“Sex and the City”, sitcom dos anos 90, retrata os desafios da vida adulta para mulheres na modernidade. Com sua chegada ao catálogo da Netflix, voltou a ser sucesso e gerar discussões entre as gerações.
Por Bianca Costa
“Sex and The City”, seriado da HBO que marcou gerações, foi transmitido de 1998 a 2004 e acompanhou a vida e os desafios de quatro amigas solteiras na cidade de Nova York. A sitcom aborda de forma inovadora os relacionamentos românticos adultos, gerando uma análise do papel da mulher na sociedade contemporânea ao tratar de questões como sexualidade, participação no mercado de trabalho e a busca pela independência feminina no início dos anos 2000.
Depois de mais de 25 anos de lançamento, a série chegou ao catálogo da Netflix em abril de 2024, dessa vez, conquistando a geração Z. Como se evidencia na frequente presença do seriado em redes sociais como Tik Tok e X, plataformas com predominância das novas gerações. Com isso, o programa gera debates, problematizações e memes, dando novo fôlego às aventuras das nova-iorquinas Carrie, Samantha, Charlotte e Miranda.
A influencer Nádia Schmidt, que também é psicanalista e comunicóloga, é conhecida por analisar no TikTok os comportamentos das personagens de “Sex and the City” e relacionar com a realidade.
Em entrevista, Nádia afirma que a série continua gerando identificação nas novas gerações por abordar temas comuns na vida das mulheres adultas de forma progressista para o período da produção, como ao discutir a dinâmica das relações modernas e os estereótipos femininos presentes durante séculos na sociedade.
Além disso, a psicanalista acrescenta que o programa da HBO traz “diversos ensinamentos para a nova geração, uma vez que reforça a importância da criação de laços de amizade durante a vida adulta, de escolher boas relações para si e questionar o papel da mulher na sociedade, visando a mulher além de toda a pressão estética e social imposta ao sexo feminino”.
Ainda sobre os efeitos de SATC (Sex and the City) na geração Z, Elisa Scianni, estudante de 19 anos, destaca que assistiu ao conteúdo em 2024 pela primeira vez, após observar a repercussão de cenas e reflexões sobre o programa nas redes sociais. Ela também conta que a série lhe interessou devido à aproximação das situações representadas com experiências pessoais, pela forma que o seriado explora a dinâmica das relações modernas, palpável pelo público que vivencia os desafios da fase adulta. Uma vez que as mulheres das novas gerações continuam lidando com os mesmos desafios e estereótipos, como o tabu sexual, preconceito, luta por igualdade no ambiente de trabalho e liberdade financeira.
Apesar de ser considerada um conteúdo avançado e empoderador, o programa vem sendo foco de discussões nas redes sociais por conta das falas problemáticas e preconceituosas que aparecem durante as seis temporadas da série. Levando em consideração o período e o contexto da produção, o debate tem repercutido entre as gerações.
No momento em que uma nova geração “redescobre” um produto de outra época, a diferença de tratamento de temas delicados causa choque, por exemplo, quando a série Friends foi colocada no catálogo da Netflix e gerou os mesmos dilemas entre as gerações. Ao analisar uma produção que não oferece inclusão, como SATC, que retrata quatro mulheres brancas, cisgênero, de alto poder aquisitivo e com visões limitadas sobre grupos marginalizados, torna-se ainda mais evidente a necessidade de debate sobre essas questões, para que falas que perpetuam preconceitos como bifobia, estereótipos LGBTQIAPN+, além de diversas cenas em que Samantha é julgada pelas amigas por sua liberdade sexual sejam problematizadas pelo espectador.
Sobre os preconceitos perceptíveis em diversas cenas da obra audiovisual, Isis Rangel, jornalista, pertencente à geração millennial, pontua que o fato de o programa retratar diversas vezes as quatro mulheres conversando abertamente sobre sexo, relacionamentos e trabalho ainda é algo revolucionário. “Foi um programa pioneiro na história da TV estadunidense, servindo como inspiração para muitos outros produtos”, diz.
A jornalista afirma que não é possível apagar um sucesso absurdo de público e criticar 25 anos depois. Ela adiciona que críticas são sempre bem-vindas e que é de suma importância o debate sobre produtos de anos atrás com o conhecimento do contemporâneo. Segundo Isis, “Arte é produzir discussões e reflexões diferentes em cada pessoa, em cada nicho, em cada geração.”
A obra dos anos 90 não reflete o contexto dos dias atuais, pois propaga ideias ultrapassadas que ferem grupos marginalizados, mas ainda assim, é possível analisar suas falhas e usar a série como um lembrete nostálgico de quanto a sociedade já avançou desde o início dos anos 2000.
“And Just Like That”, série revival de “Sex and the City”, lançada em 2021, retrata a vida das personagens conforme os anos se passaram. A continuação busca corrigir muitos dos erros da primeira versão ao trazer outra mentalidade, mais próxima do respeito e da inclusão de um público mais diverso.

