Paralisação teve início em abril e principal reivindicação é o aumento no investimento educacional.

Por livia campesato

Docentes e funcionários administrativos das universidades federais interromperam as atividades para manifestar a intenção de um reajuste no investimento das instituições e no plano de carreira. Até o momento, foram afetadas pela greve 52 universidades, 79 institutos federais (IFs) e nos 14 campi do Colégio Pedro II.

Para os novos universitários, a situação atual está confusa. “Então, logo no começo do semestre havia rumores que já nos deixavam assustados ou desesperançosos quanto ao nosso primeiro ano de graduação”, diz a estudante de engenharia de produção da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), Julyana Rodrigues.

Sobre as aulas paralisadas, Julyana explica que há cursos totalmente suspensos e outros que ainda tem disciplinas acontecendo. “Cada professor decidiu se aderiu à greve ou não, então não foram todas as disciplinas que estão sendo paralisadas e o aluno se vê obrigado a frequentar as demais aulas e lidar com os furos nos horários”, relata a universitária.

“É frustrante se deparar com essa situação e perceber que é um processo lento, que não está recebendo a atenção que devia e que isso pode acabar prejudicando a todos nós”, fala Julyana sobre os desdobramentos.

Sobre a greve

Como foi relatado pela estudante, desde o início do ano tiveram rumores sobre a paralisação das atividades. As pautas foram apresentadas em setembro de 2023, conforme o Sindicato dos Servidores Públicos Federais da Educação Básica e Profissional do Estado de Alagoas (Sintietfal), mas desde a apresentação não houve negociações satisfatórias.

A greve foi iniciada em março de 2024 pelos técnicos administrativos das instituições federais. Os docentes vieram em sequência.

O professor de filosofia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Giovani Valerio, argumenta sobre o principal motivo da paralisação. “A questão orçamentária vai muito além do salário, que tanto para funcionários como para professores tem defasagens, mas também envolve a zeladoria”, explica Giovani.

O professor explica sobre o histórico das greves universitárias. “A greve do momento reflete reivindicações anteriores, que gira em torno do financiamento e autonomia orçamentária das universidades e, principalmente, a luta dos professores por um reajuste salarial”, disse.

As exigências do movimento giram em torno de um aumento gradual nos investimentos dos próximos anos. Sendo um reajuste de 22,71%, dividido em três parcelas iguais de 7,06% em 2024, 2025 e 2026.

Além de um “revogaço” das medidas tomadas durante o governo de Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL), tendo como foco a revogação do novo ensino médio e da portaria criada pelo Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação de Bolsonaro, que estabelece uma cota mínima de horas em sala de aula, assim limitando projetos de extensão e pesquisas.

Posicionamento do governo

Em uma tentativa de parar a greve, o governo tentou negociar várias vezes com os sindicatos, principalmente a porcentagem do aumento no investimento e quando ele seria realizado.

A primeira proposta era de aumentar 4,5% em 2025 e 4,5% em 2026, totalizando apenas 9% de aumento. Para este ano, não haveria reajuste. As organizações da greve não aceitaram.

Após a recusa, uma nova proposta foi apresentada em 19 de abril. Ela era composta por um aumento de 9% em 2025 e 3,5% em maio de 2026, totalizando 12,5% e mantendo nulo o aumento para 2024.

O final desta negociação gerou um resultado positivo para o governo que acredita ter um espaço maior para novas ofertas.

Os docentes envolvidos na greve afirmam que não houve avanço nas discussões das demandas de reestruturação em seus planos de carreira.

O ministro da Educação, Camilo Santana, em entrevista ao Bom Dia PE (09/05) declarou que o governo vai apresentar uma nova proposta de negociação para o fim da greve no próximo final de semana.

Greve nas universidades estaduais paulistas

Ainda em abril, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), publicou uma proposta de mudanças na divisão de orçamento das universidades estaduais paulistas.

Na declaração, ele propõe inserir na cota orçamentária a Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp) e as faculdades de Medicina de Marília (Famema) e a de Rio Preto (Famerp).

No momento, a Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual Paulista (Unesp) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) dividem a cota de 9,57% do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços). O orçamento é repartido em 5% para a USP, a Unesp recebe 2, 34% e a Unicamp com 2, 19%.

Em resposta, os reitores das universidades demonstraram preocupação com o posicionamento do governador.

Devido às reações negativas, Tarcísio recuou com a proposta no dia três de abril e enviou para a Alesp (Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo) uma “mensagem modificativa” sobre as propostas .

Porém, em declaração publicada na página do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (ANDES), a mensagem não altera o alerta nas universidades estaduais para outras reivindicações e possíveis ataques ao orçamento.

O estudante de ciências sociais da Unesp de Marília, João Pedro Rondina, explica que a Representação Estudantil da Unesp, os Diretórios Centrais dos Estudantes (DCE) da USP, Unicamp e FATEC juntamente com outros sindicatos, discutiram na quinta-feira (16/05) uma greve geral no estado de São Paulo e a possibilidade de participar da greve federal existente.

O universitário cita algumas das reivindicações atuais. “Corte de verbas das Universidades Federais, diminuição de bolsas e auxílios de estudo, ataques ao piso da educação e o não reajuste salarial dos servidores e docentes das universidades”, disse ele.

Segundo o aluno, a greve também aborda a luta dos estudantes por permanecer nas universidades. “Os alunos vêm lutando por melhores condições de permanência estudantil, como moradia de qualidade e restaurante universitário acessível”, fala João Pedro.

Sobre o posicionamento do governo federal, o estudante da Unesp afirma que estão tentando desmobilizar a greve já existente.

“Esperamos que nossas pautas de reivindicações sejam atendidas não só pelo governador de São Paulo, mas também pelo governo federal, que fez promessas durante as eleições de melhores investimentos e condições para a Educação, o que não foram atendidas”, finaliza o universitário.

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