Trinta anos após a chegada de Nelson Mandela ao poder, país vai às urnas de olho em novas políticas de inserção social

Por Bárbara Lo Prete

No próximo dia 26, os cidadãos da África do Sul vão às urnas para escolher os 400 representantes da Assembleia Nacional. Essa é apenas a sétima vez que todos as pessoas maiores de 18 anos são considerados cidadãos e tem o direito de votar sem discriminação de raça. 

Há 30 anos, Nelson Mandela era eleito presidente da África do Sul, após passar 27 anos encarcerado, representando o apaziguamento da nação e o fim do Aparthaid. Neste momento é necessário entender que durante seu período de encarceramento a luta contra o regime seguiu firme do lado de fora, como conta o Doutor em História pela PUC-SP e professor da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB) Juvenal de Carvalho Conceição.

“O regime não estava aberto a negociações e inclusive censuraram cartas da família. A luta  continuou com ações do CNA que ajudaram a construir a imagem de herói que ele carrega. Essas lutas foram guiadas por Winnie Madikizela-Mandela, uma líder com visão específica de como deveria acontecer a transição para um novo regime”. 

A efeméride desta eleição histórica traz reflexões sobre como o estado vem tratando a inserção dos cidadãos pretos na sociedade após tanto tempo de segregação. Na análise do professor, ele conseguiu conduzir uma transição se revelando um líder excelente que poderia se manter no governo por mais um mandato se fosse de sua vontade. Ele afirma também que em 10 anos do CNA no poder, a África do Sul avançou mais nas políticas públicas de inserção do que o Brasil em 100 anos de pós escravidão.

Mandela procurou criar um país igualitário com políticas de equidade e, talvez por sua longa trajetória de resistência, foi capaz de oferecer melhores condições de vida a diversas partes da população.

Na análise de Anselmo Otávio, Doutor em Estudos Estratégicos Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e professor da Unifesp, Mandela adotou uma política de Estado Mínimo que consiste em garantir apenas as atividades essenciais por meio do estado. Assim, as medidas adotadas para a inserção das pessoas pretas na sociedade, não garantiam economicamente que eles conseguiriam se manter lá.

“Existem duas Áfricas do Sul no mesmo território e, quando elas são avaliadas separadamente, temos uma que o IDH se compara ao da Itália e outros países europeus e uma que apresenta uma desigualdade assustadora, ou seja, as políticas de equidade não funcionaram no cenário econômico”.

O CNA continuou no poder através dos mandatos de Thabo Mbeki (1999-2003), Robert Mugabe (2003-2009) e Jacob Zuma (2009-Atualidade). O partido foi fundado muito antes de Mandela nascer e prezava por seus ideais de revolução lutando sempre pelos seus durante quase um século. “Quando Mandela vence a eleição, ele já não é mais o jovem revolucionário, ele adota uma política diferente que não se trata no ‘nós contra eles’ e uma nova segregação com os negros no poder, ele sabia que isso nunca aconteceria e isso não agradou uma parte do partido”, analisa Anselmo. 

A partir daí, um novo partido se forma com ideais extremistas comunistas chamado de Combatentes da Liberdade Econômica (EFF, sigla em inglês). Formado por ex-membros do CNA, tem uma proposta mais similar aos ideais originais de seu partido de origem. Este tem ganhado força nos últimos anos e criando uma força que, nestas eleições, podem atrapalhar os planos do CNA. 

“O CNA vai ganhar as eleições do próximo domingo, o ponto chave é que talvez, pela primeira vez na história, eles tenham que contar com cadeiras apoiadoras e ceder em alguns pontos da agenda para garantir essa vitória. O empecilho é que o EFF não vai aceitar se unir a eles e o DA (partido de oposição) tem ideias completamente opostos,” ressalta Anselmo.

A instabilidade política do partido é causada principalmente pelo início de votação das pessoas que nasceram pós Apartheid, já em 2019. Os jovens não conseguem enxergar um cenário em que o CNA consiga criar políticas econômicas que de fato façam estes ascenderem profissionalmente. 

“A iniciativa GEAR dá acesso básico às pessoas em situação de miséria e a iniciativa BEE visa criar uma elite negra. Houve melhorias mas é necessário criar algo estrutural que se altere o funcionamento socioeconômico do país”, conclui Anselmo. 

No próximo domingo descobriremos quem ocupará as cadeiras do Congresso Nacional responsável por eleger o presidente que governará pelos próximos cinco anos e se o partido que marcou o fim do maior regime de segregação conhecido vai perder sua hegemonia e criar uma nova aliança. 

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