A campanha, celebrada todo mês de maio desde o ano de 2014, visa conscientizar e trazer reflexões sobre a segurança no trânsito.
Por Pedro Perobelli
Tudo começou em 2009 com um levantamento da OMS (Organização Mundial da Saúde) apontando a ocorrência de 1,3 milhão de mortes e mais de 50 milhões de sobreviventes com sequelas provocados por acidentes de trânsito. No ano seguinte, em 2010, a Assembleia Geral das Nações Unidas elaborou um documento que tinha como intuito promover medidas que pudessem combater o alarmante número de mortes no trânsito, que não parava de crescer.
A ONU então definiu que o período de 2011 a 2020 seria tratado como a Década de Ação pela Segurança no Trânsito. Surgiu assim o movimento do Maio Amarelo, que uniu governo, cidadãos e empresas e foi instituído em 2014. A cor escolhida faz referência ao amarelo dos semáforos, que simboliza “atenção”, assim como o símbolo do laço que representa o cuidado com a vida, da mesma forma que a campanha do Setembro Amarelo.
É inegável que o Brasil enfrenta sérios problemas no que diz respeito à segurança no trânsito, sendo considerado o 3° país com o maior número de óbitos neste cenário, apenas atrás de Índia e China (que possuem um número de habitantes extremamente maior). O número de mortos nas ruas e rodovias ao redor do mundo foi de 1,19 milhões em 2023.
O último levantamento completo no Brasil, realizado em 2022 pelo Ministério da Saúde, indica uma média de 92,6 mortes por dia, um total de 33.894 no ano em questão. Acredita-se ter havido um tímido declínio no número de fatalidades no ano de 2023, que ainda deve se manter acima de 30 mil, que é aproximadamente a média anual brasileira nos últimos anos. De acordo com a OMS, o trânsito é a principal causa de morte entre os jovens de 14 a 29 anos ao redor do globo.
As principais causas destes números alarmantes são a imprudência, o desrespeito às leis de trânsito, a desatenção gerada pelo uso de celulares, o consumo de bebidas alcoólicas e a má utilização de capacetes, cintos e outros aparatos que trazem maior segurança para os veículos, além da enorme pressa presente na sociedade atual, ocasionando maior volume de automóveis sendo conduzidos em velocidades acima do permitido.
Os dados apresentados demonstram que o Maio Amarelo é um movimento de imprescindível importância e que, por vezes, recebe menos atenção do que deveria. A presença de comerciais de TV, outdoors e painéis de mensagem nas rodovias não transmite toda a relevância que a campanha de fato possui.
Em entrevista ao Jornal Contexto, o professor, escritor, palestrante e especialista em segurança e comportamento humano no trânsito e no trabalho, Rodrigo Ramalho, falou sobre a importância e divulgação da campanha.
“Hoje, 10 anos após sua criação, o Maio Amarelo teve grandes avanços e é sim bem divulgado, conseguindo adesão da sociedade civil e dos órgãos de trânsito em nível municipal, estadual e federal. Porém, sem dúvidas, julgando pela sua enorme importância social, a ação merece maior engajamento, visibilidade e penetração nas mídias para impulsionar seus efeitos.”

Maio Amarelo em 2024
A campanha deste ano traz consigo o lema “A paz no trânsito começa por você”, mas sabemos que não é fácil falar de paz na atualidade, os dias passam rápido, há muito estresse acumulado, as rotinas das pessoas são desgastantes e os efeitos gerados por estes fatores aparecem fortemente no trânsito. Entretanto, é necessário ter tranquilidade e serenidade durante a condução, para que as vidas de todos no volante, nos bancos de passageiros e nas ruas possam ser preservadas.
Entrevistada pelo Contexto, a ex-piloto de motovelocidade, escritora e palestrante internacional sobre pilotagem defensiva e segurança no trânsito, Márcia Reis, descreve a relevância do lema atual. Segundo ela, o tema é “muito sugestivo e verdadeiro, pois a única maneira que vejo de termos um trânsito menos violento é através da conscientização, de que se cada um fizer a sua parte poderemos sair de casa tranquilos e com a certeza de que retornaremos ao final do dia em segurança.”
Por fim, até hoje, o Maio Amarelo realmente desempenhou um papel relevante na segurança do trânsito? O professor Ramalho acredita que “é difícil mensurar de forma quantitativa o quanto a campanha influencia no número de acidentes, mas é possível notar de forma qualitativa que as pessoas entendem a mensagem e que isso tem um efeito de longo prazo. Mesmo que ainda não seja suficiente para mudar toda a sociedade, temos certeza que a conscientização cresceu nestes últimos 10 anos.”
Ele completa dizendo que “no Brasil, existe uma certa banalização do ato de dirigir, mas não é uma ação como qualquer outra, dirigir requer atenção e responsabilidade. Dirigir não é apenas ir de um ponto ao outro, é o transporte de vidas, tanto a sua própria, quanto a daqueles que ama. O Maio Amarelo traz essa reflexão tão importante sobre o ato de dirigir e seu verdadeiro significado, que deve ser renovada não somente em Maio, mas em todos os meses e dias do ano.”
Márcia também expõe sua visão sobre os resultados do Maio Amarelo, a palestrante, que realiza um importante trabalho educativo sobre pilotagem consciente e direção defensiva. Ela explica que “após a criação do movimento, iniciamos timidamente um trabalho que busca mostrar a importância do uso de equipamentos de proteção para motociclistas (Pilote Equipado & Consciente), este trabalho foi sendo ampliado e transformado, desde então tenho o privilégio de contribuir e colaborar com a melhoria da segurança no trânsito, mesmo que seja com este trabalho ‘formiguinha’, e temos conseguido resultados satisfatórios com o passar dos anos.”
