Turismo em excesso no Japão força prefeituras a tomarem medidas que isolam certas áreas das cidades

Por: Isabela Miyuki Oshiro


Com a volta dos turistas nas cidades do Japão, após a pandemia de Covid-19, muitos dos moradores estão insatisfeitos com o alto fluxo de pessoas em suas vizinhanças, por causa do desrespeito com os espaços públicos. Por isso, as prefeituras estão implementando medidas que restringem o acesso de turistas a certas áreas.

De acordo com a Organização Nacional do Turismo do Japão, 25 milhões de pessoas visitaram o país em 2023, quase oito vezes mais turistas do que no ano anterior. O governo fica satisfeito com a volta do turismo por causa de seu valor para a economia nacional, mas os moradores de cidades turísticas não estão nada felizes. De acordo com o jornal The Guardian, isso ocorre pois muitos turistas estão desrespeitando os espaços públicos e privados, o que fez com que os moradores fossem pedir para suas prefeituras tomarem as providências necessárias.

Nesse sentido, pode ser um choque cultural o modo como os japoneses respeitam à risca suas cidades, principalmente na questão de limpeza: não se veem lixeiras públicas pelas ruas, mas nem por isso existe sujeira jogada no chão, pois cada pessoa cuida de seu lixo e o descarta na sua casa. Outro aspecto marcante é a obediência com as leis de trânsito, os pedestres respeitam os sinais e as faixas e nunca atravessam a rua em hora e local errado.

Assim, o governo de Kyoto está proibindo o acesso de turistas em certas ruas do bairro de Gion, famoso pelas casas de chá frequentadas pelas gueixas (profissionais que aprendem, desde jovens, as artes tradicionais como dança e a Cerimônia do Chá). Os moradores do bairro declaram que alguns turistas não respeitam a privacidade das gueixas e de propriedades particulares, tirando fotos sem permissão e até estragando kimonos por contato indevido. A proibição ocorre após inúmeras tentativas de controle da situação com placas de avisos e multas de até ¥10,000.

Gion, em Kyoto

Além disso, Kawaguchiko, cidade no centro de Honshu, também implementa medidas para conter os danos pelo excesso de estrangeiros. A cidade fica próxima ao famoso Monte Fuji, por isso, atrai muitos turistas interessados em fotografia, visto que a montanha pode ser observada de vários pontos da vizinhança. Um local específico que ficou famoso pelas suas fotos “perfeitas para as redes sociais” foi a loja de conveniência Lawson local, pois o Monte Fuji aparece ao fundo do comércio que só tem unidades no Japão, oferecendo uma foto típica para os viajantes.

Monte Fuji

Entretanto, o maior fluxo de turistas traz prejuízos para o comércio local, causando aglomerações, desrespeitando as leis de trânsito e deixando lixo pelas ruas. Ocorreram até casos de pessoas que subiram no telhado da clínica odontológica, vizinha da Lawson, para fotografar a montanha. Desse modo, a prefeitura decidiu construir uma barreira de malha preta, atrás da loja, para bloquear a vista e diminuir o número de turistas. A barreira terá 2,5 metros de altura e 20 metros de comprimento e está prevista para ser finalizada até o fim de maio. A cidade declarou que a construção da barreira é “lamentável e o último recurso”.

O aumento do turismo é uma notícia boa para a economia do país, mas quando turistas causam danos como os citados acima, os governos são obrigados a tomarem medidas restritivas. Apesar de criticadas, tais medidas são necessárias para a proteção de certos valores culturais e dos próprios moradores. E não são exclusivas do país asiático, outros locais também estudam como combater o excesso de turistas, como Veneza e as Ilhas Canárias, que implementaram taxas para visitantes que pretendem passar o dia na cidade e pedem um congelamento temporário da entrada de estrangeiros, respectivamente.