Leia a seguir entrevista exclusiva com escritor Santiago Nazarian
Por Guilherme Corte
Jornal Contexto: Como você decidiu/descobriu que queria ser escritor?
Santiago Nazarian: Eu cresci numa família de leitores, minha mãe sempre trabalhou com livro, eu sempre tive livros em casa, então foi uma escolha bem natural. Mas acho que o principal motivo de transformar isso numa profissão e num meio de expressão foi pela individualidade, por poder trabalhar sozinho, fazer do meu jeito, sem consenso.
Jornal Contexto: Você é de origem armênia e escreveu o livro “Fé no Inferno”. Alguma situação do livro foi baseada em uma experiência pessoal?
Santiago Nazarian: A casa do livro, principalmente, na Avenida Europa, é total baseada na casa dos meus avós, o relacionamento com as empregadas… Mas a base principal do livro foi toda a pesquisa que fiz, as leituras de memórias de sobreviventes do genocídio. O livro é basicamente um pastiche das memórias dos sobreviventes do genocídio armênio.
Jornal Contexto: Você já escreveu livros de terror/suspense (Neve Negra e Biofobia), mas também é o autor de várias outras obras, sendo uma delas toda em diálogos. O que te leva a transitar entre esses gêneros e formatos literários?
Santiago Nazarian: Eu procuro desafios, coisas que não fiz ainda, temas que não tratei, formatos… atingir outros públicos, tentar conquistar outras coisas na carreira. Isso é que me motiva a sempre buscar algo diferente, mas sempre dentro do meu universo, do meu projeto literário, que eu chamo de existencialismo bizarro, que é essa mescla do literário com o pop, com o terror, o sombrio.

Jornal Contexto: Dentre todos os livros que você já escreveu, qual é o seu favorito? E, sem considerar as suas obras, qual é o seu livro favorito?
Santiago Nazarian: Meu favorito é sempre o mais atual, o que estou escrevendo agora. O livro que me fez querer ser escritor foi “O Retrato de Dorian Gray”, do Oscar Wilde.
Jornal Contexto: O fato do Brasil não valorizar muito seus artistas é um fator que já te atrapalhou de alguma forma em sua carreira?
Santiago Nazarian: Com certeza. Eu sou um autor “alternativo”, não vendo horrores, não sou favorito nos prêmios, e a gente já tem um mercado literário tão restrito, que se você não estiver no primeiro time, na primeira divisão, fica difícil de SOBREVIVER, tanto como escritor, continuar publicando, quanto como ser humano mesmo, pagar as contas. E não estou nem falando de venda de livros. Estou falando de todos os trabalhos que derivam de uma carreira bem sucedida como escritor (coluna em jornal, venda de direitos para audiovisual e exterior, convites para palestras, debates).
Jornal Contexto: Você acompanha a nova geração de escritores brasileiros? Se sim, tem algum autor (a) que você indica para os amantes de livros?
Santiago Nazarian: Os autores que mais me impressionaram nos últimos tempos foram o Alessandro Thomé, que tem um livro belíssimo de uma mulher à deriva num barco no mar. O Mike Sullivan trata do universo gay com um lirismo e uma melancolia que eu adoro. E recentemente li um senhor chamado Francisco Leite Duarte Brasil que retrata o universo do sertão da paraíba de forma fascinante, com seus pássaros, seus cenários…
Jornal Contexto: Você acredita que a internet e os “bookstans”, fãs de livros que opinam sobre obras e indicam autores na internet, são fatores decisivos para o sucesso de escritores brasileiros atualmente?
Santiago Nazarian: Acho que depende do tipo de livro. Se é um livro para um público mais jovem, com certeza. Se é um livro para o meio literário, para leitores mais experientes, para concorrer a prêmios, o circuito ainda é tradicional, conservador, baseado no boca-boca, nas publicações especializadas e nos livreiros sobreviventes.
