Eu acho que quem está na frente é a administração, então quem toma parte é a administração, por serem responsáveis pelos professores”.
Perspectivas positivas

Apesar das críticas, a aluna também não poupa elogios para uma das professoras com quem tem aula. “A Karine auxilia muito a gente com os estudos. Fora do expediente do cursinho, ela faz o que ela pode e o que ela não pode para ajudar a gente”. Lavínia enfatiza que a professora em questão também teve uma trajetória difícil até chegar na universidade, e por isso causa identificação entre os alunos.
Mesmo com os desafios e críticas, ainda existem estudantes empenhados em defender e elogiar o programa, como Leandro Rosa, de 45 anos. Ele conta como sua jornada de estudos é extensa e como o cursinho auxilia nela. “Eu levanto às 4 da manhã, aí estudo até umas 6 e meia, depois vou trabalhar. Estudo uma hora depois do almoço (no serviço) e depois venho para o cursinho”.
Ele acrescenta ainda que “os professores auxiliam a gente a descansar, não se esgotar tanto porque a gente tem que tá com a mente boa e o corpo descansado”. O objetivo de Leandro é conseguir entrar no curso de medicina e ele acha que está conseguindo se preparar adequadamente para o vestibular.
A coordenação do curso também defendeu o programa, e conta como estão sempre empenhados em melhorá-lo. A professora de redação e coordenadora do curso, Nathália Webel Ramos, de 23 anos, comentou os esforços contínuos para minimizar a evasão dos alunos.
“A gente tenta sempre entender que existem inúmeras razões para os alunos estarem ou não no cursinho, e a gente tenta ajudar na medida do possível”.
Nathália acrescenta que para isso, o cursinho oferece apoio psicológico e de tutoria, contudo, ainda há os casos que fogem do controle deles.
Comentando sobre os professores, a coordenadora diz que eles disponibilizam um formulário anônimo para que os alunos avaliem a didática e o material dado em aula por cada professor, e que a coordenação interfere se os resultados não forem bons. “Caso a avaliação seja ruim, os professores recebem um alerta da coordenação para tentar melhorar”, e que eles também ajudam os professores caso isso aconteça.
Por fim, Nathália comenta que ela e outros coordenadores também tentam organizar momentos de descontração, pois “ajuda a deixar esse momento (ano de vestibular) mais leve”. E fala dos resultados práticos de todo esse empenho: “tivemos 15 aprovações ano passado. Desde que estou no cursinho eu percebo uma melhora no índice de aprovações.”

Mesmo com as críticas, é possível visualizar um grande esforço por parte dos responsáveis pelo curso, para que ele melhore cada vez mais. Por isso, é importante o reconhecimento desses esforços e enxergar o potencial transformador que esse, e inúmeros outros cursinhos populares, têm na vida de várias pessoas.
