Transporte de animais domésticos no porão de carga de avião volta a ser discutido após mais um caso de óbito.

Por Giovanna da Silva Araújo

No último dia 22 de abril, um cachorro da raça Golden Retriever chamado Joca faleceu durante um transporte aéreo realizado pela empresa Gol, devido a um erro no destino da viagem. O transporte deveria levar o cachorro do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, para Sinop, no Mato Grosso. Lá ele seria recebido por seu tutor, mas um erro fez com que o cão fosse colocado em um voo com destino para Fortaleza, no Ceará. 

Joca foi mandado de volta para Guarulhos onde seu tutor, João Fantazzini, iria encontrá-lo. Porém, João relata que seu cachorro desembarcou já sem vida. O médico veterinário consultado previamente atestou que Joca estava apto para uma viagem de até 2 horas e meia, porém com o erro de destino, o trajeto levou quase 8 horas. 

O voo de Guarulhos à Fortaleza levou 3 horas e meia. Já no terminal aéreo da cidade cearense, o cachorro passou mais de 1 hora na pista, onde ofereceram água em uma garrafa plástica através das grades da caixa de transporte, como mostrado em vídeo que circulou nas redes sociais. No retorno para São Paulo, Joca passou mais 3 horas e meia no bagageiro do avião. João e seus familiares denunciam a irresponsabilidade e despreparo da empresa para lidar com as demandas do animal, que não teve a assistência e cuidados necessários. 

Joca em Fortaleza/CE, 22 de abril de 2024

Casos similares ao de Joca já aconteceram anteriormente, como a morte do cachorro Weiser, da raça American Bully, em 2021 em um voo da Latam Airlines. No Aeroporto de Guarulhos, Weiser ficou confinado em um canil de madeira desde as 8 da manhã até o horário de embarque, 12:30, sem acesso a água e comida e nem pôde sair para fazer necessidades. Ao chegar em Aracaju para receber o cachorro, o engenheiro civil Giuliano Conte recebeu a notícia de que seu cão havia morrido na viagem, feita no bagageiro da aeronave. 

Também em 2021, cerca de um mês antes do caso Weiser, o óbito de outro animal doméstico foi registrado na empresa Latam. Segundo a tutora Gabriela Duque Rasseli, seu cachorro que ainda era um filhote havia ficado exposto ao calor por quase duas horas após o desembarque no Aeroporto Galeão, no Rio de Janeiro. Ela também relata que seria seu primeiro encontro com o cachorro, mas quando o recebeu ele já estava quase sem vida. 

Após a suspensão do transporte de pets durante um mês em 2021 devido aos dois casos, O CEO da Latam Brasil, Jerome Cadier, explicou em nota que “o transporte de pets é um processo que está em constante observação, aprendizado e melhoria. O que concluímos agora é a primeira etapa desse projeto, com algumas medidas mais restritivas já implementadas. Também identificamos outras oportunidades após as imersões dos diálogos de escutas ativas com especialistas de todo o universo pet”. 

Em 2024, a Latam realizou novas manutenções em suas políticas de transporte, e sua assessoria afirma que “A LATAM Brasil também suspendeu a exigência de peso máximo de até 7 quilos para animais na cabine dos aviões. Agora, todos os PETs podem embarcar na cabine desde que consigam ficar em pé e se movimentar naturalmente”. 

Em todos os casos de óbito de animais em empresas aéreas no Brasil até hoje, um dos principais apontamentos dados pelos tutores e familiares é o despreparo das companhias para lidar com as necessidades do animal. João Fantazzini, tutor de Joca, relatou em suas redes sociais que “Ele (Joca) saiu bem, ele voltou morto para mim. Um descaso total lá dentro, porque ninguém falava nada. Pediram para um veterinário vir, não tinha veterinário lá, nem aqui quando ele chegou”.

A médica veterinária Luanda Ferreira explica os principais motivos para que óbitos como os de Joca e Weiser aconteçam: “O que causa a morte dos animais é principalmente a desidratação, gerada pelas altas temperaturas, várias horas de transporte sem acesso a água e alimentos, além de estarem confinados dentro de caixas com pouco espaço para ventilação. Outro ponto é o estresse gerado pelo transporte, que pode contribuir para a elevação da temperatura do pet, além de alterar a frequência cardíaca e respiratória.”

Confirmando o despreparo das companhias aéreas brasileiras para receber e transportar animais, a Dra. Luanda também defende que “o ideal seria que as companhias aéreas e os aeroportos oferecessem serviços de equipe de médicos veterinários, além de unidade hospitalar com equipamentos para atendimento de emergência como oxigênio, monitor de parâmetros, medicamentos e soroterapia. Inclusive nos aeroportos há médicos disponíveis com essas mesmas estruturas para atender pessoas”.

No último dia 8, a Câmara dos Deputados aprovou o PL (Projeto de Lei) 12/2022, apelidado de “Lei Joca”. O projeto visa regulamentar o transporte aéreo de pets, propondo que as companhias aéreas ofereçam o serviço de rastreamento e transporte dos animais dentro da cabine dos passageiros. A medida também determina a presença de médicos-veterinários em aeroportos com transporte anual superior a 600 mil passageiros. O texto agora vai ao Senado.

Além disso, ao longo do último mês, diversas pessoas, ONGs e ativistas se mobilizaram em aeroportos do Brasil, reivindicando a aplicação de medidas mais seguras e saudáveis para o transporte de animais e responsabilizar a empresa aérea pela morte de Joca. 

Manifestantes no guichê da Gol em Fortaleza em 01 maio de 2024 (Foto: Redes sociais)

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